Bloomberg — O Banco Central cumpriu o esperado ao elevar a Selic em 1pp, para 11,75%, além de antecipar nova alta de mesma magnitude no próximo encontro, também já precificada na curva. O BC diz, no entanto, que o momento exige serenidade e que pode “ajustar o tamanho do ciclo” caso os choques de oferta em diversas commodities se mostrem “mais persistentes ou maiores que o antecipado”.
Após o Copom deixar a porta aberta para ajustes e repetir que acha apropriado que o aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista, mercado deve reagir com alta das taxas futuras mais curtas e perda de inclinação da curva em patamares mais elevados, o chamado “bear flattening”. Alguns analistas, por outro lado, enxergam a possibilidade de o aperto ser encerrado em maio, com o juro em 12,75%, principalmente se o petróleo parar de subir.
O ambiente externo se deteriorou substancialmente e o choque de oferta decorrente do conflito entre Rússia e Ucrânia tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas.
Comunicado incluiu ainda um cenário alternativo, considerado de maior probabilidade, com petróleo a US$ 100 no fim do ano, em que o IPCA terminaria 2023 a 3,1%, dentro da meta.
Veja o que dizem os analistas:
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- Sinal claro para mais 1 pp em maio é um desenvolvimento hawkish
- Estimava Selic terminal de 13% e agora vê riscos claros de que taxa suba acima disso
- Um Copom muito realista, consciente do cenário global muito incerto e focado em garantir que a política monetária faça o possível para trazer a inflação para perto da meta em 2023
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú
- Copom indica que os cenários atuais, com taxa básica de 12,75% ao final do ciclo, garantiriam a convergência da inflação para a meta
- "Por ora esperamos que o Copom eleve a taxa básica para 12,75% a.a. na próxima reunião, e encerre o ciclo em 13% a.a."
- Itaú aguardará ata para revisitar expectativa, se necessário
Reinaldo Le Grazie, ex-diretor do BC e chefe do comitê de investimentos do fundo Panamby Inno
- BC afirmou mais um aumento igual na próxima reunião, o que dá um tom hawkish à decisão
- Projeção de 7,1% para IPCA 2022, e mesmo no novo cenário alternativo de 6,3%, mostra desancoragem e risco para 2023
- Curvas de juros vão subir na quinta-feira
Mauricio Oreng, head de macro research do Santander
- Santander elevou estimativa de Selic terminal de 12,50% para 13,25%, com 1 pp em maio e 0,50 pp em junho
- Comunicado moderadamente hawkish, não se comprometeu com o fim do ciclo
- BC tentou passar uma comunicação de que vai reagir; qualificou que está mais preocupado com os efeitos secundários, que é onde tem de atuar
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital
- BC deixa porta aberta para um ajuste subsequente; percebe que os impactos do conflito envolvendo Rússia e Ucrânia geram pressão inflacionária e têm capacidade de desancorar a inflação do horizonte relevante -- cada vez mais focado em 2023
- CM vê Selic terminal em 12,75% na melhor das hipóteses; ciclo de aperto monetário pode ser ainda maior e elevar Selic acima de 13%
- Vetor fiscal também sugere uma inflação mais elevada
Claudio Ferraz, economista-chefe Brasil do BTG Pactual
- Surpresa veio para sinalização de manutenção de ritmo; BC foi bastante explícito de ajuste de mesma magnitude
- Cenário-base é de Selic a 12,75% em maio
- BTG mantém Selic terminal a 13,25%, mas ‘de modo um pouco diferente’
- Julgamento de balanço de riscos é de que BC pode ir um pouco além, vemos 1pp em maio e 0,5pp na sequência
Gustavo Pessoa, sócio-gestor da Legacy Capital
- Copom foi firme na indicação para próxima reunião
- Sobre o tamanho do ciclo, serenidade e análise de cenários do Copom convergem para ciclo acabar em 12,75%, já na próxima reunião
- Probabilidade de fim de ciclo em maio era quase nula e agora virou cenário básico
Silvio Campos Neto, economista e sócios da Tendências Consultoria Integrada
- "A decisão em si não surpreendeu e o comunicado trouxe sinais mistos, em linha com o ambiente de extrema incerteza"
- BC sinalizou mais uma alta de 1pp para maio, mas não se compromete a ir além disso
- No cenário alternativo, as projeções de inflação são bem inferiores e, para 2023, compatíveis com a meta
- BC tentou conter apostas excessivamente agressivas, ao citar que o momento pede serenidade
- Comunicado impõe um viés de alta no cenário 12,75% como final de ciclo
Carlos Menezes, gestor de portfólio da Gauss Capital
- Indicação de alta de 1 pp para a próxima reunião é o ponto mais hawk
- Além disso, indicação de que o comitê está disposto a ajustar o tamanho do ciclo demonstra que devem ser mais reativos aos impactos do choque de commodities
- Mercado deve reagir com curva "fletando" e em alta; ou seja, um "bear flattening"
Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest
- O plano de voo do BC é um ajuste de +1 pp na próxima reunião, terminando o ciclo em 12,75%
- Comunicação traz um próximo passo hawkish, mas já sinalizando que possivelmente seria o final do ciclo
Tatiana Nogueira, economista da XP
- "Enxergamos o BC sinalizando que está chegando perto do fim"
- Cenário base é de uma Selic em 12,75%, permanecendo nesse patamar
Brendan McKenna, estrategista do Wells Fargo
- Comunicado mais hawkish do que esperado
- É "muito possível" que Selic chegue a 13%
- "Assume mais 1 pp em maio, mas mesmo depois de maio podemos ver um aperto adicional"
Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original
- O principal destaque é a opção do Copom em sinalizar serenidade diante das incertezas do cenário
- Recorreu ao livro-texto ao afirmar que a sua atuação será sobre eventuais impactos secundários do choque de oferta nas commodities
- Comunicado foi dove considerando a curva de juros, abriu a possibilidade de dar +1 pp e parar, e esse cenário parece ser o base
- Se petróleo ficar em US$ 100 ou menos, o BC sobe mais 1 ponto e para
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(Corrigida a projeção para a Selic do Banco BTG Pactual -- 10h04, 17.03.2022)
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