Fusão Aliansce-brMalls naufraga e atenção se volta para Iguatemi

Após divulgação de resultado financeiro, mercado vê Iguatemi como player que vai liderar consolidação do setor de shopping de luxo

A Iguatemi pode ir às compras em 2022, após exibir resultado financeiro positivo no ano passado após uma reorganização societária, segundo analistas
18 de Março, 2022 | 11:21 AM
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Bloomberg — Desde janeiro, o mercado de gestão de shopping center no Brasil vive um clima de frenesi com as sucessivas propostas da Aliansce Sonae para uma combinação de negócios com a brMalls, com a intenção de criar uma gigante do setor, após dois anos de pandemia da covid, que deixou um rastro de prejuízos para o varejo, com fechamento de lojas, descontos em aluguéis de imóveis e um consumidor mais seletivo, tendo agora como opção a comodidade dos marketplaces, inclusive chineses, que costumam oferecer vantagens como frete grátis e preços menores.

Só que a segunda proposta de fusão entre Aliansce Sonae (ALSO3) e brMalls (BRML3) naufragou pela segunda vez. A brMalls recusou a nova oferta da concorrente e oficializou isso, na noite de ontem. Agora, o mercado volta sua atenção para um player mais tradicional, a Iguatemi (IGTI11), voltada para o consumidor de alta renda, que concluiu um processo de reorganização societária, apresentando resultados positivos em 2021 e tem apetite para crescer com uma estratégia de M&A.

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“Destacamos a queda na alavancagem registrada pelo Iguatemi, que encerrou o trimestre em 2,57x de dívida líquida/Ebitda (-0,25 p.p. t/t), abrindo espaço no balanço para eventuais oportunidades de M&A”, escrevem os analistas Gustavo Caetano e Rafael Quick, do banco Inter, sobre o resultado financeiro da companhia.

A reestruturação societária do grupo no terceiro trimestre do ano passado foi marco da história da companhia, resultando na saída de Carlos Jereissati como CEO, cargo que a executiva Cristina Betts assumiu em junho do ano passado, um movimento visto pelos analistas como um passo para a melhora da governança corporativa da companhia e simplificação da visão dos investidores sobre sua estrutura societária.

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O Pátio Higienópolis, situado em bairro nobre de São Paulo, controlado pela Brookfield, era apontado como potencial alvo da Iguatemi, com apontou um relatório do Citibank, em outubro, assinado pelos analistas André Mazini, Renata Cabral e Thaís Nogueira Alonso. O grupo tem uma participação minoritária (11,5%) no ativo.

Resultado positivo

A situação financeira da Iguatemi indica ser mais confortável do que a das administradoras de shoppings voltados para a classe C. Em 2021, a Iguatemi lucrou R$ 344,1 milhões, superando o desempenho pré-pandemia, com crescimento de 9,5% em relação a 2019. Com participação em 14 shopping centers, dois premium outlets e três torres comerciais, além do e-commerce Iguatemi 365, a receita líquida da companhia atingiu R$ 867,4 milhões no período, aumento de 15% quando comparado com o resultado de 2019. Considerando apenas o quarto trimestre de 2021, a receita somou R$ 315,5 milhões, 71,1% acima do quatro trimestre de 2020 e 49,4% do quarto trimestre de 2019.

“No 4º trimestre de 2021, a Iguatemi manteve sua estratégia de retirada dos descontos sobre o aluguel, porém em ritmo menor que o esperado, com crescimento de 28% em aluguéis em mesma loja (SSR), cerca de 16 pontos percentuais abaixo do projetado. Nas vendas em mesmas lojas, a Iguatemi conseguiu melhorar em todos os segmentos, como vestuário, calçados, saúde e beleza, terminando o quarto trimestre de 2021 com um aumento de 27,5% (+12,5 p.p R/E) nas vendas em mesmas lojas (SSS), desempenho responsável pelas vendas totais de R$ 4,752 bilhões, montante acima de nossas expectativas”, destacou o relatório do banco Inter.

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A companhia divulgou que sua dívida total encerrou o quarto trimestre com um total de R$ 3,25 bilhões, 1,2% abaixo do terceiro trimestre de 2021. A disponibilidade de caixa encontrava-se em R$ 1,8 bilhões, aumento de 1,6% em comparação ao terceiro trimestre de 2021, levando a uma dívida líquida de R 1,41 bilhão e um múltiplo dívida líquida/Ebitda de 2,57x, uma queda de 0,25 versus o terceiro trimestre.

Ao comentar os resultados de 2021 da Iguatemi, Os analistas do Inter lembraram os investimentos da companhia no comércio eletrônico, como a aquisição de 23,08% da Etiqueta Única pelo montante de R$ 27 milhões, destacando o fato de ser “uma companhia atuante no segmento de e-commerce de artigos second hand de luxo no Brasil, com crescimento médio de 40% a/a e detentora da maior plataforma online especializada dentro da América Latina”.

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Essa aquisição contribuiu para a transformação digital da Iguatemi Segundo comunicado da companhia sobre seu resultado financeiro, o Iguatemi 365, e-commerce da rede que une a experiência do ambiente físico e digital com a curadoria de marcas nacionais e internacionais do Brasil, ampliou a sua capacidade logística e, atualmente, já atende todos os estado brasileiros, cobrindo 91% do PIB do país. Como resultado, o GMV (valor total das vendas) de cidades sem presença de shoppings centers Iguatemi passou a representar 47% do total de GMV do site (versus 30% em 2020).

A gama de marcas e produtos do Iguatemi 365 também aumentou ao longo de 2021. No período, 185 marcas ingressaram na plataforma, entre elas, nomes relevantes como Golden Goose, Burberry e Michael Kors. Até o final de dezembro, 407 marcas estavam acessíveis para os clientes.

Considerando apenas o Iguatemi 365 e a operação da i-Retail, a companhia apresentou uma receita bruta de R$ 48,8 milhões no quarto trimestre de 2021, um crescimento de 114,1% versus o quarto trimestre de 2020 e 253% de crescimento sobre o mesmo período de 2019.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.