Bloomberg Línea — A invasão do país pelas tropas de Vladimir Putin tende a impactar o Brasil em duas frentes:
a) a guerra já acentua a inflação global das commodities, como trigo e petróleo, o que afeta a economia brasileira de forma colateral;
b) o impacto mais direto será sobre o comércio bilateral. Embora nem Rússia nem Ucrânia estejam entre os 10 maiores parceiros comerciais do Brasil, há setores sensíveis das relações com estes países.
O agronegócio, que já vinha sofrendo desabastecimento e forte inflação de fertilizantes, agora tende a enfrentar uma nova camada de incertezas quanto à disponibilidade de insumos agrícolas.
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#1 – Trigo
Os preços globais do trigo podem sofrer um reajuste de ao menos 10% no curto prazo, de acordo com uma estimativa do Rabobank, obtida pela Bloomberg News. O banco holandês, que é um dos grandes players em commodities agrícolas, prevê alta de até 60% no custo da tonelada se o conflito se estender até julho, quando a colheita nas lavouras do Mar Negro começam.
Exportações de cereais dos dois países já estão paralisadas ou sendo obrigadas a pagar um prêmio alto de seguros por conta da guerra. Juntas, Rússia e Ucrânia são responsáveis por mais de um quarto das exportações globais do cereal.
O Brasil importa 60% do trigo que consome. Em 2021, o país importou 6,1 milhões de toneladas do grão. Os principais fornecedores são, pela ordem, Argentina, Estados Unidos, Paraguai, Uruguai e Canadá. Embora não corra o risco de desabastecimento por não depender diretamente, a alta do preço internacional deve ter impacto na inflação brasileira.
#2 – Petróleo
A Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo. De acordo com BP Statistical Review of World Energy 2021, a Rússia produziu 10,1 milhões de barris por dia (BPD) de petróleo bruto e condensado de gás natural em 2020. Segundo a Bloomberg News, importadores chineses já estão suspendendo compras de petróleo russo e compradores de outros países asiáticos estão tentando assegurar as linhas de crédito existentes necessárias para adquirir.
A guerra trouxe mais volatilidade aos preços. Na quinta-feira (24), dia do início da invasão, a cotação do barril ultrapassou US$ 105 pela primeira vez desde 2014.
No Brasil, o diretor-executivo de Comercialização e Logística da Petrobras (PETR4), Cláudio Mastella, disse que a companhia avaliará os impactos da alta volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional, após a invasão da Ucrânia, antes de tomar qualquer decisão sobre os preços.
A recente desvalorização do dólar frente ao real tem ajudado a manter preços inalterados desde 12 de janeiro, segundo ele. Desde 2017, a Petrobras tem uma política de reajuste de preços ao consumidor brasileiro conforme um critério de paridade com os preços internacionais do petróleo.
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#3 – Fertilizantes
A questão mais crítica é a importação de fertilizantes, fundamentais para a agricultura. O Brasil compra no exterior 85% do volume que precisa aplicar nas suas lavouras. Metade do que o país importa vem da Rússia (30%) e de Belarus (20%), ex-república soviética no leste europeu que enfrenta sanções europeias e americanas por conta de violações de direitos humanos.
Em novembro de 2021, a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, viajou à Rússia para negociar a garantia de fornecimento de fertilizantes ao país. Esta questão foi um dos principais pontos da agenda bilateral do encontro do presidente Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, em Moscou, este mês.
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Mesmo que haja garantias de fornecimento, o quadro de embarques nos portos russos se tornou caóticos desde a invasão da Ucrânia, diminuindo a oferta de navios e com seguradoras cobrando altos prêmios por conta da guerra.
#4 – Comércio exterior e sanções
Outro desdobramento ainda incerto é o das exportações brasileiras para a Rússia. O primeiro impacto já sentido é o logístico, já que a operação nos portos do país caiu substancialmente nos últimos dias. Soja e frango foram responsáveis com quase meio bilhão de dólares em receitas.
Mais uma questão incerta é o que ocorrerá nos próximos meses, já que o país passou a enfrentar uma nova onda de sanções, que abrangem também parte do sistema financeiro.
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