Bloomberg — Os governos dos Estados Unidos e do México estão se preparando para um aumento no número de imigrantes sem documentos em suas fronteiras nos próximos meses, pois a inflação nos principais países da América Central aumentou as dificuldades econômicas.
Autoridades dos governos dos presidentes Joe Biden e Andrés Manuel López Obrador discutiram nos últimos dias sua preocupação com o impacto que o aumento dos preços de alimentos e energia exercerá na região, segundo pessoas familiarizadas com as negociações, que pediram para não serem identificadas por não terem permissão para falar publicamente. Os preços das commodities em todo o mundo saltaram com a invasão da Ucrânia pela Rússia, prejudicando o poder de compra e aumentando a pressão econômica nos países em desenvolvimento.
Um funcionário da Casa Branca confirmou que o custo de vida mais alto foi discutido durante uma viagem do secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, ao México e à Costa Rica nesta semana. Os governos consideram esse um fator adicional que estimulará a migração de pessoas que já enfrentam a violência persistente e a miséria da pandemia de covid-19 entrando em seu terceiro ano, segundo esse funcionário.
As conversas recentes incluíram o Departamento de Estado, o Conselho de Segurança Nacional e o Ministério das Relações Exteriores do México, disseram as fontes.
O governo mexicano também está pedindo ao governo Biden que se prepare para levar mais migrantes diretamente para seus países de origem, em vez de enviá-los para o sul através da fronteira com o México, como forma de desencorajar as pessoas a fazer a viagem, segundo as pessoas entrevistadas.
Os EUA usaram uma política da era Trump chamada Título 42, destinada a impedir a propagação da covid-19 em centros de detenção, para devolver migrantes da América Central através da fronteira com o norte do México. Isso prejudicou os recursos das cidades fronteiriças mexicanas e levou muitos migrantes a tentar repetidamente entrar novamente nos EUA.
O governo Biden está se preparando para o fim dessa política e tentando fazer que os países da América Central cooperem para receber os migrantes que voltaram para casa, disse o funcionário da Casa Branca.
Motivos
Os EUA estão lidando com os desafios impostos pela migração não documentada de maneira regional, estabelecendo acordos de cooperação com vários países para controlar o fluxo de migrantes, disse o embaixador no México, Ken Salazar, nesta quinta-feira (17). Isso inclui Colômbia, Panamá e Costa Rica como forma de lidar também com os migrantes que fogem da Venezuela e da Nicarágua, disse.
Os EUA também estão trabalhando em colaboração com o México para abordar as causas da migração e da falta de oportunidades por meio de programas de desenvolvimento para reduzir a necessidade de migração, disse Salazar em um evento do Atlantic Council.
O Departamento de Estado encaminhou nossas perguntas à Casa Branca, e a assessoria de imprensa do Departamento de Segurança Interna não quis comentar. A assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores do México também não quis comentar.
Honduras e El Salvador registraram em fevereiro os aumentos de preços ao consumidor mais rápidos desde 2014 e 2011, respectivamente. A inflação no México foi de 7,3% em fevereiro, perto da máxima de duas décadas alcançada em novembro.
Insegurança alimentar
A migração geralmente aumenta nos meses de primavera do Hemisfério Norte, quando o clima mais quente facilita a viagem. Embora os EUA também estejam enfrentando a inflação em uma alta de quatro décadas, isso é parcialmente o resultado de uma economia forte e um mercado de trabalho apertado, fatores históricos para atrair migrantes.
O chamado Triângulo Norte da América Central, que também inclui a Guatemala, foi responsável por grande parte da migração não documentada na última década. A região vem sendo assolado pela insegurança alimentar causada por desastres naturais, o que aprofundou a pobreza. Agora, os países, que são todos importadores de combustível, estão lidando com os preços do petróleo bruto que recentemente chegaram a mais de US$ 120 o barril.
Os EUA enviaram US$ 300 milhões extras em auxílio para a região no ano passado, inclusive para mitigar os danos causados por uma seca persistente e pela escassez de alimentos.
Após uma queda no início da pandemia em 2020, o número de imigrantes não documentados parados na fronteira subiu no ano passado, chegando a mais de 200 mil pessoas por mês em julho pela primeira vez em duas décadas. A migração não documentada permaneceu duas ou três vezes mais alta que os níveis pré-pandemia nos últimos meses.
--Com a colaboração de Michael McDonald.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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