Opinión - Bloomberg

A Apple é o grande curinga das criptomoedas

Se a Apple abraçar as criptomoedas não seria a primeira vez que um grande player de tecnologia muda de tom

Há espaço para criptomoedas na App Store?
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — A Apple (AAPL) é uma empresa de US$ 2,5 trilhões. Para aumentar significativamente seu faturamento, a empresa tem um número limitado de oportunidades a explorar. Carros autônomos e óculos de realidade mista vêm à mente (por mais que eu ame o universo cinematográfico de Ted Lasso, ele não chega a ter um efeito significativo).

Há outra grande oportunidade em relação à qual a fabricante do iPhone tem se silenciado são as criptomoedas. “A posição da Apple sobre criptomoedas está entre neutra e hostil”, diz Ric Burton, um dos primeiros colaboradores do projeto Ethereum. “No entanto, o iPhone pode ser a ferramenta que integra milhões de pessoas ao ecossistema.”

Como? Criando uma maneira amigável de interagir com a economia das criptomoedas.

“É preciso lembrar que a Apple é uma empresa que fabrica produtos para que as pessoas acessem protocolos”, diz Burton, lembrando que o iPod ajudou os usuários a interagir com o padrão MP3, enquanto o iPhone faz o mesmo com os padrões da internet.

PUBLICIDADE

Criptomoedas são um conjunto de protocolos e existem muitas ferramentas para interagir com elas. Mas, como o designer e consultor de tecnologia, Holyn Kanake, escreveu recentemente para a CoinDesk, “[esses produtos] estão a quilômetros de distância da descentralização, são agressivamente técnicos e compostos de interfaces de usuário incongruentes”.

Esse assunto foi retomado em janeiro, quando o fundador da Signal, Moxie Marlinspike, escreveu um post viral intitulado “Minhas primeiras impressões da Web3″.

Ele observou que a promessa das criptomoedas serem parte de uma tecnologia descentralizada está se chocando com o comportamento humano: “As pessoas não querem executar seus próprios servidores e nunca o farão”. (Minha tradução aproximada: preferimos coisas simples e somos preguiçosos.)

PUBLICIDADE

Burton acredita que o iPhone – que mais de 1 bilhão de pessoas carregam no bolso para uso diário – pode responder a esse problema de duas maneiras:

Extensão do navegador Safari: uma das maiores ferramentas de integração de criptomoedas até agora é a Metamask, uma carteira de criptomoedas, que tem uma extensão para o Chrome, com 21 milhões de usuários. A atualização do iOS 15 da Apple em novembro fornece mais suporte à extensão do navegador. E com 54% do tráfego móvel dos Estados Unidos vindo do Safari, há uma oportunidade para mais ferramentas de criptomoedas para iPhone.

Carteira de hardware: O iPhone possui um recurso de hardware chamado enclave seguro. É um subsistema no chip do iPhone A1 que armazena informações (senhas, dados biométricos) para aplicativos confidenciais como o FaceID e o Apple Pay. Fundamentalmente, o iOS não consegue acessar diretamente os dados. Se a Apple adicionasse uma assinatura de criptomoedas, conhecida como Elliptic Curve Digital Signature Algorithm (ECDSA), o iPhone poderia se tornar uma carteira segura de criptomoedas em hardware para conter chaves privadas e autenticação digital.

“Uma boa extensão de navegador é uma solução de curto prazo para usuários menos experientes de criptomoedas”, diz Burton, que transformou seu otimismo em ação ao criar o Balance, uma extensão de carteira de criptomoedas de código aberto para o Safari.

PUBLICIDADE

A carteira de hardware é uma solução de longo prazo, mas – com a capacidade da Apple de criar ferramentas amigáveis ao consumidor – pode ser revolucionária. De certa forma, as criptomoedas já conquistaram a Apple. O CEO da Coinbase Global, Brian Armstrong, observou em um post no blog de 4 de fevereiro que a exchange de criptomoedas precisa “jogar segundo as regras [da Apple]” para ser vendida na App Store e atender aos usuários do iPhone.

Mas o que a Apple realmente pensa sobre criptomoedas?

Atualmente, os usuários do iPhone podem baixar aplicativos de carteira de criptomoedas (por exemplo, Coinbase, Crypto.com), mas a empresa considerou os aplicativos de visualização de NFT não apropriados para a App Store. Essa posição, no entanto, parece mais relacionada ao imposto da App Store do que a um problema com criptomoedas. O CEO, Tim Cook, disse à DealBook Conference em novembro que possui criptomoedas como “parte de um portfólio diversificado”. Embora ele tenha dito que a Apple “não tem planos imediatos” de integrar pagamentos de criptomoedas, “[a empresa está] definitivamente analisando algumas possibilidades”.

PUBLICIDADE

A Casa Branca também está analisando como promover a inovação em criptomoedas. O presidente americano, Joe Biden, assinou recentemente um decreto sobre criptomoedas, que inclui o objetivo de impulsionar “a competitividade e a liderança dos EUA” em tecnologias de ativos digitais.

“Como os criptoativos representam uma parcela maior do patrimônio líquido das pessoas, eles priorizarão a segurança e a privacidade”, diz Burton. “Cook impulsionou esses recursos desde o início. Comparado a outros players de Big Tech (Google, Meta), confio que a Apple fará a coisa certa para seus usuários se seguir no caminho das criptomoedas.”

Se a Apple abraçar as criptomoedas não seria a primeira vez que um grande player de tecnologia muda de tom. Uma peça significativa do dominó caiu na semana passada quando a gigante de pagamentos, Stripe, lançou um conjunto de ferramentas de infraestrutura para criptomoedas. Anteriormente, ele havia lançado e dobrado a sua equipe de cripto em 2018.

A mudança não foi surpreendente para Burton, que trabalhou brevemente na Stripe no início de sua carreira: “Todas as empresas da Web 2 recorrem às criptomoedas quando se dão conta do quanto ela pode realmente ajudar seus clientes”.

Trung Phan é o co-apresentador do podcast Not Investment Advice e escreve o boletim SatPost. Ele foi o principal redator do Hustle, um boletim de tecnologia.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

– Esta coluna foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também