Investidor estrangeiro já desconfia da valorização do real

Invasão da Ucrânia pela Rússia reduziu o apetite por risco e os estrangeiros aumentaram as apostas na depreciação da moeda

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Bloomberg — A moeda brasileira teve o melhor desempenho do mundo este ano, mas está perdendo fôlego. Investidores estrangeiros que impulsionaram os ganhos de 2022 estão desistindo das apostas de valorização diante da volatilidade do mercado global e do plano do Banco Central de diminuir o ritmo de alta da Selic.

O real está praticamente estável desde o final de fevereiro, após subir 10% este ano. A invasão da Ucrânia pela Rússia reduziu o apetite por risco e os estrangeiros aumentaram as apostas na depreciação da moeda brasileira em US$ 6,6 bilhões.

Investidores globais estão repensando até as apostas mais lucrativas, uma vez que a guerra forçou um rebalanceamento das carteiras. Os ativos brasileiros podem se beneficiar do dinheiro que sai do Leste Europeu, mas algumas firmas de Wall Street já enxergam um excesso de posições otimistas em relação ao Brasil. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira também pesa na avaliação.

“O impulso da moeda se desacelerou significativamente, provavelmente devido ao excesso de posições”, escreveram estrategistas do Morgan Stanley, incluindo Ioana Zamfir e Gilberto Hernandez-Gomez, em relatório divulgado em 13 de março.

A guerra também derrubou os fluxos para o mercado acionário brasileiro, que vinha atraindo investidores estrangeiros por ser considerado barato após anos de desempenho inferior. Após comprarem ações por 53 pregões seguidos — trazendo R$ 78 bilhões para o mercado —, os não residentes retiraram R$ 34 milhões do da B3 em 8 de março, interrompendo o período mais longo de entradas desde pelo menos 2008, segundo dados da bolsa compilados pela Bloomberg.

Com a diminuição nos fluxos de capital estrangeiro, especialistas questionam se há espaço para o real estender os ganhos deste ano. A moeda ainda registra o melhor desempenho do mundo em 2022, com alta de 8% em relação ao dólar. No entanto, a taxa de câmbio não ultrapassou a barreira dos R$ 5 por dólar após testá-la várias vezes nas últimas semanas. A resistência sugere que os investidores têm receio de apostar em valorização adicional.

Para o Morgan Stanley (MS), o Brasil continua sendo a maior posição de peso desproporcional (overweight) na América Latina entre os investidores de renda fixa local de mercados emergentes. Já o BNY Mellon (BK) entende que o mercado tem excesso de posições vendidas em dólar em relação ao real, citando dados da iFlow.

As reversões de risco também mostram aumento das preocupações com a devolução dos ganhos do real. O prêmio que investidores estão dispostos a pagar por uma opção de três meses com preço de exercício alto — que equivale a um real mais fraco — versus uma opção com preço de exercício baixo subiu de 1,25% em meados de janeiro para mais de 3%.

Embora o carry trade permaneça forte após 8,75 pontos percentuais de aumento da taxa Selic no último ano, o ritmo de aperto deve diminuir nesta quarta-feira, mesmo com a elevação das expectativas de inflação. A Selic deve subir 1,00 ponto percentual para 11,75%, segundo 38 dos 43 economistas que participaram de uma sondagem da Bloomberg. Três deles esperam aumento de 1,25 ponto e os outros dois preveem uma quarta alta consecutiva de 1,5 ponto percentual.

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