Turismo amplia demanda por teleféricos com retomada pós-pandemia

Ano eleitoral também contribui para movimentar o mercado, pois prefeitos enxergam apelo com a população, segundo a consultoria Elevei

Teleférico do Alemão teve obras de revitalização iniciadas na última sexta-feira (18)
24 de Março, 2022 | 07:33 PM

São Paulo — A demanda por projetos de instalação de teleféricos está em alta no Brasil desde o segundo semestre do ano passado, após a retirada gradual das restrições à mobilidade impostas pela pandemia da covid e a retomada das atividades turísticas, segundo a consultoria paulista Elevei, especializada nesse nicho de mercado. Atualmente, a estimativa é de que o país tenha cerca de 50 máquinas em empreendimentos turísticos, que tem um potencial de multiplicar esse número para 200, diz Helder Paiva, dono da Elevei.

“Temos uma frase no setor que diz: todo prefeito que instala um teleférico é reeleito. A máquina não muda só a paisagem de uma cidade, mas melhora o movimento de turistas, com impacto em toda a economia”, afirma.

PUBLICIDADE

Veja mais: Brasil vai importar roda-gigante panorâmica da China

Atualmente, ele participa de quatro projetos no estado de São Paulo, que ainda estão na fase de estudos. Guarulhos, Mairiporã, Itapecerica da Serra e São Roque são municípios paulistas que podem ganhar teleféricos, segundo a Elevei.

Teleférico de Atibaia, cidade famosa por sua produção de morangos, é uma das atrações turísticas da região. Já se cogitou no município construir um segundo teleférico, que levaria os visitantes até o  Monumento Natural Estadual da Pedra Grande

O estado já conta com máquinas em cidades como Atibaia, Campos do Jordão, Aparecida do Norte, Serra Negra, São Vicente, Presidente Prudente, Pedreira, São José do Rio Preto (“vai ser reformado”, diz Paiva), Cotia (“começou a montar”), Itu e São Bernardo do Campo (“tem dois”).

PUBLICIDADE

O maior projeto em andamento, segundo a Elevei, é de Juazeiro do Norte, no sul do Ceará, onde fica a estátua de Padre Cícero, meca do turismo religioso no Nordeste. “Houve uma concorrência internacional. O projeto é de R$ 75 milhões”, conta Paiva.

Veja mais: Vem aí uma nova safra de estátuas no Brasil

O governo do Ceará informou que o teleférico de Juazeiro, instalado na colina onde fica a estátua, terá 26 cabines climatizadas, com capacidade para oito passageiros, em um percurso de 2 km, a uma altura de 200 metros.

PUBLICIDADE

No mundo, a maior fabricante de teleféricos é o grupo Doppelmayr/Garaventa (que integra o consórcio construtor do teleférico de Juazeiro do Norte), fruto de uma fusão da austríaca Doppelmayr e a suíça Garaventa. Há ainda o grupo formado pela francesa Poma e a italiana Leitner, e a suíça Rowena. No Brasil, uma das principais fabricantes nacionais é a Metalumínio Teleférico, em Varginha (MG). “A China e a Rússia também possuem fabricantes de teleféricos”, acrescentou o especialista.

No Parque Unipraias, em Balneário Camboriú (SC), há 47 bondinhos aéreos interligando três estações entre o lado sul da orla, subindo até o Morro da Aguada e descendo até a praia de Laranjeiras, sendo o único do mundo a ligar duas praias

Licença ambiental

A cidade do Rio de Janeiro é a campeã em teleféricos no Brasil, segundo a Elevei. Além do tradicional bondinho do Pão de Açúcar, há as máquinas nos morros do Vidigal e Alemão. “A cidade de São Paulo também poderia ter teleféricos em locais como o Pico do Jaraguá, no Parque do Ibirapuera, no Horto Florestal”, sugere Paiva.

Um dos teleféricos mais famosos do estado de São Paulo fica no Parque Capivari, em Campos do Jordão, a 170 km da capital. Concedido à iniciativa privada em 2019, o parque conta com várias atrações novas, como a roda-gigante, o trenzinho, pedalinhos e o teleférico que leva ao Morro do Elefante.

PUBLICIDADE

O empresário diz que um projeto de teleférico leva cerca de dois anos. “Para conseguir a licença ambiental, espera-se um ano. Mais um ano para as obras civis, a instalação das torres e dos equipamentos”, detalha.

O dono da Elevei conta que alguns empreendedores brasileiros acham demorado o tempo para obter o retorno do investimento em teleféricos. “A média de retorno é de 8 a 12 anos, mas os investidores acham muito tempo para esperar”.

Teleférico de Juazeiro do Norte, na região do Cariri, no sul do Ceará,  prevê a instalação das 26 cabines, chegadas da Áustria

Manutenção

Como envolve a segurança dos usuários, o teleférico exige manutenção devido ao risco de acidente. Em maio de 2021, por exemplo, um teleférico caiu e deixou 14 mortos na Itália, perto do pico do Monte Marone, na região do Lago Maggiore, famoso ponto turístico no noroeste italiana.

Na última sexta-feira (18), o governo do Rio de Janeiro iniciou as obras de recuperação do teleférico do Complexo do Alemão, inaugurado em 2011, que tem um percurso de 3,5 km e 52 gôndolas, na zona norte da capital fluminense. As obras devem ser concluídas até o fim do ano, segundo o governo.

Já Londrina, cidade do interior do Paraná, descartou um projeto de instalar um teleférico, após um estudo constatar inviabilidade econômica para sustentar o investimento. A Doppelmayr tinha feito os estudos, informou o jornal “Folha de Londrina”, na última sexta.

Em Santa Catarina, o equipamento é um dos destaques da cidade de Balneário Camboriú, onde bondinhos ligam duas praias com vista da Mata Atlântica e do mar. A Leitner/Poma fez o teleférico de Balneário Camboriú, na década de 90, e também esteve envolvida em projetos nas cidades gaúchas de Torres, Bento Gonçalves, Gramado, além de Sorocaba (SP) e Antonina (PR).

Leia também

Como os influenciadores ganham dinheiro no TikTok?

Rock in Rio abre pré-venda; veja outros festivais de música no Brasil em 2022

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.