Exportadoras ucranianas desmantelam negócios para alimentar a própria população

A MHP está fornecendo comida para o exército a preço de custo e carne para as cidades de graça

Voluntários fazem comida para alimentar soldados e civis em um acampamento à beira da estrada
Por Bloomberg News
11 de Março, 2022 | 01:01 PM

Bloomberg — O conglomerado de alimentos ucraniano MHP construiu seus negócios exportando grãos e aves para a Europa, Oriente Médio e Norte da África. A guerra forçou uma virada, e agora a empresa abastece o exército ucraniano e entrega frango pronto para o consumo a civis em cidades bombardeadas.

A mudança mostra a rapidez com que a indústria agrícola da Ucrânia – um peso pesado global – passou de alimentar o mundo para alimentar o próprio país. A invasão da Rússia está deslocando milhões de pessoas e deixando outras sem acesso a eletricidade, água e itens essenciais.

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Mesmo com a infraestrutura danificada do país e os desafios para obter combustível e ração para frangos, o setor agrícola está se esforçando para manter o suprimento de alimentos. A MHP está aumentando a produção em suas fábricas de aves nas regiões de Vinnytsia, Cherkasy e Dnipro, tentando preencher a lacuna que se abriu quando os concorrentes deixaram de atender e as empresas de suínos na região leste devastada fecharam, disse o presidente executivo da MHP, John Rich, em entrevista da Eslovênia.

“Estamos entregando a ajuda humanitária para fora das cidades para que as pessoas possam ter acesso a ela”, disse Rich. “Produtos prontos para consumo estão sendo distribuídos para áreas onde as pessoas não podem cozinhar. É preciso alimentar as crianças.”

A guerra está chocando os mercados de commodities e elevando os preços dos alimentos à medida que as exportações da região do Mar Negro são interrompidas. A Ucrânia é o segundo maior exportador de grãos do mundo e um grande vendedor de frango. A MHP produz até 900.000 toneladas de frango por ano, e cerca de 750.000 toneladas vêm da Ucrânia. O bloqueio da marinha russa aos portos da Ucrânia está elevando os preços do frango no Brasil.

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Veja mais: Guerra na Ucrânia eleva demanda e preços de exportação do frango

Algumas empresas agrícolas ucranianas estão tendo muita dificuldade para continuar as operações. A exportadora de grãos e processadora de sementes oleaginosas Kernel (KRNLU) invocou a cláusula de força maior na terça-feira (11), dizendo que não pode transportar mercadorias para o exterior devido a questões de segurança e proteção.

A Ukrlandfarming disse na semana passada que 3 milhões de frangos em sua fábrica na cidade de Kherson, no sul do país, podem morrer de fome porque os bombardeios dos militares russos estavam destruindo seu sistema de fornecimento de ração. Somada a problemas semelhantes em outras fábricas, essa situação pode reduzir a produção nacional de ovos em um sexto, disse a empresa.

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A produtora de grãos, açúcar e leite, Astarta (AST.WA), uma das cinco maiores proprietárias de terras agrícolas do país, entregou mais de 500 toneladas de alimentos a soldados e civis e disse que está se preparando ativamente para o plantio de primavera. A empresa está fornecendo abrigo para milhares de refugiados em suas instalações e dormitórios.

A MHP está fornecendo comida para o exército a preço de custo e carne para as cidades de graça, e está tentando cobrir as despesas com vendas a supermercados. Também se comprometeu no mês passado a fazer entregas gratuitas aos hospitais. A empresa, que emprega mais de 26.000 pessoas na Ucrânia, está perdendo dinheiro, disse Rich.

A MHP cultiva cerca de 1 milhão de acres de grãos, incluindo trigo, milho e colza, na Ucrânia e produz óleo de girassol. Ainda tem estoques de combustível, fertilizantes e pesticidas e pode começar a semear dentro de duas semanas se a situação atual não mudar, disse Rich.

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“Enquanto falamos, temos cerca de 50.000 hectares nas zonas vermelhas, o que significa que há artilharia e tanques russos, portanto, no momento, não está operacional”, disse Rich. “Se tivermos oportunidade, vamos semear. Se a guerra se desenvolver e piorar, aí não sabemos como será.”

– Com a colaboração de Kateryna Choursina.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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