Bloomberg — A Europa está se preparando para o que pode ser um êxodo de mais de um milhão de refugiados depois que a Rússia atacou a Ucrânia, enquanto autoridades dizem que qualquer tensão inicial será manejada pelos estados membros do leste europeu.
A ordem de uma invasão em grande escala vinda do presidente Vladimir Putin, que desencadeou uma das piores crises de segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, intensificou os preparativos dos países da parte leste da União Europeia para um fluxo de refugiados. A Polônia, que já abriga bem mais de um milhão de ucranianos, seria o primeiro ponto de fuga para muitos que desejam fugir da violência.
Filas de carros já congestionavam as rodovias que saem da capital Kiev quando o governo ucraniano confirmou que as forças russas entraram na região ao redor da cidade de 2,9 milhões de habitantes. As autoridades polonesas disseram que estão começando a ver um aumento no tráfego de passageiros na fronteira.
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O primeiro-ministro Mateusz Morawiecki alertou este mês que uma guerra poderia desencadear um “êxodo da Ucrânia”. Seu governo já montou uma equipe de coordenação e aprovou um assessor para prestar assistência no caso de um fluxo muito intenso de refugiados.
“A Polônia seria afetada principalmente não apenas por sua proximidade, mas pela significativa comunidade ucraniana que vive no país e que poderia receber outras pessoas pelo menos no estágio inicial”, disse Magdalena Majkowska-Tomkin, diretora de questões migratórias da organização filantrópica Open Society Foundations, em entrevista antes da invasão.
Mas a perspectiva de um grande influxo de migrantes forçou os governos do Leste Europeu, alguns dos quais até se recusaram a receber imigrantes nos últimos anos, a enfrentar a possibilidade de centenas de milhares refugiados. As autoridades dos quatro estados membros da UE que fazem fronteira com a Ucrânia – Polônia, Hungria, Eslováquia e Romênia – dizem que estão preparadas para recebê-los.
O primeiro-ministro Viktor Orban, defensor das políticas anti-imigração que trava uma dura batalha pela reeleição em menos de seis semanas, também disse que seu país aceitaria refugiados. Nas últimas semanas, ele alertou sobre o influxo.
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“Após o ataque militar de hoje (24), infelizmente podemos esperar um aumento no número de cidadãos ucranianos que chegam à Hungria e que provavelmente solicitarão asilo”, disse Orban em um vídeo no Facebook na quinta-feira, após se reunir com seu gabinete de segurança nacional. “Estamos preparados para cuidar deles e conseguiremos enfrentar o desafio com rapidez e eficiência”.
Filas de carros já haviam se formado na fronteira da Hungria na quinta-feira, segundo o serviço de notícias estatal MTI, citando testemunhas. A Hungria, que se recusou a admitir principalmente migrantes do Oriente Médio na crise de refugiados na Europa de 2015-2016, pode receber um fluxo que supera as chegadas de refugiados das guerras dos Bálcãs na década de 1990, alertou Orban antes da invasão.
O governo de Budapeste, que entrou em conflito com Kiev sobre os direitos dos húngaros que vivem na Ucrânia, esta semana deslocou algumas tropas para a fronteira com a Ucrânia para reforçar a defesa da fronteira e se preparar para oferecer ajuda humanitária.
A UE esperava cerca de um milhão de refugiados, embora qualquer cenário esteja ligado ao escopo de um conflito, segundo autoridades em Bruxelas. O planejamento consistiu em fazer um balanço da capacidade dos membros da parte leste do bloco para gerenciar o influxo, contando efetivamente com o planejamento de contingência dos estados fronteiriços.
Observadores poloneses especularam muito mais de um milhão. Tomasz Hanczarek – chefe da Personnel Service, empresa que recruta trabalhadores do exterior – estima o número total em até 3 milhões.
A Alemanha, que absorveu a grande maioria dos imigrantes que entraram na Europa pela Turquia e pela região dos Bálcãs há seis anos, disse que primeiro oferecerá assistência aos estados fronteiriços que recebem o fluxo inicial.
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“Esperamos movimentos iniciais de refugiados na Ucrânia e estaremos observando de perto a força dos movimentos nos países vizinhos, possivelmente chegando à Alemanha também”, disse a ministra do Interior, Nancy Faeser, no Twitter.
As autoridades romenas afirmaram que ucranianos começaram a chegar no país – a maioria a pé – pela fronteira do norte. O ministro da Defesa romeno, Vasile Dincu, disse que o país comporta cerca de meio milhão de refugiados. Na vizinha Moldávia, estado não pertencente à UE espremido entre a Romênia e a Ucrânia, as filas se formaram, e o presidente do país, Maia Sandu, pediu aos legisladores que decretassem estado de emergência.
A Romênia pediu a seus condados mais ao norte, que fazem fronteira com a Ucrânia que forneçam aquecimento e eletricidade para os centros de refugiados existentes – embora a mídia local tenha questionado se o país tem capacidade. A Eslováquia, que já havia elaborado planos de expansão para abrigos para refugiados, enviou 1,5 mil soldados para a fronteira.
--Com a colaboração de Alberto Nardelli, Natalia Drozdiak, Zoltan Simon, Daniel Hornak, Slav Okov, Zoe Schneeweiss e Andra Timu.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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