América do Norte se prepara para nova onda de imigração

Alta da inflação nos países da América Central vem levando milhares de migrantes a deixar suas terras natais

Região chamada de Triângulo Norte da América Central foi responsável por grande parte da migração não documentada nos últimos dez anos
Por Eric Martin
17 de Março, 2022 | 07:05 PM

Bloomberg — Os governos dos Estados Unidos e do México estão se preparando para um aumento no número de imigrantes sem documentos em suas fronteiras nos próximos meses, pois a inflação nos principais países da América Central aumentou as dificuldades econômicas.

Autoridades dos governos dos presidentes Joe Biden e Andrés Manuel López Obrador discutiram nos últimos dias sua preocupação com o impacto que o aumento dos preços de alimentos e energia exercerá na região, segundo pessoas familiarizadas com as negociações, que pediram para não serem identificadas por não terem permissão para falar publicamente. Os preços das commodities em todo o mundo saltaram com a invasão da Ucrânia pela Rússia, prejudicando o poder de compra e aumentando a pressão econômica nos países em desenvolvimento.

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Um funcionário da Casa Branca confirmou que o custo de vida mais alto foi discutido durante uma viagem do secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, ao México e à Costa Rica nesta semana. Os governos consideram esse um fator adicional que estimulará a migração de pessoas que já enfrentam a violência persistente e a miséria da pandemia de covid-19 entrando em seu terceiro ano, segundo esse funcionário.

As conversas recentes incluíram o Departamento de Estado, o Conselho de Segurança Nacional e o Ministério das Relações Exteriores do México, disseram as fontes.

O governo mexicano também está pedindo ao governo Biden que se prepare para levar mais migrantes diretamente para seus países de origem, em vez de enviá-los para o sul através da fronteira com o México, como forma de desencorajar as pessoas a fazer a viagem, segundo as pessoas entrevistadas.

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Os EUA usaram uma política da era Trump chamada Título 42, destinada a impedir a propagação da covid-19 em centros de detenção, para devolver migrantes da América Central através da fronteira com o norte do México. Isso prejudicou os recursos das cidades fronteiriças mexicanas e levou muitos migrantes a tentar repetidamente entrar novamente nos EUA.

O governo Biden está se preparando para o fim dessa política e tentando fazer que os países da América Central cooperem para receber os migrantes que voltaram para casa, disse o funcionário da Casa Branca.

Motivos

Os EUA estão lidando com os desafios impostos pela migração não documentada de maneira regional, estabelecendo acordos de cooperação com vários países para controlar o fluxo de migrantes, disse o embaixador no México, Ken Salazar, nesta quinta-feira (17). Isso inclui Colômbia, Panamá e Costa Rica como forma de lidar também com os migrantes que fogem da Venezuela e da Nicarágua, disse.

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Os EUA também estão trabalhando em colaboração com o México para abordar as causas da migração e da falta de oportunidades por meio de programas de desenvolvimento para reduzir a necessidade de migração, disse Salazar em um evento do Atlantic Council.

O Departamento de Estado encaminhou nossas perguntas à Casa Branca, e a assessoria de imprensa do Departamento de Segurança Interna não quis comentar. A assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores do México também não quis comentar.

Honduras e El Salvador registraram em fevereiro os aumentos de preços ao consumidor mais rápidos desde 2014 e 2011, respectivamente. A inflação no México foi de 7,3% em fevereiro, perto da máxima de duas décadas alcançada em novembro.

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Insegurança alimentar

A migração geralmente aumenta nos meses de primavera do Hemisfério Norte, quando o clima mais quente facilita a viagem. Embora os EUA também estejam enfrentando a inflação em uma alta de quatro décadas, isso é parcialmente o resultado de uma economia forte e um mercado de trabalho apertado, fatores históricos para atrair migrantes.

O chamado Triângulo Norte da América Central, que também inclui a Guatemala, foi responsável por grande parte da migração não documentada na última década. A região vem sendo assolado pela insegurança alimentar causada por desastres naturais, o que aprofundou a pobreza. Agora, os países, que são todos importadores de combustível, estão lidando com os preços do petróleo bruto que recentemente chegaram a mais de US$ 120 o barril.

Inflação é mais um fator, além da violência e da pandemia, que leva migrantes a deixar suas casas

Os EUA enviaram US$ 300 milhões extras em auxílio para a região no ano passado, inclusive para mitigar os danos causados por uma seca persistente e pela escassez de alimentos.

Após uma queda no início da pandemia em 2020, o número de imigrantes não documentados parados na fronteira subiu no ano passado, chegando a mais de 200 mil pessoas por mês em julho pela primeira vez em duas décadas. A migração não documentada permaneceu duas ou três vezes mais alta que os níveis pré-pandemia nos últimos meses.

--Com a colaboração de Michael McDonald.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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