Credores da Samarco adiam assembleia e apostam em negociação

Expectativa por acordo veio com nova proposta da empresa para reestruturar dívida de R$ 50,5 bilhões na assembleia

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Bloomberg — Credores da Samarco Mineração SA, produtora de minério de ferro de propriedade conjunta da Vale (VALE3) e do Grupo BHP, votaram pelo adiamento de uma reunião na quinta-feira até o dia 1 de abril na esperança de que possam negociar um novo plano com os acionistas da empresa, disseram pessoas com conhecimento direto do assunto.

A expectativa de que um acordo possa ser alcançado veio depois que a Samarco apresentou uma nova proposta para reestruturar sua dívida de R$ 50,5 bilhões na assembleia, disseram as pessoas, pedindo para não serem identificadas porque as discussões são privadas. A proposta oferece, em vez da conversão anterior de dívida em ações, uma troca de dívida sem qualquer deságio por outro instrumento de dívida, um título de dívida perpétua em dólares ou em reais com um rendimento chamado de “cash sweep”, no qual o excesso de caixa da empresa iria para o pagamento desses títulos prioritariamente.

“A decisão permitirá mais tempo para negociações da companhia com os seus credores visando a alcançar um bom termo para todas as partes,” disse a Samarco em comunicado.

A nova proposta não será aceita pelos credores do jeito que está, disseram duas das pessoas, mas abre caminho para uma nova rodada de negociações com os acionistas. Os detentores de títulos membros do comitê ad hoc vinham pedindo à companhia em negociações anteriores que não queriam receber ações preferenciais em troca de dívida, disseram as pessoas.

“A beleza desse título para os credores internacionais é que eles podem ser listados e negociados em bolsa. Não carregam os riscos relacionados à empresa e aos credores se tornarem acionistas”, disse Fabiano Saragiotto, diretor de reestruturação da Samarco, durante a assembleia.

Além do bônus perpétuo, os credores podem optar por receber papéis com um deságio de 75%, com vencimento em 2041, com juros de 1% ao ano e pagamento em espécie (PIK). A proposta também manteve o teto de US$ 2,4 bilhões em pagamentos da Samarco para reparos de um desastre mortal em sua barragem em 2015, em Mariana, Minas Gerais. Os até US$ 3,1 bilhões restantes que poderiam ser necessários para os reparos, conforme estimativa da empresa, seriam pagos pela Vale e pela BHP, que passariam a deter uma dívida com a Samarco.

Pela nova proposta, a Samarco ainda precisaria de uma injeção de capital de US$ 1,4 bilhão, que viria da emissão de outros títulos, e não mais ações preferenciais e empréstimo DIP propostos anteriormente.

Antes da reunião de quinta-feira, os credores disseram que apresentariam um plano alternativo de reestruturação para a mineradora, que incluiria um novo grupo de acionistas controladores para assumir o controle após sua aprovação. Eles estão trabalhando com Tito Martins, ex-diretor da Vale SA e ex-presidente da Nexa Resources.

Após o desastre da barragem em 2015, a Samarco interrompeu as operações, que foram retomadas em parte em dezembro de 2020. A joint-venture entre a Vale e a BHP entrou com pedido de recuperação judicial em abril de 2021 e incluiu R$ 24,1 bilhões devidos à Vale e à BHP por linhas de crédito que as duas empresas estenderam para pagar reparações pelo desastre e para financiar as operações da Samarco. Fundos de investimento e bancos detêm outros R$ 26,4 bilhões de dívida da Samarco, incluindo títulos e empréstimos.

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