Commodities agrícolas caem mesmo com cortes na produção mundial

Produção global de soja menor, queda na exportação de milho da Ucrânia e aumento das vendas de soja americana ficaram aquém do esperado

Preços recuam no mercado internacional, mesmo com corte na estimativa de produção
09 de Março, 2022 | 06:32 PM

Bloomberg Línea — O mercado esperava mais do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Com estimativas abaixo do que era esperado, as commodities agrícolas tiveram um dia de perdas. Mesmo com o USDA promovendo um corte de 10 milhões de toneladas em sua projeção para a oferta mundial de soja, os preços do grão para entrega em maio terminaram o pregão desta quarta-feira em queda de 0,95%, cotados a US$ 16,73 por bushel.

Mais do que a atualização dos dados de produção mundial, especialmente da América do Sul, o mercado esperava pelos dados de exportação dos Estados Unidos. Em relação a fevereiro, o relatório de março indicou que as vendas externas americanas no ciclo 2021/22 ficarão em 56,88 milhões de toneladas, apenas 2% maiores. O sentimento era que esse aumento fosse maior, uma vez que a China tem se mostrado um comprador ativo no mercado. Com isso, os estoques finais de soja se mantiveram praticamente inalterados, frustrando os operadores que esperavam por uma queda, o que sustentaria um movimento de alta nos preços em Chicago.

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No caso do milho, o USDA atualizou sua expectativa para a exportação da Ucrânia, já refletindo os efeitos da guerra com a Rússia. A nova estimativa prevê que as vendas externas ucranianas serão 18% menores por conta das dificuldades logísticas no embarque. Mesmo assim, os preços do cereal para entrega em maio recuaram 2,66% e terminaram o dia valendo US$ 7,33 por bushel, no menor valor dos últimos cinco pregões de Chicago.

Mais uma vez, a expectativa do mercado era que os dados de exportação de milho para cima fossem revisados para cima. De fato, o USDA ampliou em 3,1% sua projeção em relação a fevereiro, colocando as vendas externas americanas de milho em 63,5 milhões de toneladas. Contudo, sem o milho ucraniano, a expectativa do mercado era que os importadores fossem buscar esse cereal nos Estados Unidos, o que não foi sinalizado, pelo menos por enquanto, no relatório do USDA.

Nem mesmo o trigo escapou da queda. A cotação do cereal com vencimento em maio recuou pouco mais de 6% para US$ 12,01 por bushel, o menor patamar de semana até agora. O USDA reduziu em 3 milhões de toneladas a estimativa para a exportação de trigo da Rússia e cortou em 4 milhões de toneladas a da Ucrânia. Em termos percentuais, os ajustes representam uma redução de 8,6% nas vendas russas e de 16,7% nos embarques ucranianos. Em compensação, as exportações da Austrália foram ampliadas em 2 milhões de toneladas. O próprio USDA reconheceu que os ajustes, especialmente no caso do trigo, foram preliminares e o sentimento é que novos cortes virão pela frente, o que tende a manter os preços do cereal em patamares elevados.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.