Agronegócio é ‘descoberto’ e atrai pessoa física para investimento no setor

Fiagros já movimentam quase R$ 5 milhões por dia na B3 e expectativa é que instrumento possa superar os fundos imobiliários

Painel de cotações da B3
17 de Março, 2022 | 03:47 PM

Bloomberg Línea — Quase seis meses depois de listar o primeiro Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), a B3 (B3SA3) registra um crescimento expressivo do volume diário médio de negociação (ADTV) dos fundos. Em outubro do ano passado, mês de lançamento do primeiro Fiagro, a ADTV foi de modestos R$ 666 mil. No mês passado, as negociações com Fiagros tiveram uma média diária de R$ 4,7 milhões, número que pode ser superado ainda em março. Até o dia 15 deste mês, os fundos do agronegócio movimentaram em média R$ 4,2 milhões todos os dias.

E o interesse pelo agronegócio vem das pessoas físicas. Dados levantados pela B3 a pedido da Bloomberg Línea mostram que, em fevereiro, praticamente 85% dos investidores que aportaram recursos nos fundos do agronegócio eram pessoas físicas. Em segundo lugar, aparecem os investidores institucionais, onde se enquadram as empresas não-financeiras, mas com menos de 10% do total investido.

Para Fabiana Perobelli, diretora de relacionamento com clientes da B3, a chegada dos Fiagros no ano passado ocorreu com uma feliz coincidência do crescimento do número de CPF’s negociando na bolsa e a consequente busca por opções de diversificação de investimento. “O que ouvimos do mercado é que o Fiagro vai evoluir da mesma forma que os fundos imobiliários evoluíram. Hoje, eles estão lastreados nos CRA’s (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), mas a expectativa é que passe a fazer parte deles terras, arrendamentos e até produção em si”, diz a executiva.

Na semana passada, o Itaú Asset listou na bolsa o maior Fiagro já lançado até o momento (RURA11). Foram captados R$ 600 milhões e as cotas começaram a ser negociadas. “Até agora, a forma que o mercado tinha para financiar o agronegócio era por meio dos CRA’s, mas isso acabou sendo usado principalmente pelas grandes empresas. Os Fiagros vão fazer uma revolução e podem ser maiores, inclusive, do que os tradicionais fundos imobiliários”, afirma Sergio Goldstein, head de crédito estruturado da Itaú Asset.

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O otimismo com o Fiagro se explica pelo aumento da necessidade de crédito para financiar o crescimento do produtivo, em oposição à redução do crédito subsidiado oferecido pelo governo. As análises do mercado financeiro apontam que as linhas oficiais terão cada vez mais foco no pequeno produtor, os grandes buscarão se financiar junto no mercado de capitais por meio de emissão de ações ou mesmo CRA e os médios, que formam a maior parte, terão que encontrar instrumentos no mercado para continuar crescendo. “Estamos em processo de redução do financiamento público e os instrumentos para o setor tendem a ficar cada vez mais sofisticados”, afirma Fabiana.

Para Goldstein, os bancos já não conseguem mais fazer sozinhos o financiamento do agronegócio que, historicamente, passava por eles e o crescimento do setor está está deixando uma lacuna. “O empresário rural está disposto a diversificar sua captação, o mercado está conhecendo mais o setor e para o investidor que optou por participar da economia local não faz sentido ficar de fora de um fundo agro para ter uma posição mais equilibrada”, diz.

Veja a relação de Fiagros listados na B3 até o momento:

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.