Bloomberg — Os investidores de títulos internacionais parecem mais preocupados com as chances de eleição de um presidente de esquerda na Colômbia do que no Brasil. Eles estão exigindo rendimentos mais altos da dívida colombiana, embora esta tenha classificação de risco superior à da dívida brasileira.
Os títulos denominados em dólar da Colômbia são negociados com rendimentos acima dos exigidos para a dívida externa brasileira, que tem nota de risco mais baixa. O candidato de esquerda Gustavo Petro lidera as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de maio. No caso do Brasil, os investidores parecem ter aceitado a perspectiva de retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder nas eleições de outubro.
A diferença nos rendimentos é uma raridade. A Colômbia historicamente paga menos do que o Brasil para tomar empréstimos nos mercados de capitais internacionais devido à classificação de crédito mais alta e ao menor endividamento. Os dois presidenciáveis já assustaram investidores no passado com retórica hostil ao mercado, mas Petro seria o primeiro líder de esquerda em seu país, enquanto Lula é bastante conhecido. A Colômbia realiza eleições primárias e legislativas neste domingo.
“O mercado está expressando claramente que o risco fiscal da Colômbia agora é mais parecido com o do Brasil do que outros pares”, disse Mario Castro, estrategista de renda fixa do BBVA (BBVACOL) em Nova York. “A Colômbia começou a pandemia em posição fiscal já fraca em comparação com seus pares e piorou após o fornecimento de ajuda fiscal.”
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Os títulos com classificação BB+ da Colômbia com vencimento em 2031 pagam um prêmio de aproximadamente 0,30 ponto percentual sobre os títulos de vencimento semelhante do Brasil com classificação BB. É uma reversão do desconto de 0,50 ponto percentual observado há seis meses. Os ativos da Colômbia agora são negociados perto dos ativos de mercados emergentes classificados dois graus abaixo. Não só isso, os ativos do Brasil são negociados em nível mais próximo dos ativos de países com classificação dois graus acima.
Os derivativos de crédito (credit default swaps ou CDS) também refletem como os investidores enxergam as perspectivas para as finanças dos dois países sob os novos líderes. Atualmente, o custo para fazer seguro dos títulos contra inadimplência é praticamente o mesmo. Na maior parte da década passada, a Colômbia foi considerada mais segura para os credores.
A Colômbia perdeu o grau de investimento no ano passado depois que o Congresso não aprovou uma reforma tributária estrutural para corrigir o crescente déficit fiscal. Os gastos públicos aumentaram durante a pandemia e a dívida atingiu mais de 60% do PIB. A classificação de crédito do Brasil foi rebaixada para junk bond em 2015 e a dívida ultrapassa 80% do PIB.
Petro, que já foi prefeito de Bogotá e defende tarifas mais altas para proteger a indústria local, lidera todas as principais pesquisas com margem ampla. Com uma campanha baseada em ideias progressistas e defesa do meio ambiente, ele prometeu interromper a exploração de petróleo e eliminar gradualmente as indústrias extrativistas para fazer a transição para uma economia baseada no conhecimento e orientada para o turismo. Atualmente, petróleo e carvão representam quase metade das exportações colombianas.
Se as pesquisas acertarem, a aliança política de Petro, conhecida como Pacto Histórico, será vitoriosa nas eleições primárias no domingo. Contudo, não está claro se isso se traduzirá em apoio para construir maiorias no Congresso. Ele quer formar um novo bloco global com aliados ideológicos, como Lula e o presidente do Chile, Gabriel Boric, para afastar a economia da região dos combustíveis fósseis.
No Brasil, bastou uma pitada de moderação no início deste ano por parte de Lula para que os investidores internacionais passassem a demonstrar otimismo em relação ao país. As ações e a moeda brasileira tiveram desempenho muito superior ao do resto do mundo, embaladas por rendimentos elevados e múltiplos baratos. Lula ocupou a presidência de 2003 a 2010 e está em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais.
“Está claro que a Colômbia tem uma vulnerabilidade externa muito maior, o que explica parte desse aumento do risco”, disse German Cristancho, estrategista da corretora Corredores Davivienda. “No entanto, é possível que algo semelhante ao que aconteceu no Chile ou Peru ocorra na Colômbia, com normalização dos prêmios de risco para níveis mais condizentes com a classificação de crédito após as eleições presidenciais”.
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