Falsas debêntures: Investidores denunciam golpe em site de Campinas

Investidor diz que aplicou R$ 8.500 na compra dos títulos de dívida com a promessa de receber R$ 11.500; site de securitizadora sai do ar

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São Paulo — A oferta de debêntures, títulos de dívida privada emitidos por companhias de capital aberto, promovida pelo site da Euro Capital Securitizadora, nome fantasia da Vebcap Securitizadora de Ativos, alertada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por atuação irregular no mercado, tinha características de pirâmide financeira, segundo relatos de três clientes da empresa da Campinas (interior paulista), sede da empresa, ouvidos pela Bloomberg Línea e que pediram anonimato para proteger suas identidades.

Pirâmides financeiras são esquemas irregulares para captação de recursos de investidores, em que lucros ou rendimentos são pagos com os aportes de novos participantes, que pagam para aderir à estrutura, segundo a definição do site da CVM. O golpe ocorre quando a pirâmide desaba, ou seja, quando não há mais recursos suficientes para remunerar todos os seus membros, causando prejuízos aos investidores, que ficam sem receber seu dinheiro.

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Um gerente de contas, de 29 anos, disse ter aplicado R$ 8.500 com a promessa de receber um total de R$ 11.500 em cinco parcelas mensais e sucessivas. No início, ele afirma que desconfiou, mas acabou fechando o negócio após ser convencido por amigos. Após assinar o contrato em maio, o cliente disse ter recebido só uma parcela de R$ 2.300 em outubro. Ao procurar a securitizadora, foi informado que a empresa estava com “problema de fluxo de caixa”.

A preocupação do gerente de Campinas era dupla. Ele diz que inicialmente buscava financiamento para comprar um carro, e a empresa ofereceu opções como a aplicação em debêntures. Para isso, o cliente também assinou um segundo contrato com a securitizadora autorizando o uso de seu nome e CPF pela empresa para o financiamento de um Corolla junto a uma concessionária da Toyota na cidade. Em troca, a Vebcap se comprometia a pagar a entrada e parcelas do financiamento (60 de R$ 3.708,07). Ele relatou que nunca recebeu o carro, as parcelas não foram pagas, e seu nome está negativado.

Após investigar o caso com ex-funcionários da empresa, o gerente diz que descobriu que o veículo em seu nome estava com um outro cliente da Vebcap, morador de Goiás, que se recusou a entregar o bem, alegando que tinha recebido o Corolla da securitizadora como bonificação.

O gerente registrou boletim de ocorrência no 4º distrito policial (DP) de Campinas e aguarda o avanço das investigações. Ele diz que não conseguiu mais entrar em contato pelos canais de comunicação da securitizadora. Ele compartilhou com a reportagem os dois contratos assinados digitalmente, o boletim de ocorrência, mensagens trocadas com funcionários da empresa pelo WhatsApp e registros das ligações em seu celular.

Já outro cliente da Euro Capital diz que o golpe resultou em prejuízo de R$ 100 mil. Ele e a esposa entraram na Justiça para tentar reaver o dinheiro e consideram que foram vítimas de uma “quadrilha de golpistas”.

O terceiro relato obtido pela Bloomberg Línea é de um cliente que afirma ter perdido cerca de R$ 500 mil. Ele diz que os sócios e donos da Euro Capital estão “vivendo uma vida de luxo” e que outras empresas do grupo estão envolvidas no esquema.

Outro lado

Bloomberg Línea tenta, desde segunda, ouvir os responsáveis pela Vebcap Securitizadora de Ativos. Até a última segunda-feira (15), o site continuava no ar, propondo aplicações em debêntures, mas desde terça não é mais possível acessá-lo. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tinha determinado uma multa diária de R$ 100 mil caso a oferta não fosse suspensa.

Pelo telefone publicado na sua conta no Instagram (ainda no ar hoje), tentou-se contato, mas o número não completou a chamada. Em um número de WhatsApp, indicado na página, também não houve retorno. Os clientes ouvidos citaram outras informações sobre os bastidores do caso, mas a reportagem não conseguiu verificar esse conteúdo com fontes oficiais.

A CVM tem alertado o mercado sobre a proliferação de empresas com atuação irregular, ofertando investimentos sem registro na autarquia federal. Na capital paulista, atualmente, a Polícia Civil investiga um esquema de pirâmide envolvendo a comercialização de criptomoedas pela empresa MSK Operações e Investimentos. Mais de 500 pessoas relatam que caíram no golpe, segundo o Procon-SP, entidade de defesa do consumidor.

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