Verde na floresta e no bolso: Moss vende partes da Amazônia para conservação

A climatech está vendendo NFTs da floresta amazônica que prometem não só conservar a mata, mas também dar dinheiro para o proprietário da terra

Quem comprar o NFT da Amazônia da Moss vira proprietário de um hectare - aproximadamente o tamanho de um campo de futebol - do terreno da floresta. Foto: Dado Galdieri/Bloomberg
09 de Março, 2022 | 10:10 AM

Se antes casais apaixonados compravam estrelas, agora, quem quer ser dono de uma floresta, pode ter sua parte da Amazônia com um NFT. É uma iniciativa da Moss, a climatech brasileira de soluções ambientais e comercialização de créditos de carbono em blockchain.

Quem comprar o NFT da Amazônia da Moss vira proprietário de um hectare - aproximadamente o tamanho de um campo de futebol - do terreno da floresta. É assim que a Moss espera ajudar a conservação da maior floresta tropical do mundo já que, para o dono do terreno, a startup se compromete a prestar o serviço de conservação por 30 anos naquela área. O custo dessa conservação está no preço da venda do NFT.

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Mas por que vender um pedaço da Amazônia para conservação? Segundo Luis Felipe Adaime, CEO e fundador da Moss, a principal razão do desmatamento ilegal da Amazônia é o uso da terra para agricultura. “Desmatam porque não tem dinheiro. Na Amazônia há esse negócio de como a terra com floresta é muito barata, você cria um incentivo perverso para as pessoas comprarem a área com floresta”, explica Adaime.

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Segundo o executivo, geralmente um hectare na Amazônia pode custar de US$100, US$200 até US$1.000 por hectare, a depender da área. “Se você comprou por mil dólares, você desmata e normalmente revende por cerca de US$ 1.500 por hectare. Pagam mais pela área desmatada porque já é possível começar a plantar. Enquanto a floresta em pé for mais barata do que a área desmatada, vão queimar a Amazônia inteira”.

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Para que a floresta em pé valha mais do que a área desmatada, a Moss trabalha com o desenvolvimento de projetos de conservação que geram carbono. De acordo com o executivo, uma área de mil dólares por hectare gera cerca de dez créditos de carbono por ano. Se o crédito vale US$ 15, o ganho com a floresta em pé é de US$ 150. “Se a pessoa comprar essa área e conservar, ela vai ganhar 15% de retorno em dólar ao ano por trinta anos. Esse retorno já começa a ficar mais alto do que o que ela teria se desmatasse”, explica.

Com bons retornos para os investidores, a Moss aposta que mais pessoas comprem terra da Amazônia para conservar e isso eleve o preço, o que faz com que essa remuneração de 15% ao ano caia, já que será dividida em um denominador maior. Logo, a terra ficará mais cara.

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“Se o retorno for na casa de 7%, por exemplo, o valor da terra dobrará. Se o valor da terra florestada dobra de US$ 1.000 para US$ 2 mil, ninguém vai comprar terra a US$ 2 mil dólares para desmatar e revender. Assim a gente estanca o desmatamento”.

Não é como se antes da Moss não fosse possível comprar terrenos na Amazônia para conservação. Mas a ideia da Moss é deixar isso mais fácil para que qualquer pessoa possa comprar a terra de forma online.

Um QuintoAndar de terrenos na Amazônia

Assim como o QuintoAndar faz com apartamentos, a Moss quer desburocratizar a compra de terrenos na floresta, para que o comprador não precise se preocupar em verificar documentação ou grilagem.

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Com um algoritmo que consolidou todas as bases de dados das 25 milhões de propriedades rurais do Brasil, a Moss roda um programa que diz se a terra está com o documento em ordem, e com as devidas certidões ambientais e fundiárias da propriedade.

Mas como funciona essa propriedade da Amazônia? A empresa intermedia a compra do investidor. No cartório, a startup compra a terra e coloca a floresta no nome da Moss como uma subsidiária. Depois, digitaliza os dados de cadastros e certidões ambientais em blockchain. Aí, qualquer um pode comprar um pedaço da floresta amazônica para “chamar de seu”. Com uma condição: o compromisso de não desmatar e conservar a área.

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Assim, na verdade, perante as autoridades brasileiras, o dono da terra na Amazônia é a Moss. Funciona como um fundo imobiliário que não cobra comissão. Mas se a terra for invadida por algum detentor no NFT, cabe à Moss tomar as medidas judiciais já que, legalmente, o terreno é da empresa.

Pelo site da Moss é possível comprar um pedaço da Amazônia com cartão de crédito. Ou até com a carteira de Bitcoin. Segundo Adaime, o valor dessa terra vendida localmente no mercado secundário já é de US$ 8 mil dólares por hectare, o que mostra que a estratégia de valorização da terra com a floresta em pé deu certo, com valorização do terreno em quatro vezes. “Tiramos o racional econômico dos desmatadores”, explica.

A Moss disse que tem uma parceria com uma empresa de monitoramento de imagens por satélite americana que fornece imagens atualizadas daqueles pedaços de floresta a cada seis dias. A nível de comparação, o Google atualiza suas imagens de satélite a cada seis meses.

“Conseguimos prever ou medir o risco de desmatamentos e mitigá-los, verificar riscos de aproximação de invasores e tomar ações antes de que a terra seja invadida e desmatada. Isso envolve cercar e acessar autoridades”. Para essa conservação por 30 anos, a Moss cobra 20% do NFT para um fundo em blockchain para proteção da terra. A ideia é que o dono da terra deixe a conservação a cargo da Moss enquanto tem o ativo.

“Os dados são públicos e transparentes para todo mundo ver esse fundo que a gente está montando”, afirma o executivo.

A Moss já vendeu duas séries de NFTs - 100 hectares - para investidores de varejo. Juntas, essas áreas valem US$ 225 mil (R$ 1,1 milhão). A empresa terá uma outra série e ainda tem 350 hectares disponíveis para venda, com o compromisso futuro de compra e venda para mais dez mil hectares.

“A nossa ideia é vender os dez mil hectares, que daria um valor de vendas de mais ou menos US$ 30 milhões de dólares”, diz Adaime.

Ainda que seja possível usar o terreno como uma poupança ou um investimento em um terreno com o valor agregado pela conservação da floresta, segundo Adaime, para as empresas, ter um pedaço da Amazônia é uma forma mais lúdica de explicar medidas ESG (Environmental Social Governance).

“Para muita empresa que tem tido dificuldade de explicar medidas de compensação de carbono, pegada de carbono, inventário, é muito mais fácil dizer que as ações de sustentabilidade são as compras de hectares amazônicos. É um negócio muito mais tangível”.

Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups