BRF: Disputa por poder no conselho esquenta com demanda da Previ

Previ dá sinais de que não pretende abrir mão de seu assento no conselho de administração da dona das marcas Sadia e Perdigão

Estratégia de renovar o conselho da BRF fica em xeque com medida da Previ
24 de Março, 2022 | 04:50 PM

Bloomberg Línea — Mais um round começou na disputa pelo poder na BRF (BRFS3). A Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil (BBAS3), que detém 6,13% das ações da BRF, enviou uma correspondência à empresa solicitando que a votação dos novos membros do conselho de administração da companhia, marcada para o próximo dia 28 de março, ocorra pelo sistema de voto múltiplo.

O sistema está previsto na legislação e regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desde 1991. Mas o que isso significa?

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No mês passado, a Marfrig (MRFG3), detentora de 33,25% das ações da BRF apresentou seus nomes para concorrer na eleição. A chapa encabeçada por Marcos Molina, fundador e presidente do conselho da Marfrig, traz oito novos nomes e mantém apenas dois dos atuais membros do conselho da BRF - Augusto Marques da Cruz Filho, ex-GPA, e Flávia Maria Bittencourt, presidente da Adidas - provocando uma renovação de 80% no colegiado. Nessa composição, não apenas a Previ, mas também a Petros, o fundo de pensão da Petrobras (PETR4), perderiam a chance de aumentar sua representatividade no conselho da BRF.

Pelo sistema de voto múltiplo, cada ação passa a ter direito não mais a um único voto em si em uma chama, mas sim, ao total de vagas disponíveis no conselho. Na prática, ao invés de o acionista concentrar todos os votos a que tem direito em uma única chapa, ele passa a ter a possibilidade de distribuir seus votos entre vários candidatos e, no caso dos minoritários, concentrar seus votos em um único nome. Ou seja, o peso acionário de cada acionista é que define um novo conselheiro. Para eleger o seu indicado, o acionista precisa controlar pelo menos 5% das ações.

Na última eleição, quando Previ e Petros ainda estavam em disputa por poder com o empresário Abilio Diniz, ambos apoiaram o pedido de voto múltiplo solicitado pelo fundo da Aberdeen. Contudo, naquela ocasião, o pedido de voto múltiplo foi apenas uma ameaça e acabou sendo retirado pelo Aberdeen um dia antes da votação.

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Na época, Previ e Petros conseguiram emplacar três indicações ao conselho. Augusto Cruz, atual vice-presidente e que será mantido pela Marfrig em sua chapa, Francisco Petros, que deixou o conselho da BRF em maio de 2020 e Walter Malieni, ex-vice presidente do Banco do Brasil, que faleceu em agosto de 2020.

Assim, considerando que Augusto Cruz já está na chapa indicada pela Marfrig, a expectativa é que os fundos consigam eleger pelo menos mais dois nomes no próximo colegiado que ditará os rumos da BRF, considerando as participações que cada um ainda mantém na empresa. Com 6,13% e 5,26%, Previ e Petros, respectivamente, teriam força o suficiente para eleger seus indicados em um voto múltiplo. Resta saber se o pedido será mantido ou se, assim como fez o Aberdeen no passado, será apenas uma tentativa de tentar abrir negociação com a Marfrig para ter mais espaço no conselho.

Mesmo que não consiga eleger nenhum representante adicional, uma outra leitura feita pelo mercado é que a medida funcionaria como uma espécie de proteção. O pedido de voto múltiplo de hoje seria uma resposta a ser dada futuramente para eventuais questionamentos que possam surgir. Para uma fonte ligada ao caso que preferiu não se identificar porque o assunto não é público, seria uma forma honrosa de dizer que tentou até o fim manter a posição, mas que saiu derrotada.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.