Conflito na Ucrânia deve pressionar M. Dias Branco por alta do trigo

Análise da corretora Ativa vê aumento do custo dos insumos como trigo e milho afetando negativamente ações do setor de alimentos

Segundo analistas da Ativa Investimentos,  ação da M. Dias Branco é um do setor de alimentos que pode sofrer com efeitos da crise na Ucrânia
24 de Fevereiro, 2022 | 08:56 AM
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O agravamento do cenário geopolítico com a ação militar da Rússia na Ucrânia poderá afetar negativamente ações de companhias listadas na B3 que dependem do trigo e do milho como matéria-prima, avalia a corretora Ativa Investimentos, nesta quinta-feira (24).

A companhia cearense M. Dias Branco (MDIA3), maior fabricante de massas e biscoitos do Brasil, pode ser uma das prejudicadas na Bolsa. O papel acumula baixa de 6,93% neste ano e terminou, ontem, cotado a R$ 23,75. Em 52 semanas, a ação já oscilou entre uma mínima de R$ 21,73 e uma máxima de R$ 33,93.

“A M. Dias Branco, que depende da importação de trigo, assim como a Santa Amália, marca de massas e biscoitos recentemente adquirida pela Camil (CAML3), deverão sentir efeitos negativos advindos das altas do trigo”, diz a nota assinada por Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa e Pedro Serra, head de research.

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Eles analisaram que os potenciais impactos da crise da Ucrânia podem ter ramificações até mesmo na bolsa brasileira, afetando ações de alimentos (MDIA3, JBSS3, BRFS3, CAML3, ABEV3), com o aumento do custo dos insumos, e produtores agrícolas (SLCE3, AGRO3), com um efeito positivo, como o aumento do preço de milho, e um negativo, no caso do encarecimento dos fertilizantes.

Na avaliação dos analistas, um conflito bélico na Ucrânia afeta as safras agrícolas do país europeu com efeitos diversos ao redor do mundo, nomeadamente nos preços de trigo, milho e fertilizantes agrícolas. No Brasil, o aumento do preço do trigo, que já vem sendo impulsionado pelas notícias do conflito ucraniano, poderá afetar negativamente empresas listadas na bolsa, destacam Sanchez e Serra.

Fertilizantes

Já a alta do milho, impulsionado pelo conflito e pela estiagem no sul do Brasil, pode ser favorável para empresas que produzem e exportam esses grãos, como a SLC Agrícola (SLCE3) e a Brasil Agro (AGRO3), acrescentam. Por outro lado, empresas compradoras de milho como BRF (BRFS3), Seara (JBSS3) e Ambev (ABEV3) deverão sentir impactos negativos em seus resultados, segundo a Ativa.

“Para além da distorção nos preços de trigo e milho, a crise ucraniana pode também desencadear efeitos adversos no mercado de fertilizantes de forma direta e indireta. Direta porque um potencial conflito pode reduzir as exportações de fertilizantes ucranianos e já vem afetando fábricas de fertilizantes, que tiveram as operações temporariamente paralisadas na região por motivos de segurança”, comentam os analistas.

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Eles ressaltam ainda efeitos para o mercado de gás e um maior risco do encarecimento dos fertilizantes. “Como mais de 40% do gás consumido na Europa é proveniente da Rússia, o agravamento da crise pode levar aumentos no preço do gás natural. Por sua vez, o gás natural é o principal insumo utilizado na produção de fertilizantes nitrogenados, o que tende a aumentar o preço desses produtos, após um ano de alta significativa para os fertilizantes em 2021″, cita a nota.

Para a Ativa Investimentos, o preço dos fertilizantes traz em risco de médio prazo para as empresas listadas do agronegócio no Brasil, mas a corretora faz uma ressalva. “Vale lembrar que a volatilidade dos fertilizantes não costuma ter efeito de curto prazo no resultado dessas empresas, uma vez que elas costumam fazer a compra desses produtos com bastante antecedência. Atualmente, empresas como a SLC Agrícola e a Brasil Agro só teriam seus resultados significativamente impactados por essa volatilidade caso ela persistisse por um período mais longo”, observam.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.