Guerra põe em xeque o status de Londres como playground dos bilionários

Boris Johnson, impelido pela guerra de Putin, sancionou legislação para forçar a divulgação de proprietários estrangeiros de imóveis em Londres

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Bloomberg — Desde o rei Constantino II da Grécia e do xeque Yamani da Arábia Saudita até o bilionário russo Roman Abramovich, as mansões e coberturas de Londres têm sido o refúgio preferido dos exilados e expatriados super-ricos desde pelo menos a década de 1970.

A invasão da Ucrânia por Vladimir Putin e a subsequente perseguição do dinheiro russo no exterior ameaçam acabar com a corrida de quase 50 anos à capital britânica como o playground preferido de plutocratas.

Enquanto muitos vão dar as boas-vindas ao possível fim de “Londongrad” – o apelido ligado à capital do Reino Unido por causa de todo o dinheiro russo circulando em seu mercado imobiliário – as empresas imobiliárias da cidade estão menos entusiasmadas com uma repressão mais ampla ao capital estrangeiro secreto.

O governo conservador de Boris Johnson, constrangido pela guerra de Putin, finalmente sancionou uma legislação para forçar a divulgação de quem é o dono dos melhores endereços de Londres. Para um setor imobiliário de luxo que já teve alguns anos de escassez, isso não é motivo de comemoração.

“Não devemos confiar que as residências de alto padrão de Londres sejam suficientemente atraentes a ponto de potenciais compradores aceitarem qualquer condição”, diz Trevor Abrahmsohn, um corretor que, em 2008, trabalhou na venda de Witanhurst, a maior residência particular da cidade, supostamente para o bilionário Andrey Guryev.

Abramovich, como muitos outros russos com amplos interesses britânicos, nem sequer foi adicionado à lista de sanções do Reino Unido. Mas ele não está comendo mosca. Já colocou o Chelsea Football Club à venda, assim como suas residências em Londres, de acordo com o parlamentar do Partido Trabalhista, Chris Bryant. Entre elas estão um apartamento de 15 quartos, perto do Palácio de Kensington, e um opulento apartamento à beira do rio em Chelsea.

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Os compradores oportunistas de Londres já estão farejando as pechinchas russas, contam os corretores. As pessoas estão fazendo ofertas 30% abaixo das taxas de mercado, diz Gary Hersham, fundador da Beauchamp Estates, embora ainda não haja evidências de alguém vendendo a esses preços.

“Recebemos uma dúzia de e-mails de potenciais compradores dizendo que estão prontos para desembolsar o dinheiro se conseguirmos um desses imóveis para eles”, acrescenta Hersham. Becky Fatemi, uma corretora, diz que recebeu cerca de 40 ligações de potenciais compradores em busca de vendas apressadas, e dois negócios fracassaram.

Essa explosão temporária de atividade entre aqueles que esperavam uma venda repentina não aplacou a ansiedade dos corretores de imóveis, que fizeram fortunas com magnatas estrangeiros atraídos pelo regime anterior de “não faça perguntas” do Reino Unido.

Os políticos britânicos têm evitado há muito tempo abordar a opacidade de propriedades de imóveis residenciais por estrangeiros, uma reserva de riqueza duvidosa por décadas. A Rússia se tornar um pária significa que eles vão ter que mostrar serviço neste setor, especialmente devido às doações financeiras feitas pelos russos ao partido de Johnson. Os ativistas anticorrupção não estão convencidos de que essa mudança de opinião seja genuína, mas a nova lei promete criar, em certo momento, um registro de proprietários estrangeiros, que atualmente estão escondidos atrás de empresas de fachada em paraísos fiscais.

Investidores de todas as nacionalidades, da Ásia ao Oriente Médio, estarão sujeitos às mesmas regras de transparência, o que significa que o impacto nas vendas pode ser considerável.

“Mudanças como o registro de beneficiários efetivos afetarão o apelo do mercado residencial de primeira linha para uma determinada categoria de compradores que preferem permanecer anônimos”, diz Giovanni Gregoratti, ex-chefe de banco de investimento imobiliário europeu do Citigroup, atual chefe da IQON Capital.

Refúgio Real

Abrahmsohn, fundador da corretora de imóveis Glentree International, remonta a Constantino II - que comprou uma mansão com vista para Hampstead Heath após um golpe de estado na Grécia, em 1967 - para fazer referência ao momento em que Londres começou a se tornar o refúgio preferido dos ricos. Depois vieram os petrodólares do Oriente Médio. O ex-ministro do petróleo saudita, Sheikh Ahmed Zaki Yamani, comprou sua histórica mansão em Surrey em 1979, quando a revolução iraniana fez os preços do petróleo dispararem.

Os russos apareceram com mais robustez a partir dos anos 90, após o colapso da União Soviética e as privatizações que se seguiram, que cunharam vastas novas fortunas. A Glentree fez tantos negócios com os emigrantes de Moscou que o ex-presidente Mikhail Gorbachev foi o convidado de honra em sua festa de 35 anos, na Bishops Avenue, em Londres, apelidada de rua dos bilionários. Entre 2010 e agosto passado, houve um aumento de 1.200% no número de propriedades do Reino Unido cujo endereço de correspondência dos proprietários está na Rússia.

Embora os russos permaneçam em grande número - 2.327 dos alunos do país estavam matriculados em escolas particulares britânicas no ano passado, segundo o Independent Schools Council – a avalanche de dinheiro diminuiu um pouco desde a anexação da Crimeia por Putin em 2014 e o colapso do rublo.

Em vez disso, os compradores da Ásia passaram a se destacar. A mansão de Kensington, de Abramovich, foi vinculada a um licitante chinês, segundo corretores.

O influxo de investimentos na Ásia não foi suficiente para sustentar o impulso no setor imobiliário de alto padrão em Londres na última meia década, e é por isso que o setor imobiliário de luxo do Reino Unido teme a nova repressão. Não foi apenas a Crimeia que teve um impacto negativo em 2014. No mesmo ano, o chanceler do Tesouro, George Osborne, aumentou os impostos sobre casas de alto padrão.

Desde então, a Grã-Bretanha endureceu as regras para residentes cujo domicílio fiscal está fora do Reino Unido; impôs novos impostos sobre casas de propriedade da empresa; descartou um programa de vistos destinado a atrair os ricos; e reforçou as verificações de lavagem de dinheiro de advogados, agentes imobiliários e bancos.

“Londres não é mais a lavanderia do mundo”, diz Abrahmsohn. “O jogo está se invertendo. É quase anti-negócios. Precisamos incentivar o capital estrangeiro para este país. Queremos ser a Singapura do Tamisa.”

Brechas em Londres

Os ativistas anticorrupção não poderiam concordar menos. Eles argumentam que as novas medidas de Johnson não são suficientes para impedir que Londres seja usada para a lavagem de riquezas duvidosas. A onda de dinheiro da Rússia pode ter diminuído nos últimos anos, mas a Transparência Internacional estima que cerca de 1,5 bilhão de libras (US$ 2 bilhões) das propriedades da cidade foram compradas por russos acusados de corrupção e com ligações ao Kremlin desde 2016.

A organização sem fins lucrativos identificou várias brechas no projeto de lei para o registro estrangeiro, incluindo um período de implementação de 18 meses e a permissão para que algumas empresas afirmem que não têm beneficiário efetivo. Os críticos também dizem que não há financiamento suficiente para a Companies House, o registro de empresas do Reino Unido que ajudará a aplicar as novas regras.

O governo propôs uma multa diária de 500 libras para qualquer empresa proprietária de imóveis no exterior que não divulgue seu beneficiário final. Isso equivale a 26.000 libras por ano, ou 0,000178% do patrimônio líquido de US$ 19,5 bilhões do bilionário russo Alisher Usmanov, que comprou a Beechwood House, em Highgate, por 48 milhões de libras em 2008.

“É muito fácil para eles contornarem isso”, diz Richard Murphy, professor de prática contábil da Universidade de Sheffield. “Quero saber quem são os contadores, os banqueiros, os advogados, os consultores financeiros e os agentes imobiliários dessas empresas – registrá-los e torná-los sujeitos a multas também.”

– Com a colaboração de Olivia Konotey-Ahulu e Damian Shepherd.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, localization specialist da Bloomberg Línea.

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