Se você está obcecado com a inflação, abrace as commodities

Interrupções na oferta de todos os insumos elevaram os preços dos produtos; investidores buscam proteção contra aumentos

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Bloomberg — Os investidores estão injetando mais dinheiro em fundos de commodities do que em qualquer outro momento da última década, atraídos pela inflação em alta e um mercado de futuros que oferece grandes lucros.

Problemas na oferta de tudo – de alumínio a petróleo e grãos – elevaram os preços das matérias-primas a um recorde, ao mesmo tempo em que levam os mercados para um backwardation, onde as ofertas de curto prazo valem mais. Isso permite que os investidores registrem retornos ao vender contratos à vista e comprar contratos com data posterior a preços mais baixos.

O dinheiro inundou o setor de commodities à medida que os gestores de fundos aproveitam a oportunidade e buscam uma proteção contra o aumento dos preços ao consumidor mais rápido em décadas. O Citigroup (C) estima que o dinheiro no varejo e na área institucional do setor esteja em cerca de US$ 700 bilhões, o maior desde pelo menos 2007. Isso também pode alimentar ainda mais o rally.

O enorme fluxo ocorre no momento em que as apostas de inflação e taxas de juros agitam os mercados mais amplos e marcam uma reviravolta para fundos de índices que se mostraram notoriamente não lucrativos quando o último boom de commodities desandou na década de 2010. Na época, a baixa demanda e a alta oferta oferta levaram muitos preços à vista a receber grandes descontos, deixando os investidores expostos a perdas ao avançar os contratos.

O backwardation é “um forte vento favorável para o mindset do investidor”, disse Jason Bloom, chefe de estratégia de renda fixa e alternativas de ETF da Invesco, que teve acúmulo de US$ 1,8 bilhão em seus maiores produtos de commodities cruzadas negociados em bolsa este ano. “Pela primeira vez em 14 anos, as pessoas perceberam que ‘caramba, a inflação é um problema’”.

Como exemplo do quanto as curvas futuras são atrativas, commodities como o petróleo bruto podem trazer retornos mensais de mais de 3% ao avançar as posições que expiram em um mês, mesmo que os preços definitivos não mudem. Mercados como o de alumínio, que passaram a maior parte da última década em contango – processo oposto ao backwardation – também estão se mostrando atrativos para investidores famintos por rendimentos, principalmente porque a inflação prejudica os retornos de outros ativos.

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Isso está gerando mais conversão de dinheiro em commodities, de acordo com Ryan Issakainen, vice-presidente sênior da First Trust Portfolios.

“As perspectivas mudaram e as conversas que temos giram em torno de ‘vamos reconsiderar como isso fica em uma carteira’”, disse. “De onde o capital deve ser retirado se vamos fazer uma alocação em commodities? Das ações, dos títulos ou de outro lugar?”

As commodities também foram impulsionadas recentemente, já que a crise na Ucrânia desperta preocupações sobre possíveis interrupções no abastecimento. A Rússia é uma importante fonte de metais, incluindo alumínio e níquel, e grande produtora de petróleo e gás, além de ser peso pesado em trigo. A Rússia, que negou a intenção de invadir a Ucrânia, recebeu sanções ocidentais iniciais limitadas após a escalada das tensões.

Os fundos de commodities negociados em bolsa agora detêm mais de US$ 21 bilhões, maior valor desde pelo menos 2007, segundo dados compilados pela Bloomberg. O Global Tactical Commodity Fund da First Trust chegou a um recorde de US$ 2,6 bilhões ao trazer mais dinheiro este mês.

Contudo, esse rápido crescimento traz riscos. Rendimentos positivos não são muito úteis quando um mercado entra em colapso de repente (como é comum para commodities).

Grandes fluxos também podem deixar os fundos com grande parte dos contratos em um mercado, o que possivelmente pode dificultar a entrada e saída de posições sem afetar os preços. Por exemplo, os dois ETFs de commodities da Invesco detêm cerca de 25% de participação aberta na gasolina Nymex de dezembro, segundo dados e números no site da empresa.

Isso ocorre em parte porque o setor tende a seguir os dois principais índices de commodities – o S&P GSCI Index e o Bloomberg Commodity Index. Mas a natureza sistemática desses investimentos significa que os fluxos podem aumentar tão rapidamente que correm o risco de perturbar os mercados, como aconteceu quando as apostas do Fundo de Petróleo dos Estados Unidos contribuíram para o caos do petróleo em 2020.

Os fundos não estão muito preocupados por enquanto, mesmo com milhões de dólares sendo injetados em commodities todos os dias.

“Não estamos nem perto do que consideramos ser preocupações com a capacidade”, disse Bloom. “Espero que tenhamos esse problema em um ano ou dois. Eu diria que, de um modo geral, ainda há uma grande parte da comunidade de investimentos que está subinvestindo em commodities”.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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