Percepção do risco eleitoral no Brasil diminuiu, dizem gestores

Representantes da SPX, Verde e Lumina falaram sobre implicações de eventual vitória de Lula em outubro

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São Paulo — A percepção do risco eleitoral melhorou um pouco e contribui para a valorização dos ativos brasileiros neste começo de 2022, na avaliação de nomes influentes da indústria de fundos de investimento, reunidos em uma conversa durante evento promovido pelo BTG Pactual, nesta quarta-feira (23).

  • “Aquele risco de cauda que estava sendo previsto para as eleições no Brasil, isso me parece que ele está sendo afastado. A gente tinha essa percepção no mercado de que uma eleição polarizada entre o Lula e o Bolsonaro iria trazer uma piora, seja institucional, seja econômica, enfim, que iria levar a uma deterioração do país. Essa percepção está ficando um pouco mais afastada. Em todos os discursos, o que tenho escutado de Lula é que teríamos alguma responsabilidade fiscal à frente”, avaliou Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX
  • “O que foi, entre aspas, ‘vendido’ para a população brasileira nos governos Temer e Bolsonaro, que fizeram reformas importantíssimas, como o teto [de gastos], a trabalhista, a previdenciária, e outras micro, era que o crescimento viria, mas infelizmente não veio por várias razões. Para o conceito de esquerda, o Estado é o motor desenvolvimentista do PIB. Dado que o Brasil não cresce há tantos anos, o mercado está olhando uma eventual vitória do Lula como algo que o Estado vai gastar mais”, disse Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset
  • “Uma boa e uma má notícia para a Faria Lima: a boa é que concordo com a visão de consenso de que a chance de um eventual governo Lula ser pragmatista e ‘centrista’, aspas, aspas, aspas, é enorme. A má: acho que as pessoas esqueceram o que isso significa na prática no contexto de um governo do PT, com coalizão, com forças de centro do Congresso e adjacentes. O caso base é um governo ruim, mas não péssimo na macro, e muito bagunçado na micro”, comentou Daniel Goldberg, CIO da Lumina Capital

Para desenvolver seu raciocínio, os gestores conduziram o debate com abordagens próprias, mas que têm em comum a premissa de que o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deve ser o vice da chapa do ex-presidente Lula, uma escolha com potencial de rachar a esquerda e o PT, que hostilizava as gestões do ex-tucano. Ainda sem partido, Alckmin analisa o plano de se filiar ao PSB, comandado pelo ex-ministro Gilberto Kassab.

“Com o Lula indo mais ao centro, a grande notícia é a vice-presidência do Geraldo Alckmin. Ninguém acredita que o Alckmin embarcaria num projeto de governo se não fosse pensando em coisas razoáveis, sem cometer as loucuras como alguns parceiros e vizinhos nossos fizeram ao longo dos últimos anos”, citou o gestor da SPX, em alusão à Argentina, que deu um novo calote em credores em 2020.

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Por sua vez, o gestor da Verde citou dados do endividamento público dos dois governos de Lula (2003-2010) para pontuar um precedente da gestão do ex-presidente na melhora do quadro fiscal do país. “O governo Lula assumiu em 2003 com uma dívida bruta menos reservas de 60% do PIB e entregou para Dilma um dívida bruta menos reservas de 40% do PIB. Não será negado que ele não foi irresponsável”, afirmou Stuhlberger.

Já Goldberg chamou a atenção para a necessidade de uma discussão sobre ganhos de produtividade ao longo prazo para o país com a execução de uma nova agenda para a microeconomia no caso de uma vitória de Lula. Na sua avaliação, o governo Bolsonaro perdeu oportunidades de avançar de forma mais impactante nesse tema, com exceção do Banco Central que está conseguindo implantar o Pix e planeja agregar novas funcionalidades ao sistema instantâneo de pagamento, como a possibilidade de contratar crédito.

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“Do ponto de vista de um eventual governo Lula, em especial se ele ganhar no primeiro turno, eu fico com muito menos medo desses assessores escrevendo contrassensos no jornal e fico com mais medo em relação à agenda da reforma trabalhista, flexibilidade dos contratos no mercado de trabalho, agenda de flexibilização do mercado financeiro, agenda do câmbio, que é importante, agenda do mercado de infraestrutura de atrair capital privado, e não o resgate da história do Estado como indutor, vide a trombada que tivemos no setor de energia”, comentou o gestor da Lumina.

Mediador do debate, o sócio sênior do BTG e futuro presidente do conselho de administração da instituição financeira, André Esteves também abordou o cenário eleitoral tanto durante o painel sobre temas macroeconômicos com os três gestores e, anteriormente, em conversa com o jornalista William Waack. O banqueiro, que volta aos holofotes na nova função no banco a partir de abril, evitou nomear o candidato que terá seu voto, apesar de ter sido questionado diversas vezes, mas pregou contra o populismo na eleição presidencial de outubro.

“O Brasil vai eleger um político que vai conseguir se comunicar com o povo, alguém que o povo vai se identificar naquele momento sociológico brasileiro. O que a gente tem que evitar? Temos de ajudar esse personagem a conduzir a nossa sociedade sem populismo, sem mentira, sem repetir erro básico, sem mentir para a população que confiou e criou esperança para ele. Como sociedade, estamos com mais condições do que em qualquer outro momento de cobrar, de entender, de verificar, de questionar esse tipo de direção”, afirmou Esteves.

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