Marisa reduz prejuízo após ‘caos’ e trabalha para voltar ao azul em 2022

Rede vê crescimento gradativo das vendas, expande ‘dark stores’ e aposta em ‘pequenas indulgências’

Por

São Paulo — A Marisa (AMAR3), rede de moda feminina e lingerie, fechou 2021 com um prejuízo de R$ 71,754 milhões, bem abaixo dos resultados negativos dos anos anteriores (R$ 432,196 milhões em 2020 e R$ 112,361 milhões em 2019). No quarto trimestre, o prejuízo somou R$ 3,2 milhões, uma redução de 88,8% na comparação com o mesmo período de 2020, quando tinha colhido uma perda de R$ 28,9 milhões. “A companhia trabalha para voltar ao azul ainda em 2022″, diz o CFO da varejista, Adalberto Santos, à Bloomberg Línea.

A recuperação gradativa das vendas ao longo dos trimestres é o principal indicador para retratar o desempenho da Marisa no ano passado, segundo o executivo. A receita cresceu 20,7% em 2021, somando R$ 2,014 bilhões. O quarto trimestre respondeu por R$ 702,2 milhões, aumento de 6,9% em relação a setembro a dezembro de 2020. Santos atribui o crescimento das vendas à retomada do fluxo de consumidores nas lojas, com o fim das restrições à mobilidade no segundo semestre, após o “caos” do primeiro ano da pandemia da covid.

Veja mais: ‘Estamos entregando o que prometemos’, diz CEO da Via

“Você tem dois momentos: primeiro, 2020, quando você tem lojas fechadas totalmente, depois parcialmente, você tendo que lidar com aquele caos de operar uma rede em que lojas abriam parte do dia e outras não abriam, você tinha de operar com metade dos quadros, administrar o estoque, que é perecível. E no ano passado você começa a ter uma regularidade da parte da operação em termos de horário de funcionamento, quadros funcionais operantes, mas o fluxo demora muito a reagir. Nós tivemos a ter perda de fluxo da ordem de 35%. No quarto trimestre, você vê uma evolução mais positiva desse fluxo”, comenta.

Ele nota que houve um crescimento das vendas com uma recuperação da margem de lucro, otimização dos estoques e boa aceitação de suas coleções de moda. A margem bruta da Marisa passou de 39,5% para 45,3% em 2021, um incremento de 5,8 pontos percentuais em 12 meses. No quarto trimestre, a margem saltou de 42,1% para 47,3%, salto de 5,2 pontos percentuais.

“Vender sem margem não é que seja fácil, é mais fácil. Você tem uma retomada de vendas com margem em patamares mais saudáveis, principalmente no mês de dezembro, você teve uma indicação clara desse processos. É um crescimento muito importante. Isso tudo vem acompanhado de um NPS [indicador de qualidade de atendimento] que se mantém acima de 75%. Para nós, é um indicador de que as coisas efetivamente estão entrando em um momento de consolidação”, avaliou o CFO.

Dark stores

Para voltar ao lucro neste ano, a rede varejista planeja acelerar sua transformação digital, o que deve consumir boa parte dos seus investimentos, principalmente no segundo semestre. Neste ano, a companhia pretende expandir o modelo de “dark stores”, já adotado em São Paulo e Minas Gerais, para outros estados do país, segundo o CFO. Dois outros espaços serão abertos nos estados do Rio de Janeiro e Bahia.

Veja mais: Magazine Luiza muda tarifa para parceiros após reportar prejuízo; veja como fica

As dark stores são pontos de distribuição responsáveis pela separação e entrega dos produtos comprados nos canais digitais. Instaladas próximas a centros urbanos, atendem regiões específicas justamente para encurtar a distância entre o produto do varejista e o consumidor final, permitindo entregas mais rápidas, no mesmo dia (”Same Day Delivery”) ou no dia seguinte (”Next Day Delivery”).

““Em 2021, avançamos no dark store, reduzindo o prazo de entrega de três, quatro dias para 24 horas”, diz Santos.

Nas dark stores, a cada pedido, o e-reduzindo o prazo de entrega de três, quatro dias para 24 horas menor distância e o menor frete para chegar ao cliente com mais agilidade. A primeira unidade do modelo “dark store”, em operação em Itaquaquecetuba, em São Paulo, desde o mês de fevereiro de 2021, foi ampliada e agora tem capacidade para armazenar até 500 mil peças, um crescimento de 50% comparado à capacidade inicial da unidade. Em dezembro, a Marisa abriu uma nova “dark store” em Minas Gerais, na cidade de Contagem, em uma estrutura planejada para armazenamento de até 110 mil peças, a fim de agilizar a logística do e-commerce em todo o estado.

Classe C

A companhia também voltou a investir em publicidade com uma campanha assinada pela agência Africa, o #ChegaMais. Para esta ação, a cantora e influenciadora Lellê foi a escolhida para regravar a música clássica “Chega Mais” da cantora Rita Lee e ser a cara da campanha. Segundo o CFO, a consumidora da classe C quer se sentir incluída na sociedade, e a nova campanha representa o espírito de pluralidade da Marisa.

“A nova campanha de marketing deverá acelerar a recuperação do fluxo de clientes em loja, no momento em que as novas coleções nos dão segurança quanto a sua aderência à nossa cliente-alvo”, diz o CEO da companhia, Marcelo Pimentel, em carta aos acionistas.

Santos espera que a companhia consiga atrair também mais clientes das classes A e B devido às novas coleções de moda, principalmente no segmento de lingerie. Ele aposta na tendência de comportamento coletivo, conhecida pelos especialistas como “consumo de pequenas indulgências”, em que o consumidor busca comprar produtos de ticket mais baixo (entre R$ 100 e R$ 200) como um hábito de autorecompensa.

“A queda nas vendas de produtos duráveis, mais caros, pode nos beneficiar. O consumidor deixa de comprar itens de ticket mais elevados para pequenas indulgências. Nesses momentos de crise econômica, vendem-se muito chocolate e batom”.

Dívida

Com sete trimestres acumulando prejuízos, enfrentando um processo de “turnaround”, a Marisa chegou a virar um alvo da Americanas, que admitiu no ano passado o interesse em comprar a rede, mas as conversas não prosperaram.

No fim de dezembro, a companhia apresentava uma dívida líquida de R$ 544,6 milhões (8,7x Ebitda). Em dezembro, a Marisa ganhou um reforço de caixa com um aumento de capital de R$ 250 milhões, em uma operação que contou com os acionistas controladores (família Goldfarb).

O nível de endividamento da companhia chegou a ser um dos pontos de atenção de alguns analistas devido à concentração de vencimentos no curto prazo. Segundo o CFO da rede, a companhia está melhorando o perfil do seu endividamento, com 60% de rolagem dos vencimentos. “2022 é um ano bastante difícil e desafiador, mas a Marisa está melhor preparada para sair mais leve e mais ágil”, diz Santos.

Inadimplência

O aumento da inadimplência é um dos pontos de atenção da companhia em um ano em que o mercado projeta a taxa Selic em torno de 13% e uma inflação próxima de 7% em dezembro, em um cenário de incertezas de um ano de disputa presidencial e de início de aperto monetário nos EUA, além das preocupações com novas variantes da covid, desaceleração chinesa, inflação de commodities e explosão de custos com combustíveis e logística.

Desde outubro, a rede especializada em vestuário feminino registra uma tendência de alta nos indicadores de inadimplência, “refletindo de certa forma a deterioração macroeconômica”, diz a mensagem aos acionistas.

O CFO diz ser necessário reforçar o relacionamento com as clientes, um diferencial apontado por ele em relação à concorrência como a plataforma chinesa Shein. “É um período de maior inadimplência estrutural, de maiores PDDs [provisões para devedores duvidosos], mas não podemos cortar o crédito. Quando a cliente estiver em atraso, temos de oferecer opções de acordos de negociação”, diz Santos.

Leia também

Tembici fatura R$ 146 milhões em 2021 e vê lucro bruto aumentar 70%