Concorrentes russos da Visa e da Mastercard estão à altura?

Sistemas de pagamentos nacionais da Rússia são testados após limitação dos negócios das gigantes de tecnologia no país

Russos precisam utilizar sistema nacional de pagamentos
Por Jenny Surane - Steven Aarons - Aisha S Gani
08 de Março, 2022 | 02:10 PM

Bloomberg — À medida que a Visa (V) e a Mastercard (MA) se apressam para limitar seus negócios na Rússia, suas concorrentes enfrentam o desafio de preencher a lacuna.

Depois de ver sua economia sofrer devido às sanções impostas quase uma década atrás, o banco central da Rússia criou sua própria operação de pagamentos e rede de marca que ficava à altura da Visa e da Mastercard.

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Veja mais: Visa e Mastercard suspendem operações e isolam pagamentos por cartão na Rússia

Esses esforços são testados à medida que as duas gigantes com sede nos Estados Unidos avançam para suspender suas operações, impedindo pagamentos no exterior por parte de portadores de cartões russos e impedindo que estrangeiros façam transações em território russo.

“As transações domésticas russas continuam sendo processadas na infraestrutura nacional do país”, disse Jack Forestell, diretor de produtos da Visa, a investidores na semana passada. “Não geraremos receita de nenhuma dessas transações processadas na Rússia, mesmo que seja uma transação de um cartão com a marca Visa”.

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A Visa e a Mastercard estão se juntando a uma crescente debandada de empresas estrangeiras da Rússia, à medida que sua guerra contra a vizinha Ucrânia escala. A capacidade cada vez menor da Rússia de pagar por bens e serviços acompanha a disponibilidade decrescente de produtos estrangeiros. Marcas de luxo como LVMH e Chanel e varejistas do mercado de massa, como H&M e Mango, fecharam temporariamente as lojas na Rússia.

A esmagadora maioria dos governos do mundo condenou a guerra na Ucrânia como uma violação do direito internacional. Esses governos vêm intensificando as sanções desde a invasão há quase duas semanas, provavelmente atolando o país – e sua população – em uma profunda recessão.

“Os primeiros sinais sugerem que a crise atual é no mínimo tão séria para a Rússia quanto a grande crise financeira de 2008-2009 ou o calote da dívida de 1998″, escreveu Scott Johnson, economista da Bloomberg Economics, na sexta-feira (4). “As consequências econômicas serão proporcionalmente grandes – é quase certo que o preço da guerra de Vladimir Putin será uma profunda recessão”.

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A Rússia demorou anos para preparar seus sistemas de pagamento para uma intensificação das sanções. O banco central do país começou criando o Sistema Nacional de Cartões de Pagamento da Rússia, ou NSPK, e exigiu que todas as transações domésticas fossem processadas usando a tecnologia do sistema. Mesmo usando cartões das bandeiras Visa e Mastercard, o pagamento de um consumidor russo a uma mercearia russa é processado pelo NSPK. Por isso, esses titulares de cartões ainda podem fazer pagamentos localmente, mesmo com as proibições da Visa e da Mastercard.

O banco central também começou a trabalhar com bancos para emitir cartões com sua própria rede de marca, a Mir. Ela atualmente é a bandeira de 75 milhões de cartões de débito em toda a Rússia, ou 30% do mercado. As instituições financeiras russas estão usando a Mir e concorrentes como a UnionPay, da China, para atenuar o impacto das medidas da Visa e da Mastercard. Na Rússia, a UnionPay fez parceria com cerca de 30 bancos locais e emitiu mais de 4 milhões de cartões. Mais de 85% dos sistemas de pontos de venda e caixas eletrônicos do país aceitam cartões UnionPay.

O Sberbank of Russia disse que está analisando a possibilidade de emitir cartões usando as duas redes, ao passo que um porta-voz do banco Tinkoff Bank confirmou que está trabalhando para começar a oferecer cartões com a UnionPay. Os representantes da UnionPay não quiseram comentar.

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Para a Visa e a Mastercard, a situação se complica. As empresas passaram anos lutando contra o nacionalismo, se esforçando para persuadir os governos a usar sua tecnologia em vez de criar sistemas de pagamentos domésticos.

A Rússia, com suas movimentações nos últimos anos, está seguindo os passos de países como China e Índia.

“Os governos locais, por razões óbvias, querem manter algum tipo de controle sobre seu sistema de pagamentos”, disse Sanjay Sakhrani, analista da KBW. “Basta observar o que está acontecendo, se um país entra em conflito com outro por qualquer motivo, é importante ter um sistema doméstico de pagamentos”.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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