Bloomberg — Os ativos russos derreteram com os ataques militares à Ucrânia, levando a uma ação emergencial do banco central. Os investidores locais agora se prepararam para a mais dura rodada de sanções ocidentais, que já eliminaram quase US$ 200 bilhões em valor de mercado das empresas russas.
O custo do seguro da dívida russa contra a inadimplência, medido pelos CDSs (credit default swaps), atingiu o nível mais alto desde 2009 e as ações terminaram com perdas de 33% - o maior recuo de todos os tempos. O rublo desceu ao menor patamar já visto. O Banco da Rússia disse que vai intervir no mercado de câmbio pela primeira vez em anos e tomar medidas para controlar a volatilidade.
A operação de Vladimir Putin para “desmilitarizar” o vizinho abalou os mercados globais e estimulou uma fuga por investimentos defensivos, conforme os ativos ucranianos e russos sofreram o golpe principal. A queda nas ações russas foi a terceira pior da história dos mercados, enquanto os CDSs (credit default swaps) ucranianos sinalizaram 90% de chance de default.
“A bola agora está do lado do Ocidente, temos que ver até onde vão as sanções – se a Rússia será mantida no sistema financeiro global”, disse Viktor Szabo, investidor da Aberdeen Asset Management Plc. em Londres
O banco central russo não mencionou sobre taxas de juros, mas disse que fornecerá liquidez adicional aos bancos oferecendo 1 trilhão de rublos (US$ 11,8 bilhões) em um leilão de recompra durante a noite. Os formuladores de política monetária aumentaram a taxa de referência em 525 pontos base nos últimos 12 meses para controlar a inflação.
Baixa histórica nas ações e rublo
As ações do Sberbank PJSC, maior credor da Rússia, caíram 49%, enquanto as do gigante do gás natural Gazprom PJSC recuaram 40%.
Os títulos soberanos da Rússia despencaram, levando alguns a níveis problemáticos, e o prêmio dos CDSs subiu acima de 750 pontos. O título da Ucrânia em dólar, com vencimento em 2033, foi negociado em forte baixa, elevando o rendimento para 88%, enquanto o mercado local de câmbio foi suspenso e teve imposição de limites para saques. As ações em Varsóvia tiveram a maior baixa em quase dois anos.
O rendimento dos títulos de dez anos em rublos subiu 129 pontos base e atingiu 12,16%. O rublo, que tinha reduzido o ritmo de perdas no final da tarde, acelerou a desvalorização no início da noite. A moeda russa foi negociada a 86,4575 unidades por dólar, com baixa de 6,1%, na menor cotação já registrada.
“Se o banco central interveio no mercado, está fazendo isso com cuidado - mas o efeito foi alcançado”, disse Georgy Vashchenko, chefe de operações de negociação da corretora Freedom Finance. “O rublo provavelmente permanecerá sob pressão no futuro próximo, mas o Banco da Rússia está pronto para suavizar qualquer emergência.”
Até agora, a resposta do banco central é mais comedida do que há oito anos, quando o conflito na Ucrânia começou.
Os formuladores de política monetária aumentaram as taxas no primeiro dia útil depois que o Parlamento russo aprovou o uso de suas forças armadas na Ucrânia em 2014. Com os preços do petróleo caindo no final do mesmo ano, o Banco da Rússia acabou elevando sua taxa básica para até 17% para desarmar uma crise cambial.
Um aumento nos custos de empréstimos pode estar fora de questão por enquanto, embora a decisão de aumentar as taxas no futuro dependa de como o rublo se sairá, de acordo com Piotr Matys, estrategista sênior de câmbio da InTouch Capital Markets Ltd. em Londres.
Se o rublo “atingir e ultrapassar relativamente rápido” o patamar de 100 em relação ao dólar, a possibilidade de um aumento da taxa pode entrar em jogo, disse ele. As opções de moeda têm mais de 50% de probabilidade de o rublo chegar a 100 por dólar no segundo trimestre, mostram dados compilados pela Bloomberg.
“O ritmo e a escala da depreciação do rublo serão cruciais”, disse ele. “A intervenção cambial é a primeira linha de defesa e o banco central acumulou reservas cambiais significativas para permitir que interviesse para diminuir o ritmo de depreciação do rublo. A segunda linha de defesa seria um aumento da taxa de emergência, como testemunhado no auge da crise anterior do rublo em 2014.”
O banco central pode pedir mais apoio financeiro se grandes empresas e bancos russos forem visados pelo Ocidente. Em um comunicado no final da noite, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que anunciaria “outras medidas” para a Rússia ainda na quinta-feira, além das sanções reveladas no início da semana.
Na terça-feira, Biden estabeleceu uma “primeira parcela” parcial de sanções – um pacote modesto que decepcionou observadores políticos e os mercados financeiros – e seguiu com medidas adicionais no dia seguinte, incluindo sanções contra a Nord Stream 2 AG, a empresa que construiu o gasoduto de US$ 11 bilhões conectando a Rússia e a Alemanha.
O banco central da Rússia, que realizou intervenções cambiais diretas pela última vez em 2014, pode recorrer a outras medidas para acalmar o mercado. Sofia Donets, economista da Renaissance Capital em Moscou, disse que entre as opções estão a possibilidade de impor restrições ao fluxo de capital transfronteiriço e compras de ativos, com foco especialmente na dívida doméstica em rublos.
“É possível supor, no cenário atual, que as sanções serão duras ao máximo”, trazendo à tona as “motivações políticas” do banco central, disse ela. “Isso os torna menos previsíveis.”
--Com assistência de Farah Elbahrawy, Lilian Karunungan e Kira Zavyalova.
(atualizado às 15h30 com cotações mais recentes)
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
- Commodities: Preços internacionais do milho e da soja começam a ceder
- Wall Street: Nasdaq zera perdas, mas Dow Jones segue em território de correção
- Ibovespa segue sangria das Bolsas globais e cai mais de 2%
© 2022 Bloomberg L.P.