ETFs finalmente se deparam com crise que não conseguem superar

Nem mesmo a pandemia segurou os fundos, mas sanções à Rússia colocam ETFs com foco na Rússia em risco

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Bloomberg — Da pandemia à crise da dívida grega, os fundos negociados em bolsa operaram normalmente durante alguns dos momentos mais difíceis para os mercados. Mas com a invasão Russa na Ucrânia, o setor está finalmente enfrentando um obstáculo que não consegue superar.

O anúncio na quarta-feira (11) de que um produto listado em Tóquio irá suspender o trading na próxima semana significa que agora todos os ETFs de ações focados na Rússia no mundo estão suspensos ou estarão em breve. Esse tipo de impacto é algo que eventos como a Primavera Árabe e até a covid não geraram.

Os investidores recorrem a esses produtos em tempos de turbulência como fontes de liquidez, mas as consequências financeiras da invasão da Ucrânia são tão extremas que, desta vez, os emissores de fundos não podem mais tornar o inegociável negociável.

“Estas são circunstâncias extraordinárias, uma situação que nunca vivemos durante a era dos ETFs”, disse Ben Johnson, diretor de pesquisa global de ETF da Morningstar (MORN). “Este é um episódio que nos mostrou quais são os limites.”

As sanções contra a Rússia e a própria resposta do país – incluindo o fechamento do mercado doméstico e controles de capital – significam que as ações russas mantidas por uma série de ETFs não são negociáveis.

Em episódios semelhantes anteriores, como quando os mercados egípcios fecharam por quase dois meses durante a Primavera Árabe, os fundos continuaram sendo negociados com a expectativa de que a bolsa acabaria por reabrir. Os ativos e fundos subjacentes se alinharam quando isso aconteceu.

O problema com a Rússia é que, mesmo que o mercado de Moscou reabra, as restrições farão com que os ETFs ainda não possam comprar ou vender ativos russos.

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“Há situações que considero únicas e sem precedentes, e esta é uma delas”, disse Sylvia Jablonski, CEO da Defiance ETFs.

Jablonski espera que esses eventos levem o setor a criar novas diretrizes para qualquer futuro cenário semelhante. “Acho que essas se tornarão regras para índices para que os investidores saibam: ‘se X, Y, Z acontecerem, e fecharmos o mercado acionário ou impusermos contra este país, o fornecedor do índice avaliará esse título em zero, ou usará o último preço até que a situação se encerre’”, afirmou.

Por enquanto, emissores de fundos e investidores ainda estão à mercê de eventos geopolíticos. O Next Funds Russia RTS Linked ETF é o último ETF com foco na Rússia negociado nos principais mercados, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Ele será interrompido a partir de 17 de março, disse o Japan Exchange Group em comunicado.

A decisão segue suspensões de produtos de emissores desde BlackRock à Franklin Templeton. Já foi anunciado que pelo menos um fundo, um produto alavancado da Direxion Shares ETF Trust, está sendo fechado. O destino de todos os outros – que detêm sobretudo ativos russos propriamente ditos, em vez das opções usadas pelo fundo alavancado – permanece incerto.

Eric Balchunas, analista-sênior de ETF da Bloomberg Intelligence, avalia que há dois resultados prováveis. O primeiro é que a situação geopolítica melhore, a paralisação seja suspensa e a normalidade seja retomada, algo que provavelmente faria com que os preços desses fundos saltassem. O segundo seria a crise se intensificar, os ETFs serem liquidados e os investidores ficarem sem nada.

“Nunca vi nada assim”, disse Balchunas. “Os ETFs são as baratas do mundo dos investimentos. Eles sobrevivem a tudo, e isso foi comprovado repetidamente.”

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