São Paulo — O consórcio formado pela Construcap, administradora do paulistano Parque Ibirapuera, e pelo Grupo Cataratas, venceu nesta terça-feira (22) o leilão de concessão dos serviços de visitação no Parque Nacional do Iguaçu, que fica no Paraná na fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai. O valor da outorga ficou em R$ 375 milhões, superando a oferta do consórcio Reserva Iguaçu (R$ 370 milhões). O certame, que teve disputa de lances em viva-voz, foi realizado na sede da B3, em São Paulo. O Grupo Cataratas é o atual gestor do parque das Cataratas do Iguaçu, primeira unidade de conservação do Brasil a ser instituída como Sítio do Patrimônio Mundial Natural pela Unesco, em 1986.
A proposta vencedora representa um ágio de 349,45% em relação ao valor de referência do edital (R$ 83,434 milhões). O contrato de concessão dos serviços turísticos do parque, um dos cartões-postais do Brasil mais reconhecidos no exterior, tem prazo de 30 anos.
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A Construcap, comandando por Roberto Capobianco, já tem experiência na gestão de parques. Em 2019, a empresa venceu o edital da Prefeitura de São Paulo assumindo o controle administrativo do Parque do Ibirapuera, cartão-postal da capital paulista, por 35 anos. Essa gestão é feita pela Urbia Gestão de Parques, sociedade de propósito específico da construtora.
Já o Grupo Cataratas atua no parque como atual gestor e tem um projeto de construção de um aquário na entrada do Parque Nacional, com o AquaFoz, um investimento de R$ 100 milhões, previsto para 2023. A companhia também é responsável pelo AquaRio (Aquário Marinho do Rio), considerado um dos maiores aquários marinhos da América Latina, no Rio de Janeiro. O fundo de investimentos Advent é acionista do grupo, que também administra o BioParque, no Rio de Janeiro.
O consórcio Novo PNI (Construcap CCPS Engenharia e Comércio S.A. e Cataratas do Iguaçu S.A. ) foi representado no leilão pela corretora Nova Futura, enquanto o consórcio Reserva Iguaçu participou por meio da corretora Commcor.
O consórcio Reserva Iguaçu foi liderado pela LivePark Entretenimento e Participações, do CEO Rogério Dezembro, empresa que integra o grupo DC Set, dos empresários Dodi Sirena e Cicão Chies, responsável pela gestão do Zoológico de São Paulo e o Parque das Pedreiras, no Paraná. O consórcio incluiu ainda as empresas Oceanic Atrativos Turísticos, Tirita Participações, EBS Construção Civil e Pavimentação, Era Técnica Engenharia, Construções e Serviços, Egypt Engenharia e Participações e a Trajeto Construções e Serviços.
O edital da concessão do Parque Nacional do Iguaçu tem investimentos previstos de R$ 500 milhões em melhorias ao público, conservação da biodiversidade e desenvolvimento das cidades do entorno, o que inclui a requalificação completa da trilha das Cataratas e a criação de novos polos de visitação.
Criado em 1939, o Parque Nacional do Iguaçu, com área de quase 200 mil hectares, é a maior reserva remanescente de Mata Atlântica da região. A principal atração turística do Parque são as Cataratas do Iguaçu, eleita uma das Sete Maravilhas da Natureza em 2011.
São 19 saltos principais, cinco deles do lado brasileiro (Floriano, Deodoro e Benjamin Constant, Santa Maria e União) e os demais no lado argentino. A disposição dos saltos, com a maior parte deles no lado argentino e voltados para o Brasil, proporciona a melhor vista para quem observa o cenário a partir do Brasil.
Novos polos
Presente no leilão, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse que a concessão do parque vai impulsionar a geração de “emprego verde” na região, criando três novos polos de visitação no Parque Nacional do Iguaçu. Ele disse que outros municípios, além de Foz do Iguaçu, vão se beneficiar com a integração dessas áreas, ainda pouco conhecidas pelos visitates, que só conhecem o polo das Cataratas.
“Os governos anteriores não aceitavam a participação do privado no parque”, lembrou o ministro, acrescentando que os investimentos exigidos do consórcio vencedor vão ampliar a capacidade a do parque de receber visitantes.
Além do polo das Cataratas, o Iguaçu será dividido em polos do Rio Azul, Silva Jardim, Ilhas do Iguaçu e G. Dias. “É um Iguaçu que ninguém conhece’”, destacou Leite.
Segundo o ministro, o pipeline do governo federal tem outros 14 parques e florestas que podem ser concedidos para a iniciativa privada, como os parques nacionais de Brasília (DF), da Serra dos Órgãos (RJ), da Serra da Bocaina (São Paulo), de Anavilhanas (AM), do Jaú (AM), da Serra da Canastra (MG), da Serra do Cipó (MG), de Caparaó (MG), além das florestas nacionais de Ipanema (São Paulo) e de Brasília (DF).
Já Roberto Capobianco, que comanda a Construcap, considerou o leilão bem-sucedido. “Foi um sucesso para as empresas”, disse.
Pablo Morbis, CEO do Grupo Cataratas, comentou a ambição do consórcio. “Para nós do Grupo Cataratas é uma grande alegria, depois de 20 anos estando no parque, conseguir tocar este novo projeto. Dessa vez, vocês podem ter certeza, muito mais fortes com essa parceria de dois grandes players, que é o Grupo Cataratas e a Construcap. O Parque do Iguaçu será um parque referência para o mundo”, afirmou.
Edital
Em dezembro do ano passado, o Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Áreas Protegidas e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autorizou a publicação do Edital da Concessão do Parque Nacional do Iguaçu.
O projeto de concessão do Parque Nacional de Iguaçu prevê investimentos de R$ 500 milhões em novas infraestruturas e outros R$ 3 bilhões na operação do parque durante o período da concessão.
Pelo projeto, o concessionário não poderá cobrar pelo ingresso valor além do estabelecido em contrato. Além disso, será possível estabelecer pacotes especiais para visitas de mais de um dia – o objetivo é incentivar a permanência do turista.
Moradores dos 13 municípios do entorno do parque terão desconto no ingresso e pagarão 20% do valor máximo previsto.
Atualmente, o preço do ingresso do parque cobrado de brasileiros é de R$ 63 para pessoas acima dos 12 anos, contando-se com a taxa para conservação e transporte. Para visitantes de países do Mercosul, esse mesmo ingresso é vendido a R$ 85 e para visitantes dos demais países, R$ 107. No primeiro ano de concessão, o preço máximo poderá atingir R$ 80 e sofrer novos reajustes anuais até alcançar R$ 120 no quinto ano do contrato.
Foram também atendidas demandas das comunidades durante as fases de consulta e audiência pública. Entre elas, o aumento no valor que o concessionário deve investir em projetos socioambientais (de 5% para 6% da receita total).
Marco
O projeto de concessão foi realizado pelo BNDES em parceria com o consórcio de consultores BF Capital, Natureza Urbana e Azevedo-Sette Advogados.
“Este leilão é a evolução de um modelo acertado que se desenvolveu em uma importante região do país por 20 anos e a gênese de um promissor setor de nossa economia: o setor de parques e florstas. Quase um milhão de empregos fora dos centros urbanos poderão ser gerados no Brasil com o desenvolvimento do setor. O leilão das Cataratas é um marco que vai transformar este setor no Brasil”, comentou o presidente do BNDES, Gustavo Montezano.
“Este é o primeiro projeto de concessão de ativo ambiental a ser entregue pela Fábrica de Projetos do BNDES, de uma carteira de cerca de 60 ativos. E não poderíamos começar melhor, com a requalificação do primeiro contrato de concessão de unidade de conservação do Brasil, um símbolo do país e Patrimônio Natural da Humanidade”, comentou Fábio Abrahão, diretor de Concessões e Privatizações do BNDES.
Em seu discurso, o presidente do ICMBio, Marcos Simanovic, parabenizou a equipe que participou da construção do edital. “Foi um edital participativo que considerou as inovações tecnológicas e sustentabilidade, representando o perfil de um ICMBio que pensa na economia verde, empreendedorismo e na tecnologia”, declarou.
(Atualiza às 18h com detalhes sobre o edital , falas do ministro, dos CEOs e do presidente do BNDES)
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