São Paulo — O principal assunto do varejo brasileiro no 1º trimestre de 2022 é a viabilidade ou não de o Brasil criar uma gigante na administração de shopping centers, após dois anos de pandemia da covid que castigaram o setor com fechamento de lojas. Os dois personagens dessa narrativa - as cariocas Aliansce Sonae (ALSO3) e BR Malls (BRML3) - ainda não chegaram a um acordo para a fusão, mas a história ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira (14).
Em fato relevante, a Aliansce Sonae confirmou ter aumentado a proposta para os acionistas da BR Malls, a fim de convencê-los a aprovar a combinação de negócios. O próximo passo é marcar uma assembleia geral da BR Malls para analisar a nova oferta. O BTG Pactual assessora a Aliansce, enquanto o Itaú, a BR Malls.
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“A nova proposta representa um acréscimo de 10,9% em relação ao valor da proposta original e 16,1% em relação ao valor de cotação das ações de emissão da BR Malls, no dia anterior à divulgação da combinação de negócios ao mercado”, diz o fato relevante, acrescentando que a “combinação de negócios foi bem recebida pela maioria dos acionistas de ambas as companhias e pelo mercado em geral”.
A Aliansce Sonae detalhou que a proposta tem dois pontos: pagamento em dinheiro no valor de R$ 1,850 bilhão, um aumento de R$ 500 milhões em relação ao valor originalmente proposto, o que representa uma melhora de 37% em relação à proposta original, além de “pagamento com a entrega de 276.762.914 ações de emissão de ALSO [ações da Aliansce Sonae], representativas de 51,08% do capital social da companhia combinada, o que representa uma relação de substituição de 1 ação de emissão da BR Malls para 0,33414420 ação de emissão da ALSO”.
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Para justificar o negócio, a Aliansce Sonae diz estar “convicta de que a combinação de negócios é uma oportunidade única de fortalecimento de ambas as companhias, com ganhos significativos para os seus acionistas, clientes e demais stakeholders”.
A empresa expressou confiança de que a proposta tende a prosperar, afirmando que a companhia e seus assessores financeiros “vêm mantendo interações com acionistas da BR Malls, que, em sua maioria, têm demonstrado apoio à concretização da pretendida operação”.
Em fato relevante divulgado também nesta manhã, a BR Malls disse que “não recebeu qualquer nova proposta por parte da Aliansce Sonae ou pedido de convocação de assembleia geral”, mas ressaltou que “sempre está à disposição para avaliar qualquer proposta de transação que possa gerar valor para a BR Malls e seus acionistas”.
Além da Aliansce, a BR Malls também conversa com a Ancar Ivanhoe sobre uma possível fusão. Uma fonte da BR Malls a par das negociações, que pediu anonimato, pois as informações não são públicas, disse à Bloomberg Línea que a nova proposta da Aliansce Sonae continua sendo avaliada internamente como ruim, pois calcula o prêmio ao acionista com base na cotação do dia 13 de janeiro (R$ 7,85), dia anterior à divulgação do primeiro fato relevante. Na última sexta-feira (11), o papel da BR Malls fechou cotado a R$ 8,94. Entretanto, o montante oferecido em janeiro para o pagamento em dinheiro era de R$ 1 bilhão, enquanto a nova proposta oferece agora R$ 1,850 bilhão.
Os conselhos de administração das duas companhias começaram a trocar informações sobre uma possível fusão em dezembro, segundo a fonte, citando que a iniciativa de tornar a negociação pública em janeiro partiu da Aliansce, sem ter pedido a anuência da BR Malls para realizar esse movimento. Internamente, segundo a fonte, há um descompasso na condução das negociações entre as duas empresas, sugerindo uma pressa por parte da Aliansce para fechar um acordo.
“Positivo”
Em nota sobre a nova proposta da Aliansce Sonae, o analista da XP, Ygor Alterno, comentou que vê o “fluxo de notícias como positivo a favor da potencial fusão”, após a BR Malls ter recusado uma oferta em janeiro.
“ALSO vem aumentando a posição em BR Malls e argumentando a favor do negócio. ALSO e o maior acionista já têm uma posição relevante (14,5%) para brigar pela fusão, abrindo espaço para uma possível aprovação”, escreveu Altero.
Ele lembrou que ALSO originalmente fez uma oferta de 50%/50% que mais tarde foi elevada para 51,08% para BRML3, o que está em linha com as expectativas da XP. O analista reiterou recomendação de compra para BRML3 com preço-alvo de R$ 12/por ação.
A casa de análises Levante também comentou: “A notícia é positiva para ambas as operadoras de shopping, com as ações de ambas as companhias (ALSO3 e BRML3) devendo apresentar uma reação positiva no curto prazo”, citou a newsletter do estrategista-chefe Rafael Bevilacqua, nesta manhã.
Onde ficam
A Aliansce Sonae diz ser a maior administradora de shopping centers do Brasil com a participação em 27 shopping centers e a administração de 12 centros de compras de terceiros. A companhia tem unidades nas cinco regiões do Brasil, em 12 estados (AM, PA, CE, AL, BA, DF, GO, MG, ES, RJ, SP, PR e RS).
- No maior mercado do Brasil, em São Paulo, a Aliansce administra o Plaza Sul Shopping, Santana Parque Shopping, Parque D. Pedro Shopping, Shopping Campo Limpo, Shopping Metrópole, Shopping Taboão, Boulevard Shopping Bauru, Franca Shopping, Shopping Praça Nova Araçatuba.
- No Rio de Janeiro, a empresa tem o Bangu Shopping, Boulevard Shopping Campos, Carioca Shopping, Caxias Shopping, Shopping Grande Rio, Shopping Leblon, Via Parque Shopping, Passeio Shopping, Pátio Alcântara, Santa Cruz Shopping, São Gonçalo Shopping e Recreio Shopping.
- Já a BR Malls diz ter 31 shopping espalhados por 12 estados e 23 cidades. Na capital paulista, administra o Jardim Sul Shopping, Shopping Villa-Lobos, Shopping Metrô Santa Cruz e o Mooca Plaza Shopping. Na capital fluminense, o NorteShopping e o Shopping Tijuca constam em seu portfólio.
(Atualiza às 12h com fato relevante da BR Malls e nota da XP e às 15h30 com informações extraoficiais de fonte da BR Malls)
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