Bloomberg — O conselho de administração da Petrobras (PETR4) (PETR3) está ficando desconfortável com o fato de a estatal não ajustar os preços dos combustíveis mesmo com a alta do petróleo, disseram duas pessoas com conhecimento direto do assunto.
Os membros do conselho, responsáveis por supervisionar o cumprimento da política de preços da empresa, estão cada vez mais inquietos com as discussões políticas envolvendo a Petrobras, afirmaram as fontes, pedindo para não serem identificadas porque as conversas são privadas.
Em fevereiro, eles solicitaram explicações da área de comercialização da empresa sobre o motivo do não aumento dos preços, disseram as pessoas.
A Petrobras está sob crescente pressão política para baratear o combustível antes das eleições de outubro. Os investidores estão nervosos com uma possível interferência política, enquanto o setor privado diz que a diferença entre o que a Petrobras cobra na refinaria e os níveis internacionais inviabiliza economicamente a importação de gasolina e diesel para o Brasil.
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Subsídio
A equipe econômica já aceita dar subsídios ao diesel e ao gás de cozinha, com a aposta de que essa medida combinada ao projeto de lei que muda a forma de cobrança do ICMS sobre os combustíveis será suficiente para suavizar os preços, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto.
Os integrantes da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, não querem discutir o congelamento dos preços da Petrobras, mas pressionam para que a empresa faça um gesto, como demorar mais para transferir custos para os preços, disseram as pessoas, pedindo para não serem identificadas porque as conversas são privadas.
A Petrobras e o Ministério da Economia não comentaram.
O conselho também está discutindo uma mudança na política de preços para permitir à companhia considerar um período mais curto para ajustar os preços ao nível internacional. Vários membros do conselho já se manifestaram a favor, segundo as fontes. As discussões, porém, ainda estão em estágio muito inicial e podem ficar para o novo conselho, que será eleito no próximo mês.
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No começo da pandemia de covid no início de 2020, a Petrobras passou a avaliar a paridade com os preços internacionais anualmente, sendo que antes disso o ajuste era trimestral.
A estatal mantém os preços inalterados desde janeiro, quando o petróleo oscilava perto de US$ 82 o barril, mais de 30% abaixo do preço de fechamento da commodity na terça-feira.
Tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas eleitorais, criticaram o lucro elevado da Petrobras e afirmaram que a empresa precisa contribuir com sua parte, embora Bolsonaro tenha prometido não intervir.
Na terça-feira, a Amec, associação que representa investidores institucionais com cerca de US$ 700 bilhões no mercado de ações, expressou preocupação com a falta de transparência na Petrobras.
O uso de empresas para servir aos interesses públicos “aumenta a percepção de risco de mercado e prejudica os planos de investimento planejados”, disse a Amec em carta aberta à gigante estatal.
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