Aliado de Moro vira alvo de repúdio após falas sexistas sobre ucranianas

Presidenciável tira apoio a pré-candidato ao governo paulista, flagrado em áudios em comentários machistas sobre refugiadas

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São Paulo — O pré-candidato à Presidência da República, Sergio Moro, tentou neste sábado (5) se distanciar da repercussão negativa provocada por um novo escândalo político em seu partido, o Podemos, em que um deputado estadual foi flagrado fazendo comentários sexistas contra mulheres ucranianas, provocando uma onda de repúdio nas redes sociais, em meio às mensagens de solidariedade devido à guerra com a Rússia.

A assessoria de imprensa de Moro divulgou uma nota retirando o apoio à candidatura do deputado federal Arthur do Val, conhecido como “Mamãe Falei”, ao governo de São Paulo, após o vazamento para a imprensa de áudios trocados com amigos em um grupo de conversas pela internet, em que o parlamentar de 35 anos diz que as mulheres ucranianas são “fáceis [de seduzir], porque são pobres”. O gesto do ex-juiz acabou obrigando o parlamentar a anunciar, em seguida, a sua desistência de concorrer na eleição de outubro.

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Os áudios, que viralizaram nas redes sociais nos últimos dias, motivaram manifestações institucionais, incluindo de antigos aliados. A Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), onde o deputado cumpre mandato de quatro anos, informou, em nota, que vai abrir uma investigação. “O presidente da Alesp, deputado Carlão Pignatari, afirma que a atitude é inaceitável e que será tratada com rigor e seriedade pelas esferas de investigação do Parlamento. A Alesp se solidariza com as mulheres, em especial às ucranianas”, citou a casa legislativa do estado mais populoso do país.

A presidente do Podemos, deputada federal Renata Abreu, também considerou as falas “gravíssimas e inaceitáveis” e prometeu abrir um procedimento interno para apuração dos fatos. O PT, partido do ex-presidente Lula, defendeu que ele seja julgado na Alesp por quebra do decoro parlamentar. “Lamento profundamente e repudio veementemente as graves declarações do deputado Arthur do Val divulgadas pela imprensa. O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto”, disse Moro, em nota.

Diversas entidades dos movimentos sociais condenaram os comentários de Arthur do Vale e defenderam punições. O UneAfro Brasil, integrante do movimento negro, pediu ao Ministério Público uma investigação sobre o aúdio, dizendo que o parlamentar “incentiva o turismo sexual”.

Viagem à Ucrânia

Arthur do Val confirmou que a voz nos áudios era sua e que os comentários foram feitos em um grupo privado de mensagens em um “momento de empolgação”, segundo relato publicado pelo portal G1. O parlamentar chegou hoje a São Paulo, após uma viagem à Ucrânia, onde diz ter ido arrecadar doações para refugiados.

Em um dos áudios, ele compara a fila dos refugiados à fila para entrar em um clube noturno. “Acabei de cruzar a fronteira a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ (gíria local para garota) bonita. A fila das refugiadas, irmão. Imagina uma fila de sei lá, de 200 metros ou mais, só deusa”, comentou o deputado com os amigos.

A namorada do deputado, a médica Giulia Blagitz, chegou a se pronunciar, no Instagram, sobre o caso dizendo que terminou o relacionamento, noticiou o jornal “Correio Braziliense”, acrescentando que, depois, ela excluiu sua conta na rede social. “Infelizmente a vida é imprevisível e muitas vezes nos leva por caminhos que não compreendemos”, disse Giulia Blagitz, segundo o jornal do Distrito Federal.

Eleição

Arthur do Val está em seu primeiro mandato como deputado estadual de São Paulo. Na eleição de 2018, ele foi o segundo mais votado no Estado, recebendo cerca de 478 mil votos. Ele ficou famoso como youtuber de um grupo de jovens conservadores e provocadores denominado MBL (Movimento Brasil Livre), que ganhou força política na época do processo no Congresso que resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff, do PT, em 2016.

O MBL apoiou a eleição de Jair Bolsonaro (após a vitória do capitão reformado do Exército, o grupo rompeu com o presidente) e a prisão do ex-presidente Lula em 2018 em um processo julgado por Moro. Os integrantes do MBL são defensores do ex-presidente norte-americano Donald Trump e costumam se envolver em polêmicas na internet por memes considerados racistas, homofóbicas e misóginas, além de acusação de propagarem “fake news”, segundo opositores.

Apoiado pelo MBL, Moro foi juiz da Operação Lava-Jato, que investigou denúncias de corrupção na petroleira estatal Petrobras na década passada, e tenta agora ser visto como uma alternativa eleitoral à polarização entre esquerda e direita representada por Lula e Bolsonaro. Ele aparece em terceiro lugar nas últimas pesquisas, lideradas por Lula, do PT (Partido dos Trabalhadores), seguido por Bolsonaro, do PL (Partido Liberal).

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