Ações do agro se recuperam em dia de queda do Ibovespa

Em Chicago, trigo termina o dia com forte alta e preços da soja recuam, influenciados pela expectativa de aumento da área plantada nos Estados Unidos

Painel de cotações da B3
24 de Fevereiro, 2022 | 07:12 PM

Bloomberg Línea — Praticamente todas as ações ligadas ao agronegócio iniciaram o pregão desta quinta-feira em queda. Com exceção da SLC (SLCE3), que se aproveitou da valorização das commodities no mercado internacionais, todas as demais passaram boa parte do dia sob ameaça dos efeitos que o conflito entre Rússia e Ucrânia ainda podem provocar. Contudo, ao longo do dia o mercado conseguiu identificar quais papéis estavam mais expostos aos problemas do leste europeu e o cenário mudou.

A maior queda entre as empresas do agro ficou por conta da BRF (BRFS3). Dona das marcas Sadia e Perdigão, a companhia atua no mercado externo na exportação de aves e suínos e tem na Rússia um importante cliente. O país havia deixado de importar carne suína do Brasil há alguns anos, mas estava retomando as compras nos últimos meses, especialmente depois de a China ter reduzido as importações do Brasil. Diferente da concorrente JBS (JBSS3), que também registrou perdas, mas em patamares menores, a BRF não tem a carne bovina como um produto para diversificação de riscos.

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Na ponta importadora, a M.Dias Branco registrou a segunda maior queda do dia entre as ações do agro. A empresa depende da importação do trigo e, mesmo que não sofra com o desabastecimento que ameaça a Europa e parte da Ásia, certamente terá que lidar com o aumento dos seus custos, diante da forte valorização dos preços dos cereal no mercado internacional (veja abaixo).

No mercado de commodities, o destaque do dia ficou por conta do trigo. Já durante a madrugada de ontem, os preços atingiram o limite de alta da bolsa de Chicago e permaneceram nesse patamar até meados da tarde. No fim do dia, os preços perderam um pouco do fôlego, mas ainda assim terminaram o pregão desta quinta-feira com fortes ganhos. O vencimento março fechou cotado a US$ 9,25 por bushel, com valorização de 5,68%.

Ucrânia e Rússia são dois importantes produtores de trigo e abastecem boa parte da demanda da Ásia e da Europa. O sentimento do mercado é que o conflito no leste europeu possa trazer problemas de abastecimento aos consumidores. Apesar de grande consumidor, o Brasil compra a maior parte do trigo que necessita da Argentina. Na prática, o país não correria grandes riscos de ficar desabastecido, mas terá que ligar com o aumento do preço no mercado internacional, o que certamente provocará impactos na inflação.

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Ainda em Chicago, depois de registrar uma forte alta ainda durante a madrugada, o preço da soja terminou o dia em queda, em um movimento de realização de lucros e também pressionado pela primeira estimativa de área plantada para safra 2022/23, divulgada hoje pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O vencimento março terminou o dia com perdas de 0,79% a US$ 16,61 por bushel.

No caso do milho, as cotações terminaram a quinta-feira mistas. Durante a madrugada, as cotações do cereal chegaram a atingir o limite de alta da bolsa de Chicago, mas foram recuando ao longo do dia em um movimento de realização de lucros por parte dos operadores do mercado. Com isso, os contratos com vencimento mais curtos subiram. O vencimento março avançou 1,17% a US$ 6,91 por bushel e as entregas para maio subiram 0,66% a US$ 6,85 por bushel. Já os vencimentos mais longos encerraram o dia em queda.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.