Câmbio: Por que é missão quase impossível acabar com supremacia do dólar

Moeda americana continua sendo principal beneficiário dos fluxos de capital que buscam proteção

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Bloomberg — Acabar com a supremacia do dólar é ainda mais difícil do que parece.

Esta é a conclusão dos investidores após a decisão de Washington de congelar ativos em dólar da Rússia, que obrigou bancos centrais ao redor do mundo a repensar a segurança do acesso às reservas cambiais. A medida reforçou especulações de que a China, por exemplo, poderia redobrar esforços para se libertar de sistemas financeiros denominados em dólar e procurar alternativas.

Goldman Sachs Group (GS) e Credit Suisse Group (CS) notaram ameaças ao status predominante do dólar, mas encontrar um substituto será extremamente desafiador, segundo instituições como Brandywine Global Investment Management e JPMorgan Asset Management (JPM). O tamanho e a força da maior economia do mundo são incomparáveis, os títulos do Tesouro americano ainda são uma das maneiras mais seguras de guardar dinheiro e o dólar continua sendo principal beneficiário dos fluxos de capital que buscam proteção.

Simplesmente “não há outras opções a esta altura do jogo”, disse Mark Mobius, veterano com quatro décadas de experiência no mercado financeiro e fundador da Mobius Capital Partners. “O dólar ainda está forte e provavelmente ficará mais forte se as tensões continuarem aumentando.”

Quase 90% das transações do mercado de câmbio global — que movimenta US$ 6,6 trilhões por dia — envolvem o dólar, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês).

Apesar dos esforços contrários, a moeda americana também responde por aproximadamente 60% das reservas cambiais dos bancos centrais, segundo o Fundo Monetário Internacional. Seu rival mais próximo, o euro, representa cerca de 20% das reservas totais.

“Você pode comprar ienes, euros ou dólares australianos para diversificar, mas não acho que possam substituir o dólar como reserva”, disse Kerry Craig, estrategista do JPMorgan Asset Management em Melbourne. “Os EUA continuam sendo a potência dominante na economia global.”

Embora o banco central da Rússia tenha conseguido reduzir ativos em dólares em favor de alternativas como o ouro, os últimos eventos mostram que esses esforços podem ter sido em vão, avalia Agnes Belaisch, estrategista-chefe para a Europa da Baring Investment Services, que administra US$ 391 bilhões.

“Manter reservas não denominadas em dólar significa depender de contrapartes para trocá-las por um meio de pagamento”, disse Belaisch em Londres. “Não dá para fazer pagamentos com barras de ouro, assim como não dá para pagar em grande escala com bitcoins. O dólar está no início e no final da cadeia.”

Yuan como desafiante

Isso não impede as tentativas de desafiar o dólar. Os esforços da China para internacionalizar o yuan vêm ganhando mais atenção ultimamente.

Para o Goldman Sachs, o yuan vai ultrapassar o iene e a libra esterlina para se tornar a terceira maior moeda de reserva até 2030. Na avaliação do Morgan Stanley, a moeda chinesa representará até 10% dos ativos cambiais globais na próxima década.

A decisão dos EUA de usar o dólar como arma no conflito está acelerando a transição para alternativas como o yuan, disse Benjamin Jones, diretor de pesquisa macroeconômica da Invesco, que administra US$ 1,5 trilhão. A moeda chinesa pode não ultrapassar o dólar, mas pode se tornar “o outro ativo de reserva que vai trabalhar lado a lado ao longo do tempo”, disse ele.

Nem todos estão convencidos. A livre negociação é essencial para conferir status global a uma moeda e a influência de Pequim sobre o yuan é vista como um obstáculo.

A participação do yuan nos pagamentos por meio do sistema global Swift é de apenas 3%, comparado a 40% para o dólar e 37% para o euro.

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