São Paulo — O CEO do grupo varejista Via, Roberto Fulcherberguer, disse nesta quinta-feira (10) que a companhia está saudável, aumentando participação de mercado, diversificando fontes de receitas, controlando a inadimplência e melhorando o perfil do seu endividamento, mesmo em um cenário macroeconômico mais desafiante de juros e inflação em patamar elevado. A dona das marcas Casas Bahia, Ponto, Extra.com.br e AsapLog planeja abrir entre 80 e 100 novas lojas neste ano.
“Estamos entregando tudo que prometemos e estamos começando a colher os frutos dos investimentos em tecnologia, logística e serviços financeiros”, afirmou o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.
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A avaliação do CEO contrasta com alguns relatórios de analistas, que nos últimos trimestres expressaram preocupações com o impacto do aperto monetário no desempenho do varejo como um todo com a escalada da inflação e dos juros, além dos processos trabalhistas que a atual administração da Via herdou. Em janeiro, a agência de classificação de risco S&P chegou a rebaixar a nota da Via e alterou a perspectiva para negativa prevendo um ano difícil para suas margens de lucro.
Fulcherberguer evitou polemizar sobre as leituras que o mercado faz sobre a companhia, preferindo focar nos indicadores operacionais alcançados pelo grupo no ano passado. Em 2021, a Via reportou um lucro líquido operacional de R$ 538 milhões, um crescimento de 32%, sendo R$ 125 milhões no quarto trimestre. O Ebitda ajustado operacional atingiu R$ 2,5 bilhões, com margem de 8%. O GMV total bruto aumentou 14,9% em 2021, somando R$ 44,604 bilhões. A companhia encerrou o ano com uma posição de caixa de R$ 6,7 bilhões. “Cada um usa as suas métricas”, resumiu o executivo.
Ele relativizou o peso que alguns analistas estão dando às provisões de processos trabalhistas em suas análises, citando a situação de caixa da companhia e seu calendário de monetização de créditos tributários. Um relatório da XP, divulgado em janeiro, chegou a dizer que alguns investidores questionanam sobre o risco de um possível pedido de recuperação judicial (RJ) por parte da Via. A XP considerou esse risco improvável.
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Após a divulgação do balanço, na noite de ontem, as ações da Via abriram hoje em queda e chegaram a desabar 7,6% na cotação mínima de R$ 3,15, menor valor em 52 semanas, quando já chegou a ter uma máxima de R$ 16,19. Para Fulcherberguer, o desempenho da ação hoje não reflete uma reação negativa ao resultado financeira da Via, mas as preocupações do mercado com a inflação, após o anúncio do reajuste dos combustíveis pela Petrobras, e com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Hoje o Ibovespa, principal referencial do mercado acionário brasileiro, chegou a cair até 1,73%.
Evasão fiscal
Outro tema frequente nos relatórios dos analistas sobre a Via é o efeito da concorrência com a chegada de plataformas chinesas de varejo ao Brasil, alvos de críticas sobre a adoção de práticas agressivas de conquista de participação de mercado.
“A Via não tem que se preocupar com concorrência. Até gosto de concorrência porque motiva a buscar sempre ser melhor, mas que a concorrência pague todos os tributos como a gente. O país está perdendo muita arrecadação”, comentou Fulcherberguer, sem fazer uma referência direta aos chineses.
O CEO da Via fazia alusão a um estudo do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), com o apoio da consultoria McKinsey & Company, que estimou entre R$ 95 bilhões e R$ 125 bilhões a evasão e a não arrecadação de tributos no varejo no Brasil, em 2020, com o varejo digital apresentando maior evasão tributária do que o varejo físico, de 33% a 37% das vendas contra 25% a 34% das vendas físicas.
Para reduzir custos e aumentar eficiência no e-commerce, o CEO da Via destacou o papel da logtech CNT, cuja aquisição foi concluída em janeiro. Com esse ativo, a companhia vai começar neste semestre a capturar ganhos com logística, oferecendo serviços de fullcommerce e fulfillment (armazenamento, separação do pedido, embalo do produto, faturamento e envio para a transportadora e cliente) aos seus parceiros (sellers) de marketplace. O ecossistema omnicanal do grupo é formado por mais de 1.100 lojas e 28 Centros de Distribuição.
Outra aposta do CEO para 2022 é o BanQ, sua fintech que triplicou o número de contas, alcançando 4,3 milhões no fim de 2021, e passou a oferecer empréstimo pessoal, aumentando a maior frequência e recorrência dos clientes nas lojas do grupo. Já a Casas Bahia começou a oferecer o carnê digital para compra de produtos do marketplace, podendo parcelar suas compras em até 24 vezes, sem a necessidade de cartão de crédito. “Estamos concedendo mais crédito, e a inadimplência está controlada”, disse Fulcherberguer.
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