Bloomberg Línea — Embora as pesquisas eleitorais continuem apontando a liderança isolada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) começou a apresentar sinais de recuperação.
Segundo pesquisa da Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (16), a avaliação negativa do presidente caiu de 56% dos brasileiros, em novembro do ano passado, para 49% em março. No mesmo período, a avaliação positiva subiu de 19% para 24%.
São números que se repetem, em maior ou menor medida, em diversos segmentos da pesquisa: de novembro do ano passado a março deste ano, a avaliação negativa caiu entre os homens (52% a 43%) e entre os jovens de 16 a 24 anos (61% a 49%), enquanto a positiva aumentou na Região Sul (22% para 32%) e também entre os homens (24% para 29%).
“É um movimento que chamo de ‘a volta dos que nunca foram’: o eleitor começa a avaliar a possibilidade de voltar a votar no presidente. São resultados que começam a lembrar o que foi 2018 ‘’, disse o CEO da Quaest, Felipe Nunes, em debate sobre as pesquisas, transmitido nesta quarta pelo YouTube.
Segundo ele, “ainda que os movimentos sejam marginais, eles sugerem um quadro de recuperação que pode ser consolidado nas próximas pesquisas. Essas mudanças acontecem coincidentemente em segmentos que Bolsonaro foi bem em 2018.”
Nunes observa dois dados: a quantidade de eleitores que disse que o governo está melhor do que se esperava aumentou “nos segmentos mais importantes de renda”; e a avaliação de que o governo é pior do que se esperava “caiu significativamente”.
No quadro geral, a avaliação de que o governo está pior que as expectativas caiu de 55%, em dezembro do ano passado, para 50% em março. Mas teve quedas mais profundas em todos os segmentos de renda, de janeiro para cá: entre quem ganha dois salários mínimos (37% para 27%), entre dois e cinco salários (32% para 23%) e entre quem ganha mais de cinco salários (41% para 23%).
O pagamento do Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, também foi determinante na avaliação do governo, segundo Felipe Nunes.
Entre quem recebeu a verba, a avaliação negativa caiu de 45% para 23% entre fevereiro e março. Entre quem não recebeu, a queda foi de 35% para 29%.
“São movimentos marginais, mas que podem ser simbólicos e significativos em prol do presidente Bolsonaro”, avalia o CEO da Quaest.
Terceira via
A pesquisa mostra que a chamada “terceira via” não empolgou o eleitor. Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT) ficam entre 6% e 7% das intenções de voto, a depender do cenário. Os demais, nem isso. Nas respostas espontâneas, os que responderam que votam em outro candidato, além de Lula e Bolsonaro - os chamados “nem nem” - foram apenas 3%.
O cientista político Jairo Nicolau, da FGV, que participou do debate, acredita que o mais importante desses dados é a falta de terceira via na direita, o que pode beneficiar Bolsonaro.
“O eleitor brasileiro de esquerda já fez sua escolha, Lula ou Ciro. Mas, no campo da centro-direita, não tem alternativa - ou pelo menos as que se colocaram não estão se apresentando como alternativas com grande potencial eleitoral. Isso, para Bolsonaro, é ótima notícia, porque ele não tem uma contenção de centro-direita para parar de crescer”, diz Nicolau.
Segundo ele, “aquele eleitor típico do PSDB que votou em Bolsonaro, mas depois saiu dele, hoje olha para o cenário eleitoral e, sem uma contenção de centro-direita, vai votar no Bolsonaro de novo”. “Lula está parado. Está muito bem parado, mas está parado, oscilando em torno de 45% há muito tempo.”
Economia
Outro dado que chamou atenção dos debatedores foi o da preocupação dos eleitores com a economia. Os que entendiam ser a economia o principal problema do país eram 35% dos pesquisados em fevereiro deste ano. Em março, foram 51%.
De acordo com a pesquisa, a situação econômica do país é o que mais levará o brasileiro às urnas. Foi o tema indicado por 43% dos entrevistados. Em segundo lugar vem a “boa gestão no passado”, citada por 17% dos pesquisados.
Enquanto isso, a citação da pandemia como principal problema do país caiu de 27% dos eleitores para 12% entre fevereiro e março.
Tiago Nunes destaca que 76% dos eleitores concordam com a afirmação de que a pandemia foi um problema tão grave que qualquer presidente teria dificuldades. E 54% deles concordam com a postura de Bolsonaro de lutar contra o isolamento social.
Ao mesmo tempo, 76% dos pesquisados acreditam que, se Bolsonaro não tivesse feito campanha contra as vacinas, o país teria se saído melhor no combate ao coronavírus. E 63% discordam das falas do presidente de que a pandemia foi mais branda do que o noticiado pela imprensa.
Para Nunes, o brasileiro acredita que Bolsonaro errou com as vacinas e com os ataques à imprensa, mas no resto, acertou. “A pesquisa mostrou que alguns dos argumentos importantes do Bolsonaro estão, sim, sendo comprados pela sociedade.”
A pesquisa foi feita entre os dias 10 e 13 de março deste ano em 120 municípios das cinco regiões do país. Foram feitas 2 mil entrevistas em domicílio e a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O registro no TSE é BR-06693/2022.