A hora dos emergentes: analistas dizem que títulos estão ‘baratos demais’

Ainda assim, especialistas alertam que guerra na Ucrânia e aumento da inflação global podem minar interesse dos investidores

Títulos de mercados emergentes denominados em dólares parecem se encaixar nessas exigências
Por Lilian Karunungan e Netty Idayu Ismail
14 de Março, 2022 | 10:42 AM

Bloomberg — Os títulos em dólar de mercados emergentes estão dando a impressão de estarem baratos demais.

O rendimento adicional oferecido por dívidas soberanas dos países em desenvolvimento sobre os títulos do Tesouro dos EUA passou de 5 pontos percentuais — limite ultrapassado apenas duas outras vezes em mais de uma década. Gestoras de recursos como FIM Partners e Vontobel Asset Management apostam que esses spreads vão diminuir rapidamente, como ocorreu após os picos anteriores.

Enquanto o banco central dos EUA, o Federal Reserve, se prepara para elevar a taxa básica de juros esta semana, investidores procuram ativos capazes de entregar desempenho superior em meio a condições monetárias mais apertadas e a um fortalecimento do dólar. Títulos de mercados emergentes denominados em dólares parecem se encaixar nessas exigências e têm histórico de grande valorização em períodos em que o Fed sobe juros. Embora o agravamento da guerra na Ucrânia ou um calote da dívida russa — talvez já nesta quarta-feira — possam prejudicar essa transação, o receio de não aproveitar a baixa temporária leva investidores a comprar esses títulos.

“Os spreads de mercados emergentes nunca terminaram um ano-calendário com retorno negativo quando começaram o ano acima de 3,00 pontos percentuais”, disse Francesc Balcells, diretor de investimentos em dívidas de mercados emergentes da FIM Partners em Londres. “Há muita negatividade precificada na dívida no momento.”

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Um índice do JPMorgan Chase que calcula o prêmio de risco soberano de países emergentes subiu para 5,26 pontos percentuais em 8 de março, superando os 5,07 pontos atingidos após o aumento de juros pelo Fed em 2015 e os 4,68 pontos alcançados após o rebaixamento da classificação de risco dos EUA em 2011. Em ambas as ocasiões, os títulos de nações emergentes se recuperaram em seguida, reduzindo o spread para cerca de 2,50 pontos. O salto no spread em março de 2020 por causa da pandemia de Covid-19 também foi seguido por ganhos em poucas semanas.

A FIM Partners começou a comprar dívidas emitidas por países do Golfo e da América Latina e está de olho em emissores de alto rendimento, como Omã. A gestora de recursos pretende investir em novos papéis ofertados por Bahrein e Colômbia — classificados como junk bonds — que “virão com grandes concessões” em relação às dívidas existentes, disse Balcells.

Fortalecendo o otimismo, a história sugere que a dívida em dólares de mercados emergentes tende a se apreciar assim que o Fed começa a aumentar os juros, por oferecer aos investidores uma maneira de possuir ativos de maior rendimento sem risco cambial.

“Os spreads de ativos de mercados emergentes denominados em moeda forte provavelmente vão encolher assim que o Fed começar a subir juros, como ocorreu nos últimos três ciclos de alta”, disse Carlos de Sousa, gestor de recursos da Vontobel.

No entanto, apenas o fato de estarem baratos não é suficiente para os ativos de mercados emergentes sustentarem o interesse dos investidores, principalmente diante de uma guerra que ameaça aumentar a inflação e afundar o crescimento global.

  
  

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