Bloomberg Línea — A pesquisa XP/Ipespe divulgada nesta sexta-feira (11) mostrou mais um retrato do cenário que vem se repetindo pelo menos desde outubro do ano passado: as intenções de voto no presidente Jair Bolsonaro (PL) em torno de 25% e no ex-presidente Lula (PT), em torno de 40%.
O cientista político Marco Teixeira, professor da FGV-SP, analisa que as diferenças de porcentagens nas respostas espontâneas (quando o entrevistador não fala o nome de nenhum candidato para o entrevistado) e estimuladas mostram um cenário pior para Bolsonaro. Isso indicaria que o presidente atingiu um limite de crescimento difícil de extrapolar.
Veja também: Eleições: Gráficos mostram avanço de Bolsonaro após Auxílio Brasil
A pesquisa do Ipespe divulgada nesta sexta mostra que o presidente foi citado espontaneamente por 26% dos pesquisados. Na entrevista estimulada, Bolsonaro ficou com 28% das intenções de voto.
Já Lula aparece com 36% das intenções de voto na entrevista espontânea e 43%, na estimulada.
“Por mais que tanto Lula quanto Bolsonaro venham se mantendo estáveis ao longo dos últimos meses nas pesquisas, o fato de o presidente apresentar pouca ou nenhuma variação da espontânea para a estimulada indica que ele pode ter encostado em seu teto de intenções de voto: os mesmos 25% a 30% do eleitorado que ele sempre teve”, diz Teixeira.
A pesquisa divulgada hoje mostra ainda que o número de entrevistados que acham que a economia está no caminho errado caiu de dezembro para cá (69% a 61%). E a proporção de eleitores que avalia o enfrentamento da pandemia pelo governo como “ótimo ou bom” cresceu de 20%, em janeiro, para 28% agora.
No entanto, Marco Teixeira acredita que “isso não tem se traduzido em intenção de voto”. “Estão tendo dificuldade de furar o teto”, afirma.
O estudo mostra ainda que 65% dos entrevistados não acreditam que serão beneficiados com a liberação do saque do FGTS.
Voto “envergonhado”
O pesquisador Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral, observa os mesmos dados que o colega Marco Teixeira, mas é mais cauteloso.
“O presidente tem usado toda a máquina governamental neste ano de eleição para tentar recuperar um eleitor que já foi dele - mais educado, mais velho e com mais poder aquisitivo. E os números mostram que ele tem conseguido”, analisa Carazza.
Para ele, “é difícil cravar que o Bolsonaro tenha batido no teto”. “Se a intenção de voto não mudou, pode ser que haja um ‘voto envergonhado’, como houve em 2018. Ou pode ser que, num cenário de segundo turno, os eleitores de Sergio Moro e João Doria migrem para ele. Ainda tem muita coisa para acontecer daqui até outubro, não descartaria a possibilidade de o presidente capturar eleitores desses outros candidatos”, diz.
Carazza vê ainda como “movimento interessante” a reação dos eleitores em relação à pandemia. Em janeiro, 35% dos entrevistados disseram ter “muito medo” da pandemia. Na pesquisa divulgada hoje, a cifra caiu para 15%.
“Esse sentimento de que o pior da pandemia já passou e que a vida já pode voltar ao normal pode acabar favorecendo Bolsonaro”, afirma.
A pesquisa ouviu mil pessoas por telefone entre os dias 7 e 9 de março. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com índice de confiança de 95%. O registro no TSE é BR-03573/2022.
Leia também:
Você apoia democracia, mas anda insatisfeito? Muita gente se sente assim
Inflação desgasta mais Bolsonaro do que pandemia, diz pesquisa