Como o segmento cripto facilita chegada de ucranianos em Portugal

A nação que hoje sofre a invasão de tropas russas havia se tornado um polo de criptomoedas, como acontece com Portugal

Guias de informações de bolso sobre Bitcoin no Lisbon Web Summit em Lisboa, Portugal (Daniel Rodrigues/Bloomberg)
Por Henrique Almeida e Olga Kharif
21 de Março, 2022 | 12:44 PM

Bloomberg — Maria Yarotska cruzou a Europa em um Fiat, dirigindo por seis dias para levar a mãe, a filha e o cachorro delas para longe da guerra na Ucrânia. A viagem terminou em Lisboa. Mas diferentemente dos milhares de refugiados que percorreram os 4 mil quilômetros até ao país mais ocidental da Europa continental, ela conseguirá manter seu emprego.

Ela trabalha para uma empresa de blockchain chamada NEAR, que tem um ucraniano entre os fundadores. A NEAR está se expandindo em Portugal e se tornou um esteio para quem foge da guerra.

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“Tenho muitos colegas aqui”, disse Yarotska, que foi abrigada em um alojamento temporário na capital portuguesa. “Eles vão me ajudar a legalizar meus documentos para que eu possa ficar.”

Assim como outros países europeus, Portugal também absorve um grande número de refugiados da Ucrânia. A nação que hoje sofre a invasão de tropas russas havia se tornado um polo de criptomoedas. Os ucranianos que trabalham nesse meio provavelmente terão mais facilidade para recomeçar a vida em Portugal do que em outros locais.

Um dos motivos é que Portugal também vem se tornando referência no meio cripto, com zero imposto sobre ganhos gerados com moedas digitais. E além do custo de vida acessível e clima ameno, o país já tem uma comunidade ucraniana arraigada.

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Antes da invasão da Rússia, os ucranianos formavam o quinto maior grupo de estrangeiros em Portugal. Nas últimas três semanas, chegaram mais 13.000 após o governo aprovar medidas para acelerar e simplificar o processo de entrada de quem foge da guerra. Este é praticamente o número total de refugiados que chegaram a Portugal desde 2015, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Assim, o contingente de cidadãos ucranianos em Portugal saltou de 27.200 em 2021 para aproximadamente 40.000. Os ucranianos então se tornaram a terceira maior colônia estrangeira, atrás dos brasileiros e britânicos.

Em Lisboa, centenas de refugiados foram alojados em um complexo esportivo. As autoridades municipais aprovaram um plano para ajudá-los a encontrar moradia, emprego, escola e assistência médica, segundo o prefeito Carlos Moedas.

Valentin Sotov trabalhava em um jogo no metaverso com base em criptografia chamado Amber. No final de fevereiro, ele fugiu de carro de Mukachevo, cidade no oeste da Ucrânia, com apenas uma mochila e um laptop. O programador de software já se prepara para dividir um escritório com dois colegas que fizeram com ele a viagem até Lisboa.

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Valentin Sotov (Divulgação/Valentin Sotov)

O número de residentes estrangeiros em Portugal aumentou 40% na última década para 555.299 pessoas, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística.

O idioma e os obstáculos do cotidiano em um lugar desconhecido podem fazer com que muitos refugiados demorem para se sentir em casa. De sua parte, Yarotska está fazendo progresso. Ela já encontrou um lugar para morar e a filha de nove anos começou a frequentar a escola.

“Acho que dá para dizer que estou bem”, disse ela. “Minha filha teve o segundo dia de aula e adorou e eu finalmente achei um apartamento, vamos nos mudar na segunda-feira.”

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