Bloomberg — O Ministério das Finanças da Rússia afirma que pagou ao correspondente bancário os juros referentes a títulos denominados em dólar, dando poucos detalhes sobre um pagamento que simboliza como Moscou planeja lidar com seus credores no futuro.
Em comunicado enviado por e-mail nesta quinta-feira (17), o Ministério das Finanças informou que enviou a ordem de pagamento de um cupom de US$ 117 milhões em 14 de março a um correspondente bancário que não identificou, acrescentando que divulgaria um comunicado separado sobre o recebimento pelo agente pagador, que é a subsidiária do Citibank em Londres. O banco não quis comentar.
Até agora, os detentores de títulos russos na Europa não viram nem sinal do dinheiro.
Não se sabe o que vai acontecer em seguida. Se os credores da Rússia não receberem a quantia em dólares dentro do período de carência de 30 dias que começa nesta quinta-feira, esta seria a primeira vez que o país deixa de honrar sua dívida externa desde que os bolcheviques repudiaram as obrigações contraídas pelo regime do czar, em 1918. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que o país tem todos os recursos necessários para evitar um calote.
No entanto, se não cumprir as obrigações da dívida, a exclusão da Rússia dos mercados de capitais globais pode se consolidar e os custos de captação do país sobem. O governo russo e empresas como Gazprom e Lukoil têm cerca de US$ 150 bilhões em dívidas em moeda estrangeira. Esse montante e o aperto financeiro generalizado podem não bastar para desencadear uma crise financeira global, mas as tensões estão se espalhando pelos mercados emergentes e podem causar choques na economia mundial — que já passa por uma transformação sísmica após a invasão da Ucrânia.
“A deterioração da dívida russa foi muito repentina e em um país onde os fundamentos eram fortes, então definitivamente será mais significativo que, digamos, um default da Argentina”, disse Anthony Kettle, gestor sênior de carteiras da BlueBay Asset Management. “Isso pode levar a uma maior diversificação das reservas internacionais, possivelmente com papel mais relevante para o yuan, já que os Estados Unidos usaram sanções e o status do dólar como ativo de reserva de forma tão eficaz neste caso”.
Na Rússia, embora a economia tenha sido devastada por medidas como o congelamento de grande parte das reservas de US$ 640 bilhões do banco central, o amplo superávit em conta corrente significa que o país não precisa necessariamente de acesso ao mercado de títulos. Ainda assim, há sinais de nervosismo entre corporações russas tomadoras de empréstimos. O mecanismo de buscas na internet Yandex, a plataforma de rede social VK e a Ozon Holdings já iniciaram negociações com credores.
“O maior impacto obviamente será nos fluxos de capital”, disse Simon Harvey, responsável por análise cambial da Monex Europe. Para ele, os gestores de recursos ficarão mais cautelosos em relação a créditos de mercados emergentes. “Os investidores agora despertaram para os perigos das dívidas soberanas de alto rendimento.”
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