Marfrig tem crédito de US$ 200 mi engavetado em meio a dúvidas sobre desmatamento

Braço privado do BID não conseguiu concordar com empresa sobre metas ambientais e termos financeiros, segundo fontes

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Bloomberg — Um empréstimo de US$ 200 milhões para a Marfrig Global Foods SA (MRFG3) se desfez em meio à crescente preocupação de que o segundo maior produtor de carne bovina do Brasil esteja alimentando o desmatamento na Amazônia.

O braço do setor privado do Banco Interamericano de Desenvolvimento engavetou um plano para liderar um empréstimo sindicalizado após uma série de contratempos. Primeiro, uma votação sobre o financiamento foi adiada de dezembro para maio, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto. O banco não conseguiu concordar com a empresa sobre as metas ambientais, bem como os termos financeiros do empréstimo, disse uma das pessoas. Agora, o empréstimo está inativo, segundo o site do BID, e não será mais votado.

Grupos ativistas, incluindo Amigos da Terra, começaram a pressionar o banco a abandonar o empréstimo no ano passado, alegando que a linha de crédito do BID violaria as políticas de sustentabilidade do banco. Por mais de uma década, a Marfrig e seus maiores rivais, como a JBS SA (JBSS3), se comprometeram a banir de suas cadeias de suprimentos animais nascidos ou criados em terras desmatadas.

Ambas as empresas dizem que estabelecem os mais altos padrões para seus fornecedores, mas uma investigação da Bloomberg publicada no mês passado mostrou como o gado passa por um processo de “greenwashing” em relação à origem dentro de um sistema legal tão cheio de brechas que promotores, ambientalistas e até mesmo fazendeiros consideram uma farsa. O desmatamento na Amazônia está agora no maior patamar em 15 anos, com mais de 70% das terras desmatadas ilegalmente se transformando pastagens para gado.

Leia mais: Como a carne grande está alimentando a destruição da Amazônia

O empréstimo, no qual US$ 43 milhões viriam do BID Invest e US$ 157 milhões seriam sindicalizados, foi anunciado em abril de 2021 para financiar o Plano Verde+ da Marfrig, que visa fortalecer a sustentabilidade de sua cadeia produtiva de carne bovina.

Outro lado

A Marfrig em e-mail confirmou que o empréstimo não está mais em análise e não comentou mais sobre o caso. O BID disse por e-mail que “chegou ao acordo mútuo de que as condições não eram ideais para avançar com o empréstimo” depois de realizar uma profunda due diligence do Verde+.

“Esperamos que a decisão do BID Invest de retirar o empréstimo da Marfrig envie um sinal para outros bancos”, disse Kari Hamerschlag, vice-diretora de alimentos e agricultura da Friends of the Earth US. “Bancos públicos de desenvolvimento não podem continuar financiando operações de pecuária industrial como a Marfrig, que impulsiona a crise climática com desmatamento, perda de biodiversidade e emissões de metano no Brasil e no mundo.”

O título de 2031 da Marfrig foi negociado 0,12 centavo a menos nesta quarta-feira, a 88,18 centavos de dólar, com rendimento de 5,65%. Desde o início do ano, as notas caíram 7,4 centavos.

--Com a ajuda de Eric Martin.

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