México: Primeira mulher a chefiar BC encara pior inflação em duas décadas

Victoria Rodriguez, conhecida de longa data do presidente López Obrador, acredita que é importante controlar o avanço dos preços

Rodriguez já havia trabalhado na Secretaria das Finanças da Cidade do México
Por Max de Haldevang
17 de Março, 2022 | 01:52 PM

Bloomberg — De um dia para o outro, uma técnica pouco conhecida chegou ao comando do banco central do México. Agora, Victoria Rodriguez, a mulher mais poderosa das finanças na América Latina, enfrenta a pior inflação em duas décadas.

O presidente Andrés Manuel López Obrador nomeou Rodriguez em novembro. Antes, ela atuava como vice-ministra de despesas, supervisionando o orçamento de 6,3 trilhões de pesos (US$ 303 bilhões). Desde que assumiu o novo cargo, a inflação em 12 meses atingiu 7,3%, e a economia escapou por pouco de uma recessão no final do ano passado.

“Será uma prova de fogo”, disse Ernesto Revilla, que já foi economista-chefe do Ministério das Finanças e agora trabalha no Citigroup (C). “É um ano muito difícil para pegar o comando do barco”.

Rodriguez tem o desafio adicional de se provar no novo cargo. Especialistas já manifestaram preocupação com sua falta de experiência em política monetária e com a possível interferência do governo no banco central, conhecido como Banxico.

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“Com zero experiência em política monetária e considerando que seu primeiro emprego na área é o cargo mais importante do país, não há outra opção a não ser aprender rápido”, disse Valeria Moy, diretora do Instituto Mexicano de Competitividade, ou IMCO, com sede na capital.

Veterana de mais de duas décadas no serviço público, Rodriguez tem mestrado pela prestigiada Colmex e ingressou na Secretaria das Finanças da Cidade do México em 2001, quando López Obrador era prefeito. Na época, ela organizou uma venda de dívida considerada novidade na administração pública regional e trabalhou com o mercado financeiro. Ela ficou na prefeitura até 2018.

A assessoria de imprensa do Banxico recusou vários pedidos de entrevista com Rodriguez e não quis fazer comentários para esta reportagem.

Rodriguez aproveita qualquer evento público e reunião interna para repetir o mantra de seus predecessores: a autonomia do banco central é fundamental e domar a inflação tem precedência sobre todo o resto. Em sua primeira decisão sobre juros no mês passado, Rodriguez tranquilizou os investidores ao se aliar à maioria do comitê e anunciou o segundo aumento consecutivo de 0,50 pp nos juros. A expectativa é que a taxa básica supere 7% até o final do ano, apesar da fraqueza da economia.

A primeira mulher a chefiar o Banxico desde sua fundação, em 1925, era vista como workaholic na Secretaria das Finanças. Ela trabalha durante a noite e aos finais de semana, segundo um funcionário do banco central que pediu anonimato porque não tem permissão para se pronunciar publicamente.

Em maio de 2021, López Obrador disse que gostaria de ter no comando do Banxico alguém com uma “dimensão social”. Após esse comentário, especialistas passaram a se perguntar se Rodriguez poderia guiar a instituição tradicionalmente conservadora em uma direção pouco ortodoxa.

Até agora, há poucos sinais disso. Questionada sobre a fala do presidente, Rodriguez disse que a inflação prejudica mais quem é mais pobre, o que é outra razão para manter os índices de preços ao consumidor perto da meta.

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“A inflação afeta principalmente as pessoas com poucos recursos”, disse Rodriguez em 2 de março, defendendo os esforços do banco central para controlar o avanço dos preços. “Com esse compromisso, teremos impacto nessa população de baixa renda.”

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