Bloomberg — Um aumento sem precedentes nos preços do níquel, impulsionado pela guerra na Ucrânia, está transformando um portfólio de minas antes decadente em ativos valiosos.
Nos dias inebriantes do superciclo de commodities dos anos 2000, a gigante brasileira de minério de ferro Vale SA (VALE3) fez uma aposta de US$ 17 bilhões em um metal usado principalmente para fazer aço inoxidável. A compra da mineradora canadense de níquel Inco Ltd., anunciada em 2006, fazia parte do objetivo do então CEO Roger Agnelli de transformar a Vale em um peso pesado global diversificado em um momento de demanda chinesa aparentemente insaciável por matérias-primas.
À medida que a alta do níquel se mostrou acertada no início de 2007, a oferta agressiva de Agnelli aos rivais pelos amplos depósitos da Inco no Canadá, Brasil, Indonésia e Nova Caledônia parecia um golpe de gênio. Mas então os preços caíram e a incursão no níquel rapidamente se tornou uma faca no pescoço da Vale.
“Foi um sonho de uma noite de verão”, disse José Carlos Martins, ex-executivo sênior da Vale, em entrevista na terça-feira. “Os preços recuaram e ficaram mais próximos do custo de produção por anos.”
Mas a sorte do níquel começou a mudar quando se tornou um ingrediente-chave nas baterias recarregáveis. Com a revolução dos veículos elétricos ganhando força, o mercado de níquel para baterias começou a apertar, aumentando o valor dos depósitos arrematados no acordo com a Inco. Então, a invasão da Ucrânia viu os preços do níquel dispararem, já que os temores sobre a oferta russa deixaram os compradores expostos a um aperto histórico.
Recorde histórico
O breve pico do níquel acima de US$ 100 mil a tonelada métrica na London Metal Exchange pode não ser sustentável. Mas, como segunda produtora mundial, a Vale se beneficia das preocupações com o fornecimento da russa MMC Norilsk Nickel PJSC, a maior produtora.
De acordo com o analista do Itaú BBA, Daniel Sasson, cada mudança de US$ 10 mil no preço do níquel se traduz em US$ 1,8 bilhão no lucro da Vale antes de itens. Isso aumenta os ativos que a Vale já estava considerando desmembrar em uma tentativa de desbloquear o potencial de valor que a empresa calculou no mês passado em US$ 40 bilhões.
A decolagem vertiginosa do níquel nesta semana é um sinal para a Vale finalmente avançar no spinoff de metais básicos, de acordo com Martins, agora sócio-gerente da Neelix Consulting Mining & Metals. “É hora de fazer uma jogada ousada no níquel.”
A turbulência do mercado de níquel da semana passada pode ajudar a Vale a divulgar os pontos fortes de seu portfólio de metais básicos, que está se recuperando de uma série de reveses operacionais no Canadá e no Brasil. Preços mais altos também podem acelerar uma nova joint venture na Indonésia.
A Vale pode “fazer mágica acontecer” em metais básicos, disse Deshnee Naidoo, o novo chefe de metais básicos da empresa, em uma teleconferência de resultados em 25 de fevereiro. “Temos os ativos certos e uma base de recursos inigualáveis em jurisdições com conhecimento técnico para desbloquear uma cadeia de valor para atender a esse crescimento da demanda.”
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