Bloomberg — A Prisma Capital, gestora de investimentos alternativos criada por ex-sócios do Banco BTG Pactual (BPAC11), vê um ano com mais “situações complexas” no Brasil para investir US$ 650 milhões levantados em seu terceiro fundo.
“Temos um mandato flexível que nos permite investir em variadas classes de ativos e papéis, incluindo ações no mercado privado ou público, crédito, imóveis, empresas em recuperação judicial e precatórios”, disse Marcelo Hallack, sócio-gerente da Prisma, em uma entrevista. “As disfuncionalidades políticas, legais e tributárias do país, que cronicamente resultam em volatilidade macroeconômica, também criam oportunidades de investimento.”
As empresas brasileiras estão sofrendo mais para obter financiamento em meio a um forte aumento nos juros básicos do país, que foram de 2% há um ano para 10,75%. Uma parada virtual na atividade econômica e a paralisia nos mercados de capitais estão aumentando a pressão, assim como a invasão da Ucrânia pela Rússia e a iminente eleição presidencial do Brasil em outubro. A economia do Brasil deve crescer apenas 0,5% este ano, abaixo dos 4,6% em 2021, segundo previsões compiladas pela Bloomberg.
Durante esse tipo de ciclo econômico, os bancos geralmente se tornam mais cautelosos na concessão de crédito, e isso aumenta a demanda pelos tipos de soluções de capital que a Prisma pode oferecer, disse Lucas Canhoto, também sócio-gerente da Prisma, com sede em São Paulo.
Outras empresas também veem oportunidades. A Jive Investments, a maior gestora de ativos problemáticos do Brasil, planeja levantar até R$ 7 bilhões para um novo fundo este ano, disse Guilherme Ferreira, sócio da Jive, em entrevista no ano passado. E o Mubadala Capital, fundo soberano de Abu Dhabi, disse em fevereiro último que levantou US$ 322 milhões para seu Fundo de Oportunidades Especiais I, o primeiro no Brasil, segundo um comunicado.
A Prisma pode investir em qualquer setor e até agora escolheu infraestrutura, energia, imobiliário, telecomunicações, petróleo, gás e tecnologia, entre outros. Os fundos da empresa também investem em precatórios e financiamento de litígios.
Entre suas participações estão a Bionexo, uma empresa de tecnologia de saúde em rápido crescimento que também recebeu investimentos do fundo soberano de Cingapura, o Temasek, em 2018, e da empresa de private equity Bain Capital no final de 2021. A Prisma também administra um fundo de energia renovável listado, o Prisma Proton Energia FIP.
“Nosso processo de investimento se concentra na proteção contra perdas, seja por meio de uma margem de segurança em termos de preços de entrada, seja por meio de uso de estruturas com colaterais”, disse João Mendes, o outro sócio-gerente da Prisma.
Como exemplo, em 2021 a Prisma investiu junto com a Brookfield Asset Management e a Farallon Capital Management em um empréstimo-ponte de R$ 2,5 bilhões para a venda de ativos de infraestrutura de fibra da empresa de telecomunicações Oi (OIBR4) A Prisma também liderou uma transação para financiar o empresário brasileiro Nelson Tanure em sua aquisição por R$ 2,4 bilhões da Copel Telecom, empresa de telecomunicações do estado do Paraná recentemente privatizada.
Nos setores de petróleo e gás, a Prisma começou a comprar títulos em 2020 emitidos pela OSX Leasing, ganhando direitos de propriedade do navio FPSO OSX-3 e participação na Dommo Energia, antiga OGX Petróleo & Gás Participações. O FPSO foi posteriormente vendido para a PetroRio (PRIO3), que utilizou um empréstimo de US$ 100 milhões da Prisma para essa aquisição, bem como para a compra do campo petrolífero de Tubarão Martelo.
Este ano, a Prisma aumentou sua participação na Dommo para mais de 50%. Por meio da Origem Energia, da qual a Prisma detém 100% do capital, adquiriu o Polo Alagoas da Petrobras (PETR3; PETR4) em uma transação de US$ 300 milhões em fevereiro.
Hallack, Canhoto e Mendes se conheceram trabalhando no BTG. Hallack chefiava a área de private equity no banco, enquanto Canhoto era sócio da mesa de situações especiais. Mendes era advogado e, com seu escritório próprio, trabalhou em estreita colaboração com o BTG. Outros sócios da Prisma incluem Rodrigo Pavan, Rafael Maradei, Edgard Erasmi e Thiago Guimarães, todos ex-sócios ou executivos do BTG, e Gabriel Affonso Ferreira, ex-gestor de ativos alternativos do Gávea Investimentos.
A Prisma foi fundada em 2017 e possui US$ 2,3 bilhões em ativos sob gestão. Cerca de 70% vêm de investidores institucionais offshore, incluindo endowments, fundações e fundos soberanos, e 30% de family offices brasileiros.
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