O que o fundador da Binance tem a dizer sobre o caso do ‘faraó do Bitcoin’

Empresário de Cabo Frio foi preso acusado de prometer rendimento de 10% aos clientes, aplicando em criptomoedas por meio da plataforma da Binance

Faraó dos Bitcoins não teria usado plataforma da Binance se fizesse parte dos bancos de dados políciais
20 de Março, 2022 | 11:36 AM

O fundador e CEO da Binance Holdings Ltd., Changpeng Zhao, afirma que é muito difícil utilizar criptomoedas em atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro e financiamento ao crime, e que essa percepção é um equívoco que vem do passado e tem origem na falta de conhecimento sobre blockchain e o universo dos criptoativos.

“Cripto é realmente muito muito difícil de usar para atividades ilícitas. Porque cripto é transparente na transferência, você pode rastrear com muito mais facilidade. Por outro lado, o dinheiro, usando bancos, presentes, petróleo ou arte… tudo isso é muito mais difícil de rastrear. Cripto é muito transparente. Esse é um equívoco que existia nos primórdios e que não é verdade”, disse CZ, como é conhecido, em entrevista presencial à Bloomberg Línea. Na conversa, o fundador da Binance falou particularmente sobre os planos de expansão da exchange no Brasil, país visto como um dos dez mais importantes entre os 180 em que atua.

Se as autoridades fizerem um pedido sobre um problema, colaboraremos, seja bloqueando uma conta, congelando ativos, entregando bens para as autoridades. Operamos exatamente como um banco nesses casos

Para ilustrar o tema, CZ cita o último relatório sobre crimes financeiros do Chainalysis, uma consultoria de pesquisas do mercado cripto, que aponta que apenas 0,15% das transações do segmento estavam relacionadas a atividades ilícitas no ano passado. Já entre as transações tradicionais esse percentual seria entre 2% e 5%, disse ele.

Na entrevista à Bloomberg Línea, CZ comentou sobre o escândalo brasileiro da pirâmide do Faraó dos Bitcoins (BTC) de Cabo Frio (RJ), do empresário Glaidson Acácio dos Santos da GAS Consultoria Bitcoin. Ele foi preso acusado de formação de pirâmide por prometer rendimento de 10% ao mês para os clientes, aplicando em criptomoedas. Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, Santos teria movimentado R$ 38 bilhões nos últimos anos, sendo pelo menos R$ 1,2 bilhão por meio da Binance.

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Quando os policiais pediram para a Binance bloquear as contas da GAS, o empresário já tinha transferido todo o dinheiro e sua conta na exchange havia sido fechada.

Sobre o caso, CZ afirma que a Binance colaborou com as investigações e que, se o nome de Glaidson Acácio dos Santos já estivesse nos bancos de dados policiais e dos grupos internacionais que atuam com suspeitas de crimes financeiros, não teria conseguido utilizar a infraestrutura da exchange no golpe, exatamente como os bancos que levaram o dinheiro das vítimas até a GAS Consultoria.

“Se esse cara já fosse conhecido e estivesse associado ao caso, seu nome provavelmente já estaria nos bancos de dados de criminosos e não conseguiria movimentar os recursos”, disse ele.

“Nós trabalhamos muito próximos das autoridades de todo mundo, incluindo do Brasil. Se as autoridades fizerem um pedido sobre um problema, colaboraremos, seja bloqueando uma conta, congelando ativos, entregando bens para as autoridades, entre outros. Operamos exatamente como um banco nesses casos”, disse.

Guerra na Ucrânia

O fundador da Binance afirmou ainda que a exchange tem trabalhado com autoridades internacionais para não permitir que russos sancionados pela guerra na Ucrânia consigam utilizar criptoativos para contornar as limitações impostas.

CZ, no entanto, discorda que tenha que penalizar todos os usuários russos, que não façam parte da lista de sanções. Ele afirma que há 350 bancos na Rússia, mas apenas cerca de 12 fazem parte das sanções. “É ilegal bloquear bens não sancionados. Bloquear as contas dessas pessoas me tornaria um criminoso”, disse.

“A lista de sanções é uma lista do governo, que nosso time tem uma cópia. E nós temos experts do FBI, da Receita Federal e do Tesouro dos EUA. Eles sabem exatamente o que têm de fazer”, disse CZ.

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Investigações no exterior

Na entrevista, CZ respondeu também a uma pergunta sobre uma investigação conduzida pela agência Reuters, que sustenta que a Binance não levou em conta orientações de suas equipes internas em relação ao compliance para evitar lavagem de dinheiro e crimes financeiros. Ele disse que as acusações foram feitas por profissionais demitidos por justa causa e que saíram brigados com a empresa. Afirmou que a Binance trabalha para aperfeiçoar cada vez mais o compliance e seus controles internos, em cooperação com os reguladores e seguindo orientações dos grupos de combate a crimes financeiros.

CZ disse desconhecer a existência de uma investigação nos EUA do DoJ (Departamenteo de Justiça) e da Receita Federal por suspeita de “insider trading”, reportado pela Bloomberg. Ele disse que não há um inquérito formal sobre isso.

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Toni Sciarretta

News director da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista com mais de 20 anos de experiência na cobertura diária de finanças, mercados e empresas abertas. Trabalhou no Valor Econômico e na Folha de S.Paulo. Foi bolsista do programa de jornalismo da Universidade de Michigan.