Por que Brasil e EUA divergem sobre as sanções a fertilizantes russos?

Brasil quer excluir os nutrientes agrícolas das sanções, mas EUA tendem a intensificar medidas contra a Rússia

Brasil quer excluir os fertilizantes das sanções, mas EUA tendem a intensificar medidas contra a Rússia
Por Tatiana Freitas e Elizabeth Elkin
17 de Março, 2022 | 04:11 PM

Bloomberg — As superpotências agrícolas estão em desacordo a respeito de sanções aos fertilizantes russos em meio a preocupações de que a alta dos preços dos insumos pode aumentar a inflação de alimentos.

Em nome da segurança alimentar, o Brasil — maior exportador mundial de soja, café e açúcar e maior importador de fertilizantes — quer excluir os nutrientes agrícolas das sanções. Já os EUA tendem a intensificar as medidas contra a Rússia.

“Talvez sacrifícios sejam necessários para enfrentar a guerra injustificada que a Rússia decidiu começar”, disse o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, durante um evento virtual organizado na quarta-feira pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (conhecida pela sigla em inglês FAO).

Veja também: Como o Brasil conseguiu destruir sua própria indústria de fertilizantes

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Índice de precios de los alimentos se disparó a un récord. 

Embora ciente das dificuldades de quem precisa de fertilizantes a preços acessíveis, Vilsack afirma que é necessário agir porque a democracia na Ucrânia está ameaçada. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) tenta atenuar o impacto dos custos mais altos por meio de medidas que possum reduzir o uso de nutrientes.

Os EUA também importam fertilizantes, trazendo potássio do Canadá para cobrir quase todas as suas necessidades, segundo Alexis Maxwell, analista da Bloomberg Green Markets. Cerca de um terço do nitrogênio usado nos EUA vem do exterior, principalmente do Oriente Médio e da Rússia. Os fertilizantes fosfatados vêm da Arábia Saudita e da Austrália.

Dependência externa

Mas nenhum outro país depende mais de fertilizantes importados do que o Brasil, que traz mais de 85% dos nutrientes de fora. As importações respondem por mais de 90% das necessidades de potássio e nitrogênio. A Rússia, principal fornecedora, e Belarus, que também está sob sanções econômicas, em conjunto respondem por 28% do total.

“Restringir o consumo de fertilizantes pode prejudicar a produtividade, reforçar a inflação e ameaçar a segurança alimentar”, disse a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. “Podemos criar um problema maior com o agravamento da fome global.”

Ela tem participado de uma série de reuniões com autoridades de países produtores de fertilizantes para assegurar o abastecimento para os agricultores brasileiros. A Canpotex, joint venture que comercializa potássio da Nutrien e da Mosaic fora da América do Norte, pretende ampliar as vendas para o Brasil.

Representantes de nações que integram o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) apoiaram a proposta do Brasil durante a reunião desta quarta-feira, incluindo Uruguai e Paraguai. Vilsack estava representando produtores da América do Norte.

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