Ideias Bloomberg Línea — De seu escritório em Guadalajara, Rogelio Rocha tem um dos cargos mais “pandêmicos” do país: é o CEO da Zoom (ZM) para o México, América Central e Caribe.
Com mais de 33 anos no setor de tecnologia (anteriormente na Softtek e Kio Networks), Rocha assumiu em outubro do ano passado um dos mercados com maior crescimento e potencial para a principal plataforma de reuniões virtuais.
Até aquela data, havia apenas um gerente para toda a região no Brasil, mas o crescimento obrigou a área a ser dividida em duas: México e América do Sul. “Em 2021, só o México cresceu 49 vezes o número de sessões gratuitas”, diz Rocha, que administra o segundo maior mercado de Zoom fora dos Estados Unidos (e muito próximo em números do Brasil).
Todos os dias, em média, os usuários mexicanos consomem 3 milhões de minutos (30% do total da América Latina). ara contextualizar, esse volume equivale a todo o mercado europeu junto.
Mas a missão de Rocha é aumentar a renda – não apenas as reuniões – e seus principais clientes são o setor de educação em primeiro lugar e então o setor corporativo.
“No terceiro trimestre do ano passado crescemos 35% em clientes de assinatura paga, com margem operacional de 40%. Em nível global, isso significa um faturamento de US$ 1,050 bilhão”, acrescenta o executivo.
Com um formato gratuito, muito fácil de acessar (por vídeo automático), sem ligação com qualquer pacote de sistema operacional (como Microsoft ou Google), o Zoom se tornou uma opção muito ágil diante da necessidade urgente de conectar funcionários, chefes, professores e alunos em salas virtuais.
“Mesmo sem a pandemia, o Zoom não vai deixar de ser um negócio porque não há como voltar atrás na mudança de paradigma que vivemos nestes dois anos. É um divisor de águas, assim como foi o 11 de setembro”, diz Rocha enquanto um cenário simulado de coworking aparece atrás dele (sim, a entrevista foi pelo Zoom).
Há algumas semanas, a empresa realizou uma pesquisa com seus usuários, e 85% deles responderam que não acreditam que a dinâmica será a mesma de 2019 quando a pandemia acabar. Na maioria dos casos, os usuários de sua plataforma disseram que não querem mais realizar procedimentos burocráticos, atividades relacionadas a imóveis, serviços financeiros e até mesmo ir pessoalmente a uma academia (aulas de diferentes atividades físicas pelo Zoom são outro grande nicho criado durante o lockdown).
Como um bom hidalguense (residente no estado de Hidalgo, no México), Rocha sentiu muito orgulho quando lhe contei que há alguns meses fiz aulas de bordado de Tenango (via Zoom) com uma senhora de 70 anos. Sua neta, com um notebook e uma conta no Paypal reuniu um texano, um australiano, duas mulheres de Monterrey e eu com a avó em seu quartinho pintado de verde escuro e cercado por pilhas e pilhas de tecidos bordados e fios que ela mesma havia tingido. “Essa mulher nunca imaginou que seu conhecimento chegaria tão longe de maneira tão fácil”, disse ele, arrematando: “você sabia que nosso lema é ‘Delivering Happiness’ (distribuindo alegria)?”
Um copo d’água e uma sala de reunião não se nega a ninguém
“Nós nos consideramos uma plataforma que democratiza a comunicação e um espaço simples que você pode acessar de qualquer dispositivo: desde um celular de qualquer marca até o computador mais sofisticado”, acrescentou Rocha.
Mas o verdadeiro objetivo da marca é aumentar sua presença no setor corporativo (que hoje soma 40% de seu faturamento em relação a 60% na área educacional).
A meta de Rocha é continuar mantendo o crescimento de dois dígitos durante 2022 e 2023.
As reuniões continuarão sendo seu carro-chefe, mas o portfólio será muito mais amplo, com o que algumas empresas de médio e grande porte do país já estão testando: o serviço de telefonia em nuvem Zoom Phone. “Trata-se de aproveitar todo o nosso desenvolvimento em áudio e armazenamento e nos tornarmos a central telefônica de uma empresa”, explica Rocha, afirmando que “se você já tem 20 mil linhas contratadas com a operadora de sua preferência, por exemplo, você as traz para mim e nós as conectamos na nuvem e a partir daí operamos como central, como operadora, com enormes economias”.
Para o atual volume de negócios e as expectativas de crescimento, a empresa americana instalou desde o ano passado um Data Center em Querétaro (um dos maiores entre os 21 que possui em todo o mundo) de onde promove este novo nicho de telefonia corporativa.
Outro dos serviços que pretendem aumentar é o ‘Zoom Rooms’ – patamar acima de suas salas de reuniões virtuais – procurando tornar a experiência cada vez mais profissional e útil. “Montamos uma tela de alta definição em uma sala onde o diretor de uma empresa pode dar um informe, por exemplo. Acima dela ficam estão algumas câmeras de alta definição, além de um grande número de alto-falantes ambientais. Podemos até colocar telas laterais (como em um estúdio de TV). O sistema do Zoom funciona como uma cabine e transmite as falas em tempo real”, explica Rocha.
Esses estúdios de vídeo já estão disponíveis em alguns espaços de coworking na Cidade do México (como o WeWork), por exemplo, e as empresas podem alugar essas salas por tempo determinado.
Outro serviço a ser lançado no país é o Zoom Events, que permite acesso a um recital digital ou a um evento com até 10 mil participantes no mesmo espaço.
“No segundo semestre do ano, a tradução simultânea em qualquer idioma estará disponível no país. Não apenas em close captions, mas em áudio: eu posso ouvir em espanhol uma aula que alguém está dando na China em mandarim, e minha pergunta em espanhol será ouvida pelo professor em mandarim”, explica Rocha.
E isso me trouxe de volta a uma memória marcada por aquele quartinho verde escuro em Tenango, onde certamente aquela senhora pode levar seus coloridos bordados os cantos mais distantes do mundo.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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