Pânico derruba ações chinesas na maior queda desde 2008

Surtos de covid no país e temores de uma aliança entre China e Rússia que possam implicar em sanções afetaram o desempenho

Embora governo negue contato com a Rússia, há temores de que a conivência de Pequim traga prejuízos
Por Jeanny Yu - Charlotte Yang
14 de Março, 2022 | 11:33 AM

Bloomberg — As ações chinesas listadas em Hong Kong tiveram seu pior dia desde a crise financeira global, pois as preocupações com o relacionamento próximo entre Pequim e Rússia e os riscos regulatórios renovados provocaram vendas por pânico.

O Índice Hang Seng China Enterprises fechou em queda de 7,2% na segunda-feira (14) – a maior queda desde novembro de 2008. O Índice Hang Seng Tech caiu 11% em seu pior declínio desde que o indicador foi lançado em julho de 2020, eliminando US$ 2,1 trilhões em valor desde o pico no ano anterior.

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A ampla derrubada segue um relatório que cita autoridades dos Estados Unidos de que a Rússia pediu à China assistência militar para sua guerra na Ucrânia. Mesmo a China negando o relatório, os comerciantes temem que a possível abertura de Pequim para Vladimir Putin possa trazer uma reação global contra as empresas chinesas, incluindo até mesmo sanções. O sentimento também foi prejudicado por um lockdown por covid na cidade de Shenzhen, no sul – importante centro de tecnologia – e na província de Jilin, no norte.

Isso se soma a diversas outras preocupações regulatórias. A Tencent está enfrentando uma possível multa recorde por violações das regras de combate à lavagem de dinheiro, que derrubaram as ações em quase 10% na segunda-feira. Há também o risco de empresas chinesas serem saírem das bolsas nos EUA, já que a Securities and Exchange Commission identificou alguns nomes como parte de uma repressão a empresas estrangeiras que se recusam a abrir seus livros aos reguladores dos EUA.

Índice Hang Seng China Enterprises teve seu pior dia desde 2008

Se os EUA decidirem impor sanções à China como um todo ou a empresas chinesas específicas que fazem negócios com a Rússia, isso seria uma preocupação”, disse Mark Mobius, que fundou a Mobius Capital Partners depois de mais de três décadas na Franklin Templeton Investments. “Neste caso, tudo ainda é incerto”.

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Os investidores têm motivos para ficarem nervosos depois que vários fundos de grandes nomes relataram perdas significativas com relação à Rússia. Os fundos da BlackRock (BLK) expostos à Rússia caíram US$ 17 bilhões desde o início da guerra.

Na sexta-feira (11), o Índice Golden Dragon, que monitora recibos de depósito americanos de empresas chinesas, caiu 10% pelo segundo dia consecutivo – algo que nunca aconteceu antes em seus 22 anos de história. O índice de referência CSI 300 da China fechou em queda de 3,1% na segunda-feira. O yuan onshore também caiu para seu nível mais fraco em um mês, com o sentimento em relação aos ativos chineses enfraquecendo.

“Não vemos um grande catalisador no curto prazo” para ajudar as ações da China, embora os resultados dos lucros possam criar certa volatilidade nos preços das ações, disse Marvin Chen, estrategista da Bloomberg Intelligence. “Para termos uma reavaliação substancial das empresas de tecnologia da China, precisamos ver uma mudança no tom regulatório, e não conseguimos isso na recente reunião do Congresso”.

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Mesmo em meio à derrota, os traders da China Continental continuaram comprando ações de Hong Kong, embora isso seja insuficiente para sustentar os preços das ações. Eles vêm comprando ações líquidas de Hong Kong por meio da conexão de ações em todas as sessões desde 22 de fevereiro, acumulando US$ 1 bilhão na segunda-feira – maior valor desde janeiro.

O índice Hang Seng Tech perdeu quase 30% em valor no último mês

Otimismo?

A queda histórica nas ações de tecnologia está confundindo os otimistas da China, cujo número cresceu este ano, e estrategistas vêm apostando em uma recuperação graças à flexibilização das políticas do Banco Popular da China.

Os estrategistas do Goldman Sachs Group (GS) reduziram ligeiramente seu otimismo em relação às ações da China, reduzindo suas estimativas de avaliação para o índice MSCI China.

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“Continuamos overweight na China em expectativas/metas de crescimento bem ancoradas, política de flexibilização, valuations e sentimentos em queda e baixo posicionamento do investidor”, mas reduzimos nossa meta de avaliação de 12 meses de 14,5 para 12 vezes devido a mudanças no ambiente macro global e riscos geopolíticos mais altos, segundo estrategistas como Kinger Lau em nota datada de segunda-feira.

O índice MSCI China viu sua avaliação cair mais da metade em relação ao pico de fevereiro de 2021. O indicador está sendo negociado a cerca de nove vezes suas estimativas de lucros futuros de 12 meses, contra uma média de cinco anos de 12,6.

“É verdade que o valuation está baixo, mas se você está encerrando suas posições desesperadamente, os valuations não importam”, disse Yasutada Suzuki, chefe de investimentos em mercados emergentes do Sumitomo Mitsui Bank.

--Com a colaboração de Shikhar Balwani Hideyuki Sano e Abhishek Vishnoi.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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