Brasil deve deter inflação e EUA ter cautela, diz mentor do BRIC

Ex-economista do Goldman Sachs disse que o combate ao aumento de preços deve ser uma “grande prioridade” no Brasil, devido ao histórico de inflação

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Bloomberg — Jim O’Neill, o proeminente economista que cunhou o conhecido acrônimo BRIC para os maiores mercados emergentes, aconselha o Banco Central do Brasil a combater a inflação, mesmo quando adverte que o Federal Reserve nos EUA deve ser cauteloso sobre seu aperto monetário.

Como a guerra na Ucrânia provoca alta do petróleo, o ex-economista do Goldman Sachs disse que o combate ao aumento de preços deve ser uma “grande prioridade” no Brasil, devido ao seu histórico de inflação. Deixar de controlar os índices de preços seria o maior revés para a economia brasileira em vários anos, segundo ele.

“É extremamente importante que o Brasil não permita que uma inflação significativa reapareça permanentemente”, disse O’Neill em entrevista à Bloomberg News. “A única razão pela qual eu coloquei o Brasil no BRIC é porque eu considerei que o país era sério sobre tentar controlar a inflação.”

O BC brasileiro adotou um dos ciclos de aperto mais agressivos do mundo, ao elevar a Selic em 875 pontos base desde o ano passado, para 10,75%. Agora, se prepara para diminuir o ritmo e encerrar as altas neste ano, mas o rali das commodities leva os operadores do mercado a questionar se realmente há espaço para isso. A inflação está em 10,4%, acima da meta de 3,5%, enquanto as previsões dos economistas e as taxas de inflação implícita estão em alta.

Veja mais: Fundos apostam no real com ‘impacto duplo’ de commodities

Nos EUA, enquanto isso, o Fed deve tomar cuidado com os aumentos das taxas, pois as condições financeiras já estão muito apertadas devido à guerra na Ucrânia. O’Neill, que atualmente é presidente da Northern Gritstone, uma empresa de investimentos fundada pelas universidades de Leeds, Manchester e Sheffield, disse que o BC americano provavelmente tem “muito pouca confiança” sobre seus próximos passos à medida que a guerra na Ucrânia se desenrola.

As apostas nos mercados futuros precificam cerca de 140 pontos-base de aperto nos EUA este ano, começando com um movimento de 0,25 ponto percentual neste mês, o que marcaria o primeiro aumento da taxa desde 2018.

“O aperto das condições financeiras é tão duro que eles devem ter cuidado com o grau de aperto que buscam”, disse o economista britânico.

Veja outros destaques da entrevista:

Rússia encolhe

  • “Sempre pensei que Putin era um estrategista brilhante, mas nove dias após o início da invasão, as evidências sugerem que ele não é”, disse O’Neill. “É muito difícil para a Rússia manter aliados devido à sua ruína econômica”
  • "O congelamento das reservas do banco central é um grande movimento" e terá consequências profundas para a ordem monetária mundial, disse O'Neill
  • "O BRIC como clube político nunca conseguiu nada de nenhuma maneira", disse ele; "É muito decepcionante"

América Latina estagnada

  • O’Neill disse que as economias latino-americanas são afligidas pela “maldição das commodities”, indo bem quando os preços das matérias-primas sobem e fracassando quando caem
  • Para que o Brasil destrave o crescimento, precisa de reformas para impulsionar os investimentos não relacionados a commodities e aumentar a poupança doméstica
  • "O precedente não é bom", disse O´Neill sobre a tentativa da Argentina de estabilizar a economia com o acordo com o FMI
  • "Eu não teria grande esperança com mais um acordo com o FMI para resolver os problemas"
  • Mesmo o Chile, que até quatro anos era talvez o único exemplo positivo da América Latina, pode ter "grandes problemas" com questões relacionadas à igualdade
  • "Por que é tão difícil para a América Latina quebrar essa armadilha da renda média? É realmente notável", disse o economista

Eleição no Brasil

  • “Vou manter a mente aberta”, disse O´Neill sobre a perspectiva para o Brasil em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de outubro
  • O primeiro mandato de Lula, que lidera as pesquisas para a eleição este ano e esteve no poder de 2003 a 2010, foi uma grande surpresa positiva, pois ele levou muito a sério o combate à inflação, disse o economista; o segundo mandato, no entanto, terminou com inflação em alta e aumento dos gastos públicos, e foi “mais decepcionante”

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