Bloomberg Línea — O uso de garrafas retornáveis de refrigerantes é um fenômeno comum em países da América Latina, onde as pessoas, por questões de acessibilidade, preferem comprar refrigerantes a um preço menor em troca da devolução das garrafas plásticas dos produtos.
Essa prática, que era a norma em países como o México pelo menos até a década de 1990, pode ser um elemento-chave na redução da poluição plástica nos mares.
Além disso, a estratégia é uma peça importante na redução de custos das empresas de refrigerantes em tempos de inflação devido ao aumento do preço de matérias-primas como alumínio e PET.
“Continuamos investindo em garrafas retornáveis em muitas de nossas categorias de bebidas sem gás para oferecer acessibilidade aos consumidores e, ao mesmo tempo, reduzir os custos de produção com a implementação do formato de garrafas retornáveis”, disse Arturo Gutiérrez, CEO da Arca Continental (AC*) em conferência com analistas e investidores em 15 de fevereiro.
Segundo um estudo de 2020 da organização ambientalista Oceana, o aumento em 20% da participação de mercado das garrafas retornáveis em todos os países costeiros, substituindo as garrafas PET descartáveis , poderia reduzir a poluição marinha em 39%.
A América Latina é um dos mercados nos quais grandes engarrafadoras como Coca-Cola Femsa (KOFUBL) e Arca Continental expandiram o uso de garrafas retornáveis, com iniciativas como a garrafa universal, que pode ser utilizada para diversos produtos e ser reutilizada aproximadamente 25 vezes.
Os diretores da Coca-Cola Femsa indicaram em sua mais recente conferência com analistas e investidores um aumento de 40% no uso de embalagens retornáveis no México, assim como um crescimento de dois dígitos na Colômbia.
Sua expectativa é atingir números próximos daqueles alcançados no México, América Central e Colômbia, além de Argentina e Brasil.
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“As garrafas reutilizáveis nos permitiram aproveitar nosso portfólio e nossa arquitetura de preços por muito, muito tempo”, disse John Santa Maria, CEO da Coca-Cola Femsa, em conferência com analistas e investidores em 25 de fevereiro.
A inovação da garrafa universal foi exportada através do sistema Coca-Cola para países em desenvolvimento como a África do Sul.
O desafio está em países desenvolvidos como Estados Unidos, Europa e Japão, onde não há uma forte presença de embalagens retornáveis, mas uma maior suscetibilidade à sustentabilidade, principalmente em alguns países europeus, segundo a Oceana.
Nesses mercados, apenas 4% das bebidas não alcoólicas são vendidas em garrafas retornáveis, ao passo que na América Latina a participação de mercado ultrapassa 30%, segundo o estudo da Oceana
A Arca Continental, que tem operações no sudoeste dos Estados Unidos, está realizando um teste piloto em El Paso, no Texas, desde novembro de 2021, motivada pelo pressuposto de que seus clientes buscam embalagens mais sustentáveis.
“É uma estratégia diferente da que normalmente temos na América Latina, e é possível ver como as embalagens retornáveis são tão relevantes em alguns de nossos mercados basicamente por razões de acessibilidade”, disse Gutiérrez, CEO da Arca Continental.
O teste contempla garrafas de vidro de 500 ml para alguns restaurantes e venda em pacotes com seus garrafas para consumo doméstico.
Os resultados não foram divulgados. Garrafas de vidro podem ser reutilizadas até 50 vezes.
Em fevereiro, a The Coca-Cola Company (KO) anunciou sua meta de ter pelo menos 25% de suas bebidas vendidas globalmente em garrafas retornáveis – de plástico ou vidro – ou que possam ser reabastecidas.
Outras empresas do setor, como a PepsiCo (PEP), também optaram por opções como a Sodastream, que permite que os usuários preparem seus próprios refrigerantes em casa, além do aumento gradual do uso de PET reciclado em suas garrafas.
A Pepsico definiu uma redução de 50% no uso de plástico virgem até 2030.
“Para isso, precisamos de um consumidor que não seja indiferente e que pegue uma garrafa PET, guarde a tampa, guarde o rótulo, triture e separe do resto do lixo e devolva”, disse Paula Santilli, CEO da PepsiCo Latam, em entrevista em outubro.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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