Commodities disparam com paralisações de embarques e dificuldade de financiamento

Milho e trigo iniciam a semana em alta na bolsa de Chicago em meio a ameaças de sanções à Rússia

Bancos reduzem financiamento ao comércio na região e seguradoras já não aceitam mais pedidos
28 de Fevereiro, 2022 | 12:48 PM

Bloomberg Línea — Os preços do milho, da soja e do trigo voltaram a subir na bolsa de Chicago, depois de terem terminado a última sexta-feira (25/02) em queda, em meio à piora no sentimento do mercado em relação à invasão à Ucrânia pela Rússia. O contrato do trigo para março era negociado às 12h27 (horário de Brasília) a US$ 8,87 por bushel, com valorização de 5,28% em comparação ao último fechamento da semana passada. Na mesma linha, o milho para março operava com ganhos de 4,78% a US$ 6,91 por bushel.

Na manhã de hoje, o governo dos Estados Unidos proibiu pessoas e empresas de fazer negócios com o Banco da Rússia, com o Fundo de Riqueza da Rússia e com o Ministério das Finanças do país. Além disso, o mercado de commodities já não descarta mais a possibilidade de a Rússia ser totalmente excluída do sistema Swift, demanda que tem forte apoio do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

O aperto das sanções financeiras dos Estados Unidos da União Europeia contra a Rússia está ameaçando a capacidade de financiamento do comércio de matérias-primas, segundo a Bloomberg. Diante do aumento das turbulências, muitos compradores interromperam as aquisições, congelando as vendas de trigo no Mar Negro, enquanto aguardam por mais esclarecimentos sobre as restrições contra bancos e empresas.

O foco imediato está na interrupção do comércio do Mar Negro, que inclui milhões de barris de petróleo por dia e cerca de um quarto das exportações mundiais de grãos, segundo a Bloomberg. Embora as matérias-primas russas tenham sido até agora isentas de sanções, a ameaça de um grave deslocamento dos fluxos aumentará à medida que o conflito cresça.

PUBLICIDADE

O risco consequente não intencional, o que significa uma interrupção do oleoduto ou algo assim, é extraordinariamente alto, e isso se soma à dificuldade de colocar o comércio marítimo em funcionamento”, disse Jeff Currie, chefe de pesquisa de commodities do Goldman Sachs, em entrevista à Bloomberg TV. “Esta é uma enorme quantidade de petróleo que tem o potencial de ser interrompida por semanas.”

Mesmo antes da expulsão de alguns bancos russos do sistema SWIFT, vários credores estavam interrompendo o financiamento de commodities comerciais da Rússia. O Société Générale e o Credit Suisse pararam de fornecer financiamento comercial para fluxos de matérias-primas russas, segundo a Bloomberg. Os gigantes bancários holandeses ING Groep e Rabobank também estão restringindo empréstimos a transações envolvendo movimentação de commodities da Rússia e da Ucrânia, e os bancos chineses também estão recuando.

Isso significa que, mesmo sem sanções, muitos dos mercados de commodities nos quais as exportações russas desempenham um papel significativo correm o risco de fechar. À medida que a guerra se intensifica, o risco de turbulência logística também está aumentando. As seguradoras estão se recusando a oferecer cobertura para navios que navegam no Mar Negro ou exigindo grandes prêmios para fazê-lo. O carregamento de grãos na Ucrânia foi interrompido com os portos fechados, e os carregadores do Mar Negro devem estar ausentes do leilão de trigo de segunda-feira no Egito. As repercussões estão aumentando por meio de cadeias logísticas à medida que os compradores buscam suprimentos alternativos.

Leia também

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.