Em aceno a evangélicos, Bolsonaro promete vetar legalização de cassino

Aprovada pela Câmara, legalização do jogo divide a base do governo. No passado, Bolsonaro foi levado por Paulo Guedes para encontro com bilionário dono de cassinos

Em transmissão ao vivo, Bolsonaro prometeu vetar legalização do jogo, aprovada pela Câmara
24 de Fevereiro, 2022 | 08:21 PM

Sinalizando à sua base evangélica, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu vetar a legalização dos cassinos, bingos e do jogo do bicho no Brasil, aprovada na madrugada desta quinta (24) pela Câmara dos Deputados. O projeto ainda precisa passar pelo Senado.

Na sua transmissão ao vivo em redes sociais, Bolsonaro disse, pela primeira vez, que trabalhou contra a aprovação do projeto. Em 2019, seu primeiro ano de mandato, ele havia sinalizado apoio à proposta.

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“A Câmara legalizou os jogos. Alguns querem que eu aprove ou reprove. Fiz o que pude junto a deputados amigos lá, fui derrotado. O que eu já decidi aqui é que, uma vez aprovado, a gente vai exercer o nosso direito de veto”, disse o presidente.

E prosseguiu: “Para derrubar o veto tem que ter 257 votos, metade mais um de 513. Acho difícil derrubar o veto. Se derrubar, vai pro Senado e precisa aí de 41 senadores [para derrubar o veto]”.

Na Câmara, a proposta passou por 246 votos a 202.

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POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Entre os argumentos dos defensores da legalização dos cassinos e jogos no país, o principal é o econômico: o lobby pela legalização afirma que o país poderia arrecadar entre R$ 18 bilhões a R$ 20 bilhões por ano em impostos e gerar 200 mil empregos diretos. Ou legalizar outros 450 mil, se considerados os apontadores do jogo do bicho espalhados pelo país.

A proposta divide duas forças importantes que sustentam o presidente: o Centrão – o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), empenharam-se pessoalmente na aprovação do projeto – e líderes evangélicos, que são contrários por questões de ordem moral. A ministra Damares Alves (Direitos Humanos), que é pastora, já chamou a proposta de “pacto com o diabo”.

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MUDANÇA DE POSIÇÃO: Em maio de 2018, ainda pré-candidato a presidente, Bolsonaro foi levado por Paulo Guedes, então seu assessor econômico, para um encontro com o bilionário Sheldon Adelson, dono de cassinos em Las Vegas e na Ásia. Adelson teria tirado duas promessas de Bolsonaro: a abertura do país aos cassinos e a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Israel. Adelson morreu em janeiro de 2021, aos 87 anos.

Bolsonaro parecia convencido da posição de Guedes pró-liberação a ponto de, em 2019, já no Planalto, ter dito que o país apresentaria “um projeto” (referia-se à legalização do jogo, sem citá-la diretamente), cuja “previsão é de termos dinheiro em caixa maior do que a reforma previdenciária em dez anos”.

Agora, Bolsonaro muda de posição em um contexto político em que está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas.

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O QUE TEM DENTRO DO PROJETO: Pela proposta aprovada na madrugada, a regra geral aprovada é haver emissão de licenças para 3 cassinos em estado com mais de 25 milhões de habitantes (só SP se encaixa), dois para estados com entre 15 e 25 milhões (Minas, Rio e Bahia tem 14); nos demais, seria uma licença por Estado, além de eventuais licenças por critérios turísticos. Quanto ao jogo do bicho, seria emitida uma licença a cada 700 mil habitantes e bingos, uma para cada 150 mil habitantes.

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Quanto à tributação, o projeto prevê que apostadores que receberem prêmios líquidos acima de R$ 10 mil (já descontado o valor da aposta) pagariam 20% de imposto de renda. Cassinos, bingos e bancas do jogo do bicho pagariam 17% da receita bruta e uma taxa de fiscalização e inspeção.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.

Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.