São Paulo — O Grupo Santander (SANB11) anunciou nesta terça-feira (8) um acordo para a compra de 80% da WayCarbon Soluções Ambientais e Projetos de Carbono, empresa líder em consultoria ESG (sigla em inglês para meio ambiente, governança e sociedade) sediada no Brasil. O valor do negócio não foi divulgado. Apesar de a Way Carbon ser brasileira, a compra foi feita pelo Santander na Espanha. Essa foi a razão de a filial não ter divulgado fato relevante na B3.
A principal ferramenta desenvolvida pela Way Carbon é o seu software Climas, que funciona integrado ao ERP (Enterprise Resource Planning, sistema de gestão integrado), permitindo às companhias monitorarem e analisarem, em tempo real, mais de 5 mil parâmetros, a fim de preencher seus relatórios de sustentabilidade sobre todas as operações.
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Além do Climas, há outros softwares que disputam o mercado de gestão de indicadores e performance ESG, como o SIS (Sistema de Indicadores de Sustentabilidade), da TBL Manager, e a plataforma Deep ESG, de uma startup homônima de São José dos Campos (interior paulista). A vantagem do Climas é que muitas companhias abertas brasileiras o adotam. E com a compra da consultoria pelo Santander, o banco poderá ter acesso a esse mercado.
“A WayCarbon é uma empresa B (que equilibra propósito e lucro) focada em catalisar a transição para a economia de baixo carbono, e já vínhamos registrando um ritmo acelerado de crescimento nos últimos anos. Agora, com o Santander, aumentaremos a escala de nosso impacto positivo, em linha com o objetivo de cumprir nosso propósito”, disse Felipe Bittencourt, CEO da WayCarbon, em nota.
“Esta aquisição é um passo importante para aprimorar ainda mais as ofertas de sustentabilidade do Santander, a fim de apoiar os clientes de todos os mercados em suas transições para a economia de baixo carbono”, diz comunicado da filial do banco espanhol.
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Os mercados de carbono permitem que empresas, organizações sem fins lucrativos, governos e indivíduos comprem e vendam créditos de carbono, que equivalem à redução de uma quantidade específica de emissões.
“Como referência em ESG, a WayCarbon nos ajudará tanto com nossos próprios objetivos quanto na transição de nossos clientes para modelos de negócios mais sustentáveis”, comentou José Linares, diretor global do Santander Corporate & Investment Banking (Santander CIB), em nota.
No Nordeste do Brasil, por exemplo, o Santander tem apostado em projetos de energias renováveis, como eólica e solar. O setor de energia renovável tende a atrair fundos estrangeiros, como destacou o ex-CEO do banco, Sergio Rial, em sua última teleconferência com jornalistas para discutir o resultado financeiro de 2021, no dia 2 de fevereiro. Ele se despediu do cargo de CEO, assumido por Mario Leão no começo do ano.
A Way Carbon tem assessorado organizações públicas e privadas a realizar as suas transições energéticas há 15 anos, com 170 funcionários atendendo a clientes de 18 países. A empresa oferece três serviços principais para ajudar os clientes a desenvolver e implementar estratégias para aumentar sua sustentabilidade: consultoria ESG; software de gestão de estratégias ESG e de risco climático; e originação e comercialização de créditos de carbono.
“Enxergamos uma oportunidade única de posicionar o Santander à frente de um mercado que irá crescer de forma exponencial. A originação e a negociação de créditos de carbono são importantes ferramentas para acelerar tanto o corte quanto a compensação de emissões, da mesma forma que os CBIOs, que são os créditos de descarbonização criados no Brasil para o setor de combustíveis, no âmbito do Renovabio. O estímulo financeiro é um poderoso acelerador, que se soma de forma decisiva às ações de educação e conscientização”, comentou Carlos Aguiar, diretor de agronegócios do Santander Brasil.
O Santander informou que tem o objetivo de mobilizar € 120 bilhões em negócios relacionados às finanças verdes entre 2019 e 2025, e € 220 bilhões até 2030 como parte de sua agenda sustentável e de seu apoio à transição de seus clientes para uma economia de baixo carbono.
O banco diz que já é carbono neutro em suas próprias operações e tem a ambição de atingir emissões líquidas zero para todo o grupo até 2050, em apoio aos objetivos do Acordo de Paris em relação às mudanças climáticas. E para facilitar a transição para uma economia de baixo carbono, o Santander informa que alinhará até 2030 o seu portfólio de geração de energia ao Acordo de Paris.
A compra da participação na WayCarbon deverá ser concluída no segundo trimestre deste ano, sujeita a condições de fechamento.
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